Quem, como eu, teima em viver no interior do país, Trás-os-Montes, no caso, sabe, saber de experiência feito, que Paulo Morais está certo: dois terços do território nacional foram abandonados pelos políticos. Por todos. Mais ainda por aqueles que nasceram no interior do país e, uma vez arribados ao porto de abrigo da governança, de pronto esqueceram que o engaço tem dentes! Desde a implantação da república que assim é!
A propósito das comemorações dos 200 anos do nascimento de D. António Alves Martins, Bispo de Viseu, Deputado, Ministro do Reino…, fui convidado para participar num livro - “Tempo, Escritos e Iconografias” - evocativo deste ilustre trasmontano. Porque a política me interessa enquanto actividade, não profissão, cujo único propósito é ser cidadão ao serviço dos cidadãos, optei por estudar o perfil de D. António Alves Martins na qualidade de Deputado. Leitura puxa leitura, acabei por ler centenas de intervenções parlamentares de deputados por Trás-os-Montes referentes à segunda metade do séc. XIX. Horas de prazer, sem dúvida, tal a qualidade das intervenções! Todavia, o que verdadeiramente me marcou foi o ter constatado que, naquele tempo, os deputados jamais se esqueciam que estavam como deputados e não eram, como são hoje, deputados. E estavam como deputados ao serviço da comunidade que os elegeu (quantas vezes guerreando o partido pelo qual foram eleitos) e não, como hoje, ao serviço de um partido que veneram temendo a exclusão das listas no caso de não serem serviçais.
Sou defensor da existência de círculos uninominais - aqueles em que os votos dos cidadãos que compõem esse colégio eleitoral são convertidos num único mandato, isto é, neste tipo de círculo apenas é eleito um representante. Deste modo saberíamos a quem pedir contas no final de cada legislatura. Com o actual sistema, se eu ocupar o segundo lugar do círculo do distrito de Vila Real, seja pelo PS ou pelo PSD, e nada fizer para merecer o voto dos cidadãos tenho enormes probabilidades de vir a ser eleito. Quem é que ainda se lembra do nome do segundo deputado eleito da lista em que votou? E do terceiro? E do quarto?
Mas para os partidos o sistema está bem porque, convenhamos, os partidos vivem do sistema. Faço minhas as palavras de José Leite Pereira, director do JN, aí publicadas a 4 deste mês: “se os partidos são - como é cada vez mais evidente - coisa pouco interessante, talvez seja necessário voltar ao princípio, voltarmos a interessar-nos pela política, pela res publica, participando, discutindo e obrigando os partidos a mudar. É que sem eles não temos grandes hipóteses de sucesso. É preciso que todos voltemos à política.”
Jorge Laiginhas
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