19 dezembro 2014

Carta ao Menino Jesus

Meu Menino Jesus:

É a primeira vez que te escrevemos, por isso desculpa-nos o atrevimento. Sabemos que agora se escreve ao Pai Natal, que era um bispo turco, que se chamava Nicolau, senhor de barbas, risonho, simpático e bonacheirão. É rico e bem-sucedido, tem uma grande fábrica de brinquedos, com um complexo e organizado sistema de transportes e, por isso, fica melhor ao espírito de querer tudo de hoje.

Mas, neste ano de memória e identidade, dirigimo-nos a Ti porque era ao menino da manjedoura e quase despido, que os nossos avós dirigiam os pedidos, apesar da mão cheia de nada que recebiam em criança.

O Natal parecia durar tanto tempo e era muito feliz. Todos se juntavam na casa dos avós e todos, mesmo todos, faziam uma grande festa… eram primos, tios, irmãos, todos misturados, riam e brincavam… Os garotos cá fora a correr, nem sentiam o frio! Apenas as caras coradas e o nariz vermelho!

As mulheres todas atrapalhadas a preparar as rabanadas, as bolas e os doces de chila, os bolos de bacalhau, os figos secos, as amêndoas e as nozes, aos sabores e os cheiros misturados, que sempre nos faziam água na boca…

Os homens que já tinham ido buscar os troncos para a fogueira do adro, conversavam com grandes gargalhadas junto à lareira…
E quando o relógio avançava, jogavam ao rapa, ao par e ao pernão e sempre ganhavam rebuçados que era uma boa prenda. As outras prendas se havia eram muito pequeninas, não como agora, mas eram mais sentidas, mais queridas, como uns sapatos que tinham de durar até ao Natal do próximo ano! Agora as exigências são outras! Nós queremos, queremos e tudo nos dão!

E a missa do galo à espera na escuridão da noite, ninguém se queixava do frio ou do cansaço… todos cantavam e beijavam o Menino com uma emoção tão grande que nem cabe aqui neste pequeno texto.
No presépio da Igreja e à Tua volta construíam um mundo que tinha um tapete de musgo e era perfeito de simplicidade, ternura e harmonia. A simples cabaninha do Menino Deus e Salvador reinava sobre um mundo perfeito de pastores e ovelhas, iluminado pela grandiosidade da estrela de Natal.

Fazemos-te um pedido: ajuda-nos a conservar as coisas boas que temos, como, o espírito de comunidade, para termos sempre alguém ao pé de nós na alegria e na tristeza, e sermos uma grande família.
Não esqueças também o habitual: a saúde, a paz e a prosperidade para todos.

Feliz Natal com memória e identidade!

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