À missa dava-se-lhe grande importância e para o dia da festa
convidava-se excepcionalmente um pregador de nomeada, que já tivesse dado
provas da sua capacidade de eloquência e que soubesse tocar a alma das pessoas.
Durante muitos anos o Padre Basílio, que paroquiou todas as 4 freguesias da
zona da Poça, foi o pregador preferido das multidões. Ele arrancava lágrimas ao
povo, ia buscar exemplos à fé e ao quotidiano do povo comum, episódios reais da
vida. Por isso a sua fama chegou a lugares distantes, a cujas festas veio a ser
convidado. Grande padre e grande homem, que os de 80/85 anos dele certamente se
recordarão. A missa por vezes era acompanhada por um dos músicos da Banda, que
concedia à mesma uma elevação de louvores a Deus, que juntamente com as vozes
era lindíssima!
As barracas de comes e bebes já funcionavam, e estas
confeccionavam um excelente prato de feijão branco com um molho muito apurado,
muito saboroso, que incluía carnes frescas de porco e que era uma delícia! O
cheirinho agradável que se desprendia destas era um convite, entranhava-se-nos
nas narinas e aguçava de logo o apetite. Recordo esses pratos, que me ficaram
na memória.
Os tendeiros exibiam a sua variada mercadoria. E os miúdos
empurravam as mães para estas, exultando de admiração ao descobrirem brinquedos
que lhes despertara a cobiça. E tanto insistiam com as mães que acabavam por
ceder aos desejos dos filhos, mas só se podiam.
Ao cair da tarde chegavam grandes multidões de romeiros que
vinham preencher a área onde decorria a romaria. E era um verdadeiro delírio,
convivia-se, confraternizava-se; era o encontro com velhos amigos e conhecidos,
e na barraca ou nas tabernas selava-se esse encontro com o copo do bom vinho da
região. Por momentos esqueciam-se os problemas e as lutas do dia-a-dia. E
solidários nesta fraternidade, comungando do feliz momento, a alma enchia-se
com os diálogos trocados e a franqueza reactivava laços de confirmação de
amizade.
As melancias e os melões casca de carvalho da Vilariça, que
produzia em quantidade e qualidade, que eram ambos uma delícia, vinham ocupar
lugar perto da igreja. "Oh patrão, escolha-me aí um dos bôs. Para comer
já!"
Naquele ano de 1950 duas famosas bandas foram convidadas: a
Banda de Música de Custóias - S. João da Pesqueira e a Banda de Música de
Favaios - Alijó. Estas agradavam imenso e havia aquelas criaturas que não
desgrudavam de parmenecer junto das bandas, ouvindo com redobrava atenção e
prazer. Estas, nesse ano vieram a despicar-se galhardamente, e com verdadeiro
brio primaram no toque, tocando músicas populares. O povo pareciam enxames de
abelhas, não havia espaço por onde furar, novos e velhos, aguçados pela
animação, movimentavam-se, dançavam loucamente. Que raio! Em dia de festa não
há tristezas!
O fogo-de-artifício era e é importante. A primeira descarga
vinha lá para a meia-noite. Vinham os morteiros à frente, com o seu estrondoso
estrépito, seguindo-se as girândolas de belas estrelinhas de muitas cores e o
céu enchia-se de assobios e de muita luz; seguiam-se outros foguetes e
girândolas de grande potência de fogo que pelos seus ecos parecia que a abóbada
celestial iria desabar sobre o povo. E tudo parava para olhar com prazer o
fogo-de- artifício, que terminava com fortíssimos morteiros. E recomeçava a música
e o baile das multidões.
Pelas três horas da manhã o povo iniciava o regresso a suas
terras, mas alguns só o faziam quando nascia o dia. E lá vinham alguns
carregados de vinho e sono, dormir em algum recanto do caminho. Eram assim,
naquele tempo, as festas de N. SRª DE SANTA EUFÉMIA - LAVANDEIRA. A MELHOR
ROMARIA DO CONCELHO DE CARRAZEDA DE ANSIÃES.
Armindo Jaime Mesquita
4 comentários:
Caro Senhor
Bem Haja
Pela forma como nos consegue transmitir a VERDADE em que acreditamos e na qual fomos criados.. ao contrário de outros renegados iluminados pelas luzes de Lisboa .. que de anjos .. se transformaram em mafarricos..
"A queda de um anjo"
com admiração agradeço
mario carvalho
A mocidade de agora,para já,nem acreditam que as coisas eram assim vividas desta maneira, com tanto entusiasmo e alegria,só a ansiedade com que se vivia a espera dessas festas.Cada um á sua maneira e conforme as possibilidades,até se faziam roupas novas para usar nessas festas.Hoje isso não tem valor,lindas são as festas metidos todos numa sala,onde a poluição não os deixa ver uns aos outros.
Obrigado pela descrição da maior romaria do concelho.um amigo que levei à festa em 2001 natural de Espanha dizia nunca ter assistido a uma tão grande manifestação de fé.Amigo eu ainda assisti a concertos nos coretos e sempre gostei como ainda gosto dessa musica. A procissão no tempo presente é diferente do ano de 1950, quiçá para melhor.
Caro Armindo:Na última visita feita a Carrazeda,cheguei à conclusão de que nos conhecemos há 60 anos.É do Seixo como eu,é filho do Zé Luís Alfaiate,que me fez uns fatitos e cuja casa tinha uma varanda muito soalheira.Eu sou filho do Joaquim Matos e lembro-me dos seus desenhos.Estarei errado?
João Lopes de Matos
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