22 novembro 2009

Páre, escute e olhe

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Para quem viu o documentário “Pare, Escute e Olhe” em Mirandela no dia 14 de Novembro (sala cheia!) foi como levar um soco no estômago. O trabalho do realizador Jorge Pelicano, vencedor de seis prémios em dois festivais (Doc Lisboa e Cine Eco 2009) retrata uma terra que parou no tempo, isolada, pobre, resignada e arredada de uma esperança de desenvolvimento. Os protagonistas do documentário mostram uma realidade feita de necessidade e longe, muito longe de de ser escutado nos seus apelos da manutenção de uma linha de qual dependem e defendem.
São perfeitamente visíveis diversas realidades, o troço desactivado entre Mirandela e Bragança, o troço restante até Foz-Tua em processo de desactivação e em contraponto uma linha ferroviária e com sucesso na Suíça.
No primeiro, o comboio já não circula, os autocarros que vieram substituir os comboios desapareceram, e as aldeias surgem sem um único transporte público, isoladas e a caminhar para a extinção. No troço de Mirandela a Foz-Tua, três acidentes, o transporte ferroviário que não ultrapassa ao Cachão, o anúncio da construção de uma barragem no Foz Tua, encaixada num património natural e ambiental único, que ameaça o que resta. A linha ferroviária da Suíça nos moldes da do Tua e a funcionar com enorme êxito.
Todo o filme é uma metáfora do interior, pejado ele próprio de múltiplas metáforas, a mais cruel é a intercalação de imagens de um coveiro com os discursos dos políticos.
Não escapa também ao observador menos atento a demagogia de uma "espécie" de políticos locais que defendendo a "voz do dono" se esquecem das populações que os elegeram.
O autarca que agora defende a inevitabilidade da destruição da linha e é confrontado pela sua defesa intransigente há bem pouco tempo atrás. O deputado bragançano que se espanta pela acérrima defesa de um punhado de gente, quando, esquecido, diz que ninguém se interessou pelo encerramento até Bragança; a modos de "não há até Bragança encerre-se o restante". Do político que não sabe responder ao apelo da senhora idosa que lhe pede para comprar os medicamentos de que necessita, pois, carente e isolada, não tem dinheiro para alugar o táxi e chegar à farmácia mais próxima.
É uma viagem por um Portugal profundo e esquecido, conduzido pela voz soberana de um povo inconformado, maior vítima de promessas incumpridas dos que juraram defender a terra”, explicou Jorge Pelicano, autor do filme.
Um filme obrigatório para todos os bragançanos verem e alguns acordarem do torpor das falsas promessas que os anestesiam.
Para quem não viu "de borla" em Mirandela, em Janeiro passa nos cinemas.
(1) foto de Leonel de Castro.
ligação para o blogue http://pareescuteolhedoc.blogspot.com/

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