18 outubro 2009

Jorge Pelicano alerta para abandono da linha do Tua

O documentário "Páre, Escute, Olhe" (2009), do realizador Jorge Pelicano, que estreia domingo no festival Doclisboa, constitui "uma reflexão sobre o despovoamento e desertificação" provocados pelo encerramento progressivo da linha ferroviária do Tua, em Bragança.

Concluído este ano, o filme do mesmo realizador do premiado documentário "Ainda há Pastores?" (2005) estreia domingo, às 23:00, na sala 2 do Cinema Londres, em Lisboa, inserido na VII edição do Doclisboa - Festival Internacional de Cinema, e a exibição repete-se na segunda-feira, dia 19 de Outubro, pelas 18:30, no Grande Auditório da Culturgest.

Seleccionado para a competição nacional do festival, "Páre, Escute, Olhe" tem como objectivo "pôr o tema do Tua na ordem do dia" porque "o documentário pode ser uma arma que mostra as situações que não estão na ordem do dia, para que as pessoas reflictam sobre elas", disse à Agência Lusa o realizador.

O rio Tua nasce a cerca de dois quilómetros acima da cidade de Mirandela, na junção dos rios Rabaçal e Tuela, e a linha ferroviária do Tua ligava inicialmente a foz à cidade de Bragança.

A ligação entre Bragança e Mirandela foi desactivada em Dezembro de 1991, e o realizador quis mostrar como "essa sentença acentuou as assimetrias entre o litoral e o interior de Portugal".

O documentário mostra as sucessivas promessas políticas para o apoio ao desenvolvimento da região, o mau estado da linha ferroviária, os acidentes, e a vida das populações locais servidas pelo centenário caminho-de-ferro.

Para Jorge Pelicano, este filme é "uma metáfora" para o despovoamento e a desertificação do interior do país: "As linhas são encerradas porque as pessoas se vão embora".

"Eu também queria mostrar a incúria de que foi alvo a linha do Tua ao longo dos últimos 20, 30 anos por parte dos responsáveis políticos e os responsáveis pelas empresas que a gerem. Encontrámos a linha em muito mau estado, e daí os quatro acidentes nos últimos dois anos, que provocaram mortos".

O filme está dividido em duas partes: a primeira sobre a situação da parte desactivada da linha, entre Bragança e Mirandela, com a visível degradação do troço, o abandono, a pobreza dos poucos habitantes que vão ficando.

A segunda revela o quotidiano do troço ainda activo, entre Carvalhais, Mirandela e Cachão, cujas populações usam o transporte ferroviário para ir trabalhar, fazer compras, ir ao médico, manifestando-se no filme contra o seu encerramento.

"Fiz este documentário com espírito de missão e espero que a situação seja reavaliada porque é um crime acabar com aquele património histórico", criticou o realizador, acrescentando que a decisão mais recente do governo em construir a barragem Foz Tua "vai acabar de vez com a linha".

Para o realizador, é muito significativo mostrar este filme no Doclisboa porque "é um festival importante e com muita visibilidade para passar este apelo à reflexão sobre o futuro do país".


Destak/Lusa

11 comentários:

Anónimo disse...

Rio Tua nasce em Espanha,penetrando em Portugal por terras do concelho de Vinhas, onde é designado pelo nome de Tuela e como tal conhecido pelos pescadores, que o consideram um dos bons rio truteiros de Trás-Os-Montes.
Só próximo de Mirandela é que recebe o nome de Tua, que passa a manter à sua confluência com o Douro, na denominada foz do Tua, onde as suas margens são ligadas por uma ponte dos nossos tempos, que fica na estrada que desce de Carrazeda de Ansiães, vila e sede dum extinto concelho.
É da estação do Tua deste concelho, que partia o ramal ferroviário do vale do Tua, que terminava em Bragança.
O rio Tua é um rio de grande envergadura, que nos Invernos chuvosos galga todos os seus limites do seu leito, como o prova a ponte que servia S. Lourenço-Amieiro que foi arrastada pela água. MJFiel

mario carvalho disse...

http://www.pareescuteolhe.com/ - Site oficial do filme, com trailer disponível;

vale a pena ver o trailler

Caro MJFiel

Permita-me só uma questão

Em Espanha o rio já se chama Tua?

Se assim for não se importa de colocar essa informação na

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Tua

obrigado
mario

mario carvalho disse...

Jornal Terra Quente

16-10-2009 - 16:06
“Os Verdes” acusam Governo de ocultar barragem de Foz Tua à UNESCO


Comentários
Não existem comentários.
AdicionarEsta é a resposta dada pelo Ministro do Ambiente à pergunta escrita entregue a 25 de Agosto de 2009 pelo Deputado de “Os Verdes”, Francisco Madeira Lopes, na Assembleia da República. Refere ainda a resposta que “todavia, no âmbito do processo de avaliação do impacto ambiental do AHFT, foi consultada a Estrutura de Missão para a Região Demarcada do Douro, entidade a quem compete acompanhar e zelar pelo cumprimento das exigências de classificação do Alto Douro Vinhateiro como património mundial, numa perspectiva de salvaguarda dos valores paisagísticos e ambientais e culturais em presença.”
“Os Verdes”, lamentam “que o Ministro tenha esperado cerca de um mês para responder a esta pergunta, para que a resposta só chegasse às mãos do grupo parlamentar “Os Verdes” após as eleições legislativas”.
O partido ecologista afirma ainda, que o Governo português não cumpriu com as obrigações às quais está vinculado como signatário da Convenção do Património Mundial da UNESCO e também como detentor de um património classificado, que o obriga a proceder a esta informação em caso de intervenções nas áreas classificadas.
“Os Verdes” destacaram ainda o facto de não existir o Gabinete Técnico do Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (PIOTADV), no quadro da Estrutura de Missão do Douro, gabinete esse responsável pelo parecer sobre as intervenções nesta área classificada.
O PEV garante que vai fazer chegar esta informação junto da UNESCO, para que esta tenha conhecimento e se pronuncie sobre a interpretação feita pelo Governo português em relação aos seus compromissos relativos ao património mundial

Anónimo disse...

O rio Tua, no seu estado selvagem, já não existe.A cidade de Mirandela aproveitou-se do Rio,construiu um espelho de água e pratica desportos náuticos. Mirandela precia do Rio Tua, da linha do Tua e tem feito tudo politicamente possível para ser sempre assim.Abaixo a barragem, viva o Rio Tua Livre e selvagem.

Anónimo disse...

1º - Parabéns, Jorge Pelicano pela argúcia de mostrar em tão cosmopolita montra, esta verdadeira (e escondida) maravilha da Natureza que é o vale do Tua. Se as metáforas são a paleta de cores e ideias que o artista utiliza para ilustrar os seus nobres sentimentos na Arte, esta, no "corpus" do filme, é a metáfora perfeita...

2º - Com o devido respeito, permita-me o anónimo MJFiel que o corrija, uma vez que sou de Mirandela: o Rio Tua nasce da junção dos Rios Tuela e Rabaçal (ambos vindos de Espanha),cerca de 2 km a montante da cidade, num belíssimo lugar digno de ser visitado e fruído, a que chamamos de "Maravilha" e onde existe um Parque de Campismo, um complexo de piscinas e restaurantes. Só a partir desta curiosa junção (eu diria que, em forma de fisga), é que o rio toma a designação de RIO TUA.

h. r.

Anónimo disse...

Ainda como o Tuela, a partir de Moimenta, freguesia que recebe este rio à saída de Espanha, e tomando como ponto de referência a ponte entre Paçô e Vinhais, toda esta parte do seu curso é facilmente pescável.
Quando o Tua passa em Mirandela é já um rio de grande envergadura, como o provam as pontes que ligam as suas margens, a mais antiga de arquitectura gótica.
É acima desta cidade que recebe o Rabaçal, rio proveniente da Galiza que penetra em Portugal na freguesia de Pinheiro Novo (Vinhais) e que ao longo dos seus acidentados 65KM, se estende pelas faldas da serra da Abelheira, oferecendo algumas perspectivas de razoáveis pescarias.
O curso do rio Tua a vazante de Mirandela e Abreiro, passou a ser vítima de grandes ecológicas, desde que se fundou o complexo agro-industrial do Cachão. Podemos dizer, mesmo, que deixou de ser um rio truteiro. EM contrapartida , e uma grande parte dos seus 120km. de extensão, continua a receber ainda como cursos de água de boa potabilidade,o Orelhão, Tinhela e o Baceiro, sobretudo este, igualmente tendo origem na Galiza, como o Rabaçal.
Desagua na parte superior do Tua, onde este rio ainda é conhecido por Tuela, tendo apenas 20km.de curso, desde que penetra em Portugal, entre Costa Grande e Malaçais. MJFiel

Anónimo disse...

Desculpe, mas tenho que o corrigir mais uma vez (todos temos os nossos pequenos lapsos): a ponte mais antiga de Mirandela sob a qual desliza o Rio Tua e que MJFiel refere neste seu último texto, não é de "arquitectura gótica", mas sim, de arquitectura ROMÂNICA.

h. r.

mario carvalho disse...

Pode ser mais explicito por favor?

Onde nasce ou começa a chamar-se

TUA... independentemente das pescas

cumprimentos

mario

Anónimo disse...

Anonimo disse.

Visito com regularidade este espaço,mas hoje, ao falar-se do Rio Tua, senti uma enorme nostalgia dos meus tempos de estudante em Bragança, quando apanhava aquele comboio no Tua, cheio de jovens das aldeias, que estudavam em Bragança.
É de facto uma maravilha este nosso Rio, que deve ser preservado,tal como a linha férrea.
Parabéns ao autor deste espaço, que pode ser um ponto de encontro dos Carrazedenses, que embora vivendo nos grandes centros urbanos gostam de saber coisa da sua terra.

Anónimo disse...

Ainda não falaram nas lontras que se encontram naquelas águas! Verifiquem e depois falem sobre a barragem e se esta deverá ser feita.

Anónimo disse...

Não são apenas as lontras! É todo um ecossistema de inesgotável valor patrimonial! Por isso e por tantos e tão diversos motivos, eu direi sempre NÃO à morte do nosso Rio Tua!

h. r.