
Para quem viu o documentário “Pare, Escute e Olhe” em Mirandela no dia 14 de Novembro (sala cheia!) foi como levar um soco no estômago. O trabalho do realizador Jorge Pelicano, vencedor de seis prémios em dois festivais (Doc Lisboa e Cine Eco 2009) retrata uma terra que parou no tempo, isolada, pobre, resignada e arredada de uma esperança de desenvolvimento. Os protagonistas do documentário mostram uma realidade feita de necessidade e longe, muito longe de de ser escutado nos seus apelos da manutenção de uma linha de qual dependem e defendem.
São perfeitamente visíveis diversas realidades, o troço desactivado entre Mirandela e Bragança, o troço restante até Foz-Tua em processo de desactivação e em contraponto uma linha ferroviária e com sucesso na Suíça.
No primeiro, o comboio já não circula, os autocarros que vieram substituir os comboios desapareceram, e as aldeias surgem sem um único transporte público, isoladas e a caminhar para a extinção. No troço de Mirandela a Foz-Tua, três acidentes, o transporte ferroviário que não ultrapassa ao Cachão, o anúncio da construção de uma barragem no Foz Tua, encaixada num património natural e ambiental único, que ameaça o que resta. A linha ferroviária da Suíça nos moldes da do Tua e a funcionar com enorme êxito.
Todo o filme é uma metáfora do interior, pejado ele próprio de múltiplas metáforas, a mais cruel é a intercalação de imagens de um coveiro com os discursos dos políticos.
Não escapa também ao observador menos atento a demagogia de uma "espécie" de políticos locais que defendendo a "voz do dono" se esquecem das populações que os elegeram.
O autarca que agora defende a inevitabilidade da destruição da linha e é confrontado pela sua defesa intransigente há bem pouco tempo atrás. O deputado bragançano que se espanta pela acérrima defesa de um punhado de gente, quando, esquecido, diz que ninguém se interessou pelo encerramento até Bragança; a modos de "não há até Bragança encerre-se o restante". Do político que não sabe responder ao apelo da senhora idosa que lhe pede para comprar os medicamentos de que necessita, pois, carente e isolada, não tem dinheiro para alugar o táxi e chegar à farmácia mais próxima.
“É uma viagem por um Portugal profundo e esquecido, conduzido pela voz soberana de um povo inconformado, maior vítima de promessas incumpridas dos que juraram defender a terra”, explicou Jorge Pelicano, autor do filme.
Um filme obrigatório para todos os bragançanos verem e alguns acordarem do torpor das falsas promessas que os anestesiam.
Para quem não viu "de borla" em Mirandela, em Janeiro passa nos cinemas.

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