19 setembro 2009

A queda de um Arcanjo

Dizem que foi com uma traulitada entre as orelhas, que o moço caiu desamparado pelas escadas abaixo. O tombo foi grande, na razão directa da altura que já tinha subido de escadas. Mais do que as consequências do tombo, que o deixou paralisado e em estado de coma, foi o seu estrondo que mais se repercutiu.
O boato do desastre chegou no fatídico mês de Agosto e serviu de mote para muitos e sortidos comentários. Animadas discussões se produziram, na busca da justificação para acto tão bárbaro. Logo se lobrigou o tresloucado autor mas inicialmente, estranhamente, mais do que repudiá-lo, todos se esforçavam por tentar perceber as causas do seu procedimento. Vieram então à superfície os vícios mais mesquinhos da espécie humana. Esqueceu-se o reconhecimento e admiração que antes se nutriu pelo malogrado para vilipendiar o seu currículo e o trabalho esforçado, realizado ao serviço do povo.
Este, desde jovem demonstrou estaleca para agir. Havia nele aquela estrela cintilante, aquele fulgor que torna alguns, sobrenaturais e os faz transcender-se naquilo em que põem os pés. Costumava recordar com êxtase a cerimónia em que foi entronizado sócio do P.P.P. (Partido Popular do Poder). A partir daí nunca mais lhe faltou amparo e sustento, imprescindíveis para uma ascensão meteórica. O seu voluntarismo e apego ao amo catapultaram-no para os mais altos voos, só possíveis aos eleitos. Os sonhos iam-se realizando com êxito. Jamais alguém, com expedientes idênticos, teria singrado tão alto na hierarquia do poder. Criou então o seu núcleo de apaniguados. Ele seria o garante da sua protecção em troca do servilismo destes. Estavam-lhe incumbidas por quem mandava, as tarefas mais prestigiadas. Era um dos íntimos do regime. Comia à mesa das altas individualidades, a sua opinião era ouvida para tudo o que tratava de cultura e progresso do povo. Era quem seleccionava os programas, quem distribuía as esmolas, quem avaliava a trupe.Integrava o grupo dos que transportavam a padiola, nos actos solenes das deslocações do amo ao exterior. Se fosse preciso daria o peito ás balas pelo dono que o criou.
Definido o seu perfil de homem íntegro e generoso, é pertinente perguntarmo-nos, sobre que razão profunda terá justificado a agressão traiçoeira que lhe foi cometido. Para mais perpetrada cobardemente por quem o tinha gerado.
As dúvidas perdurarão. O povo acredita agora que o caso virará lenda. Acredita que a história se fará e contará os meandros do que se terá passado. Entretanto o movimento está lançado. Já ninguém confia no recobro do moribundo O objectivo é agora aguardar o triste desfecho e avançar no caminho da canonização. O povo humilde e crente, renega agora o malvado e compara já este exemplo ao da sua padroeira. Confia finalmente que brevemente teremos um mártir canonizado na forma de um Arcanjo, para reverenciar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois :
Os elevadores também sobem
e descem !!!

Anónimo disse...

Parabéns, amigo Hélder, mais uma vez, pela mensagem que acaba de nos transmitir. Na verdade, face ao seu conteúdo, há nela, uma proliferação enorme de referências que são bem o espelho do que actualmente acontece, infelizmente, por terras de Lopo Vaz de Sampayo, centradas unicamente num Ser. Talvez por isso, começa por lhe dar um título bastante "sui generis". Contudo, a meu ver, é nos dois últimos parágrafos que está a chave do clímax da "queda do Arcanjo". Não sei, mas como refere, caro Hélder, "o povo acredita que o caso virará lenda", na medida em que, "já ninguém confia no ... moribundo" e, talvez por isso, dentro em breve, "teremos um mártir canonizado na forma de Acanjo".

Por fim, amigo Hélder, salvo o devido respeito, a meu ver, seria de todo o interesse para a nossa Terra que alguém procedesse a uma investigação, a fim de apurar as razões sobre as causas que estão inerentes aos motivos por que "o moço caiu desamparado pelas [nas] escadas". Afinal, quem o fez caír? Falta de forças, excesso delas, ou os seus "AMIGOS?" que o abandonaram?!...

Cumprimentos

Carrazedense

Anónimo disse...

Adorei Helder Carvalho, mas é pena que poucos percebam o que escreveu...
e será que sabem quem é o arcanjo?

Visconde de Marzagão

Anónimo disse...

Apenas Brilhante !!! mas veste arcanjo já caiu mas outros se levantam ....