"A Linha do Tua não tem interesse relevante dos pontos de vista arqueológico, arquitectónico, artístico, etnográfico, científico e técnico e industrial que justifiquem a sua classificação” . Eis a conclusão do Igespar (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico que serviu de base à decisão de arquivamento do processo, oficializado por um despacho publicado em Diário da República, interposto por algumas organizações para reabilitar a linha e parar a construção da barragem, Continua: as estações têm um valor arquitectónico reduzido”. Do ponto de vista artístico, a linha “não representa qualquer valor singular digno de referência”. Relativamente ao interesse etnográfico pode “o património imaterial ser preservado em núcleo museológico específico”. O interesse técnico e industrial da via-férrea não tem “um valor singular que implique a sua preservação material”, porque se foi uma obra “muito difícil, dado o declive extremamente elevado das encostas rochosas”, os métodos utilizados não foram “diferentes dos normais para a época”.
No que refere à importância económica da reabertura entre Tua e Cachão para fins turísticos e como meio de transporte público, conclui-se que “são demasiado elevados os problemas de segurança e os encargos para os resolver." Daqui
Com o tipo de argumentação utilizado por estes senhores está institucionalizado o "bota abaixo" ou melhor, a licença para inundar. Sim, alagar fica mais barato que recorrer ao "bulldozer", e é mais ecológico: poupa-se energia não renovável. Atente-se ao aumento do brilhantismo da decisão porque tem subjacente uma medida ambiental. Que seria de nós sem estes minutos de atenção desta gente urbana e bem pensante? Poder-se-ia concluir que no deve e haver da construção da barragem pesava mais a sua edificação face à preservação da linha atendendo ao superior interesse do país, mas não! Os valores atribuídos à Linha do Tua por estes senhores são mais uma lição pragmática e escorrida de lucidez cultural, científica e particularmente económica, estranhamente ou não, é esta a sua principal preocupação: a via-férrea não tem qualquer valor analisadas todas as perspectivas, resumidamente, não vale um "tusto".
Do ponto de vista arquitectónico, técnico e industrial subiu-se ao nível do Centro Comercial: para quê a sobriedade, se temos o néon, o plástico e o cimento; se os métodos de construção foram a pá e o pico, difíceis sim, mas "normais para a época", porque é que dali não saiu o génio da criação de uma máquina de construção revolucionária, à boa maneira de um filme de Hollywood. Do artístico, que interessa a simplicidade de processos se já construímos grandes autoestradas pejadas de inúmeras obras de "arte". Do interesse etnográfico, que nos interessa a construção se fica a imaterialidade e a alheira de Mirandela. Quando se cultiva o "ermamento", a desertificação humana, quiçá importe apagar todos os vestígios da presença humana para que o espaço seja efectivamente selvagem e adequado à "aventura citadina" do jipe. A nota pitoresca, mesmo de gargalhada é a referência aos enormes gastos da requalificação, pois os problemas de segurança e os encargos para o resolver são insolúveis e impeditivos a um maior lucro.
Já agora bem hajam pelos esclarecimentos e felicitações pela clarividência para os negócios...
9 comentários:
http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/barragem-no-foz-tua-pode-levar-a-desclassificacao-da-paisagem-pela-unesco_1508666
Barragem no Foz Tua pode levar a desclassificação da paisagem pela UNESCO
22.08.2011 - 15:51 Por Lusa
Francisco José Viegas (DR)
O partido ecologista “Os Verdes” alertou hoje para os impactos da construção da barragem do Foz Tua, admitindo que possam levar a UNESCO a baixar o grau de património da Humanidade da região ao Alto Douro Vinhateiro.
Os Verdes reuniram-se hoje com o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, com o “objectivo de fornecer uma série de elementos relativos à barragem do Foz Tua”, quanto aos impactos no turismo e desenvolvimento da região, mas principalmente quanto aos efeitos que a obra pode ter na paisagem do Alto Douro Vinhateiro, uma região classificada como património mundial da humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
“Os impactos da construção da barragem sempre foram escondidos pelo anterior Governo e que poderão levar a UNESCO a desclassificar aquela paisagem”, alertou Manuela Cunha, da comissão executiva daquele partido, aos jornalistas no final da audiência.
Manuela Cunha explicou que “a central de produção elétrica está mesmo numa das margens do douro, um edifício com mais de 70 metros de comprimento e com a altura equivalente a sete andares”, o que significa que ao avançar com a obra, “Portugal não está a aceitar as regras da UNESCO”.
A deputada salientou que “há novos documentos [alguns fornecidos hoje a Francisco José Viegas], que provam que, ao contrário do que defendia o anterior Governo, a barragem interfere com a paisagem classificada. Esses documentos estão escondidos da UNESCO”.
Além disso, para o PEV, “os ganhos energéticos da barragem do Foz Tua são tão poucos e os estragos são tantos - não só os ambientais mas os estragos em termos económicos naquela região”.
“Isto não se justifica. E ainda vamos a tempo de inverter esta situação”, apelou Manuela Cunha, acrescentado que com os dados fornecidos ao secretário de Estado, “o Governo não pode dizer que não agiu por não saber o que se passava”.
A representante do partido ecologista disse que Francisco José Viegas se mostrou “muito sensível” aos temas levantados, mas “desconhecia todo este processo”.
Os Verdes abordaram ainda a classificação da Linha Ferroviária do Tua como monumento nacional, uma elevação que foi negada pelo IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico).
“Esperamos que cumpra com o papel que lhe cabe que é defender a sua dama, defender a cultura e o património cultural. O património que temos ali - a Linha do Tua e as paisagens do Vale do Tua e do Alto Douro Vinhateiro - não pode ter esta ferida”, apelou.
Um reunião com o actual Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, no próximo dia 22 de Agosto.
Tenho a expectativa que este encontro não seja só para informar os responsáveis pela pasta da cultura da situação do Tua, mas que seja o momento para uma definição clara da posição da tutela, ainda que, e "apenas", na perspectiva cultural...
Recordo aqui o que Francisco José Viegas disse, em Dezembro de 2010, a propósito do Tua e da paranóia que é este mundo em que vivemos.
Senhor Secretário de Estado da Cultura, faça-nos o favor de impedir esta paranóia...!
Ler – Livros & Leitores, nº 97 – Dezembro de 2010, p. 27
“O IGESPAR acha que a Linha do Tua não tem relevância cultural enquanto património a classificar. Ou seja, não possui “valor arqueológico, arquitectónico, artístico, científico ou tecnológico e industrial”. Provavelmente, há alguma razão nos seus argumentos. Uma parte dela ficará debaixo de água quando a EDP construir uma barragem na foz do Tua com o Douro. O IGESPAR pode decidir e dar pareceres sobre o assunto – mas devia providenciar para que não desaparecesse uma das mais belas paisagens portuguesas – que pudesse ser vista e a comover os seus visitantes. A paisagem (a do Tua incluída) é um dos mais importantes patrimónios portugueses. O betão, as auto-estradas e as barragens têm vindo a destruí-la. Os portugueses acham que a paisagem é coisa de doidos que não vivem neste mundo; o mundo deles é uma paranóia”.
http://www.linhadotua.net/3w/index.php
Construir uma barragem na foz do Tua é um ato de autêntico vandalismo, um crime de lesa pátria, um abominável desprezo pelas populações ribeirinhas e por
PORTUGAL
em
http://www.onoticiasdatrofa.pt/nt/index.php?option=com_content&view=article&id=8096:la-vida-e-feita-de-pequenos-nadasr&catid=648:edicao-335&Itemid=153
"Construir uma barragem na foz do Tua é um ato de autêntico vandalismo, um crime de lesa pátria, um abominável desprezo pelas populações ribeirinhas e por Portugal."
«A Vida é feita de pequenos nadas»
Publicado por Ana Assunção
Sexta, 19 Agosto 2011 16:00
Do texto de JAM,bem urdido,apetece-me em particular reproduzir aqui esta parte:"quando se cultiva o ermamento,a desertificação humana,quiçá importe apagar todos os vestígios da presença humana pa
ra que o espaço seja efectivamente selvagem e adequado à aventura do jipe".
Subjacente ao pensamento do autor está nitidamente a ideia de que o que provocou e continua a provocar o ermamento é a acção deliberada da administração central nesse sentido.
Quer isto dizer:quando os portugueses saíram a salto na década de sessenta,isso constituia,no fundo,aquilo que Salazar desejava,apesar de aparentemente perseguir e prender quem tentava sair.
Não.A vontade real de Salazar(e,já agora,do PCP)era a de que os portugueses ficassem,não se importando que passassem fome.A visão de Salazar e do PCP era uma visão nacionalista,no sentido de que os portugueses eram cá necessários para cá continuarem Portugal e o seu desenvolvimento.
Um parêntesis para dizer que foi graças às remessas dos emigrantes que o Estado Novo conseguiu financiar a guerra em África.
Posteriormente,não tenho conhecimento de qualquer governo ter deliberadamente tentado a desertificação do interior;pelo contrário,houve progressos nítidos nas infra-estruturas necessárias ao bem-estar e ao desenvolvimento.
Só que a economia não era capaz de gerar as condições necessárias à fixação das pessoas:as actividades tradicionais estavam,em grande medida,condenadas a desaparecerem e as actividades mais modernas,com futuro,não surgiam ,por ausência de investimento privado(e,nalguma medida,público).
Temos de reconhecer que manter nos penedos do interior a população, que inicialmente tinha e nos lugares em que as pessoas viviam,era uma tarefa talvez impossível.Impunha-se um reordenamento e um desenvolvimento mais inteligente,o que não se conseguiu fazer.E continua a ser essa a batalha a travar,em primeiro lugar,com os residentes no interior.
JLM
Dr: JLM
As suas conclusões sobre o que eu penso são, quase sempre, baseadas no preconceito ou decorrentes de uma leitura apressada. Lamento.
O que eu escrevi foi tão só que as conclusões do Igespar para legalizar as obras da EDP são ridículas.
Ao contrário do despacho, a linha não é uma construção banal, tem um belo enquadramento, é possível a sua reestruturação turística e para isso bastaria "copiar" processos semelhantes de outros países.
Estas conclusões do instituto não colheriam se ela se enquadrasse numa paisagem citadina. A força económica da EDP é um rolo compressor que abafa qualquer avaliação racional, como é visível no despacho.
Manter o interior habitado tem custos e é essa a questão: interioridade ou desistência? Tenho uma certeza, não custará tanto como o metro do Porto! As barragens não produzem riqueza local e desenvolvimento regional, a manutenção de serviços, a dinâmica turística..., sim...
E qual é a actividade económica no nosso país que não dependeu da intervenção estatal? Vá ver a população de algumas cidades médias nos meados do século e explique-me como essas aumentaram em 10, 20, 30, 40 ou 50 vezes as suas populações.
Sem investimento público mais vinte anos e o interior desaparece.
Nem é preciso grande investimento publico... basta que nao haja desinvestimento.
Primeiro retiram tudo e obrigam as pessoas a deslocar-se e depois ... dizem que não há pessoas que justifiquem..
Quantas pessoas existem no Poceirão?
E em Alcochete?
Quantas passarão a existir ? E Porquê?
Atenção .. não é adivinha.
mc
oooooooooooooooh!
artigo muito interessante
http://comunidade.xl.pt/JNegocios/b
logs/massamonetaria/archive/2011/08/25/os-ricos-querem-tomar-conta-dos-pobres-antes-que-os-pobres-tomem-conta-deles.aspx
Os ricos querem tomar conta dos pobres antes que os pobres tomem conta deles
25 Ago 2011 13:25
Colocado por: Manuel Esteves
O tema da contribuição dos ricos para o saneamento das contas públicas saltou para as páginas dos jornais com o artigo de Warren Buffet no qual o multimilionário norte-americano exortava o governo do seu país a acabar com os mimos dados aos ricos, reclamando uma “justa repartição de sacrifícios”.
Esta semana, um conjunto de 16 destacados milionários franceses seguiu o mesmo exemplo, oferecendo-se para pagar mais impostos como forma de reconhecimento por um “modelo francês e contexto europeu” de que beneficiaram e querem ajudar a preservar. Dos dois lados do Atlântico, a mensagem foi sobretudo moralista.
É sintomático que sejam os ricos a dar lições de moral e de justiça aos governos. Seja este gesto visto como uma reivindicação magnânime ou como uma irónica autorização, a imagem dos governos sai naturalmente beliscada.
Mas a questão mais relevante que esta polémica desperta é outra. Como vários economistas já alertaram, e como, de resto, os próprios milionários depressa esclareceram, o contributo dos ricos será sempre uma gota no oceânico desequilíbrio das contas públicas dos Estados.
É uma ilusão pensar que, neste contexto, é possível fazer um ajustamento orçamental desta dimensão de forma equitativa. A única forma de reduzir de forma drástica o défice das contas públicas num cenário de recessão é pelo lado da despesa. E a despesa do Estado traduz-se essencialmente em apoios sociais e serviços públicos, pelo que os cortes implicam mexer no bem-estar da maioria da população que é composta pelos menos favorecidos e pela classe média. Isso faz-se (e tem sido feito) pelo corte nos salários dos trabalhadores do Estado, pela redução das pensões dos reformados, pela diminuição das comparticipações de medicamentos dos doentes e pela limitação da oferta de serviços públicos.
Como o actual Executivo já percebeu, se é verdade que existem gorduras no Estado é por demais evidente que não é por aí que se resolve o problema do défice. A despesa que vale é a despesa que dói. Ou seja, com ou sem impostos especiais sobre os ricos, são os pobres e remediados que mais vão sofrer.
Já estão habituados, diriam os mais cínicos. E é verdade. Os milénios de história que as civilizações humanas já acumulam mostram que os pobres têm uma grande tolerância à dor. Mas também revelam que o rastilho que liga a dor à indignação pode acender-se a qualquer momento, sobretudo quando os contrastes se tornam demasiado evidentes e os desfavorecidos perdem a esperança. Daí a importância do exemplo e da discrição.
Mas, hoje, a riqueza está, mais do que nunca, à vista de todos, a televisão exibe-a todos os dias na casa dos pobres. O seu usufruto parece estar ali à mão de semear, como pensaram, iludidos, os jovens que amotinaram e saquearam Londres e outras cidades inglesas. Não ganharam nada com isso, mas assustaram.
No fundo, o que Buffet e os 16 milionários franceses fizeram foi lembrar os respectivos governos de que é preciso tomar conta dos pobres. É a velha máxima, um dia lembrada por António Guterres quando era primeiro-ministro: é preciso que os ricos tomem conta dos pobres antes que os pobres tomem conta dos ricos.
Este raciocinio não foi para todo o tempo.
No tempo de Sócrates não era assim.
É como o cata-vento...
Enviar um comentário