08 fevereiro 2009

Rodovia ou ferrovia?

No Público de 6.ª feira: A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, mantém a posição defendida a 22 de Agosto de 2008 sobre a manutenção da Linha do Tua. Numa resposta enviada ontem ao PÚBLICO, a governante reafirma que, "se for considerado imprescindível o encerramento do troço em causa [por causa da construção da nova barragem da EDP], deverão ser garantidas, pela concessionária, condições para a criação de uma variante ferroviária". Ou seja, a alternativa rodoviária proposta pela EDP não é solução.
"Nem pensar", foi a resposta dada por Ana Paula Vitorino naquele mesmo dia, poucas horas depois do último acidente ferroviário na Linha do Tua, quando confrontada com a possibilidade de o comboio deixar de circular entre esta estação e Mirandela. Na altura, a secretária de Estado afirmou que o comboio "é muito importante para a mobilidade da região"


O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) também se congratula com a posição de Ana Paula Vitorino e faz votos para que, "como prometido, e em Março a Linha do Tua esteja finalmente operacional, em conformidade com a segurança e modernização que se exige". O MCLT questiona e condena veementemente a desunião das autarquias de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Murça, Vila Flor, Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança, cuja consequência "é a destruição do património cultural e industrial ferroviário de Trás-os-Montes".
Para diminuir os danos provocados pela futura barragem e aproveitar a nova albufeira, é sugerida a criação de um Programa de Desenvolvimento Turístico para o vale do Tua e de um programa para a criação de oportunidades de auto-emprego.

A EDP não reage publicamente à posição assumida ontem, ao PÚBLICO, pela secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que exige uma alternativa ferroviária à submersão da linha do Tua pela futura barragem da eléctrica nacional. Mas a empresa tem uma posição clara sobre o assunto. A EDP não se importa de construir uma nova linha férrea, desde que o seu custo seja suportado pelo Governo. Caso o Executivo lhe impute esse investimento, então a empresa desiste da barragem, uma vez que esta se torna economicamente inviável.

A estratégia da EDP é deixar que o processo de avaliação de impacte ambiental faça o seu caminho e esperar que o empenhamento pessoal de José Sócrates na concretização Plano Nacional de Barragens e os compromissos já assumidos sejam suficientes para contornar todos os entraves ao empreendimento. Para poder construir a barragem de Foz-Tua, a EDP já pagou 56 milhões de euros, mas a licença obtida é apenas provisória.
A EDP tem a seu favor o facto de o caderno de encargos do Governo não contemplar qualquer alternativa ferroviária à submersão da linha. A proposta sugerida contempla apenas uma alternativa rodoviária. Mas Ana Paula Vitorino não aceita esta solução e reafirma que, "se for considerado imprescindível o encerramento do troço em causa [por causa da construção da nova barragem), deverão ser garantidas, pela concessionária, condições para a criação de uma variante ferroviária".


Segundo o "Público", a EDP propõe-se igualmente construir diversos cais para embarcações (vai depender da cota) para estimular o turismo fluvial e um núcleo museológico interpretativo da memória do Vale do Tua.
A ideia, de acordo com o EIA, é "ajudar a revitalizar a região e potenciar um novo tipo de turismo", de futuro assente no núcleo museológico, nas termas locais [São Lourenço e Caldas de Carlão] e albufeira.

5 comentários:

Anónimo disse...

A estratégia da EDP é esperar que o empenhamento pessoal de José Sócrates na concretização Plano Nacional de Barragens e os compromissos já assumidos sejam suficientes para contornar todos os entraves ao empreendimento.

mais um futuro caso não freeport

mas freetua?

Barragem no douro Patrimonio mundial

Daniel Conde disse...

Não percebo porquê, mas estou a ter grande dificuldade em passar a mensagem fundamental: meus caros, a Barragem do Tua está situada numa zona cartografada no Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território como troço de influência de ruptura de barragem.
Não vos parece que o caso muda totalmente de figura? Já não estamos a falar de um vale e de uma linha assassinados: estamos a falar de um potencial assassino de pessoas! No ano passado completaram-se 50 anos sobre o desastre de Ribadelago, Sanábria, onde o rebentamento da barragem de Vega de Tera matou 150 pessoas. E foram "apenas" 150 porque a torrente apanhou só 1 aldeia: estão a ver o que uma onda de cheia pode fazer a jusante do Tua?

Isto é FUNDAMENTAL ser discutido!

Anónimo disse...

A ousadia de uma secretária de Estado
Público(08-02-2009)
A ousadia de uma secretária de Estado

Quem tem a palavra final sobre o futuro do Plano Nacional de Barragens? José Sócrates, que tanto gosta de o invocar como emblema da nova era de produção energética do país, ou a secretária de Estado dos Transportes, que esta semana decidiu inviabilizar a barragem de Foz Tua ao obrigar a EDP a construir uma nova linha ferroviária no vale? Não há razões para deixar de acreditar que o primeiro-ministro acabará, mais tarde ou mais cedo, por impor a sua autoridade.

Mas o que aconteceu esta semana dá que pensar: ou José Sócrates exagera quando afirma que as barragens são indispensáveis para o país limpo, sustentável e menos dependente do petróleo em que tanto diz acreditar, ou Ana Paula Vitorino sente-se com capital político suficiente para o contestar. Ou, ainda, neste Governo está a chegar a hora de cada um pensar pela sua própria cabeça.

Ana Paula Vitorino limitou-se a repetir o que dissera em Agosto.

Que a Linha do Tua é importante e, se a barragem a submergir, o seu concessionário, a EDP, terá de a reconstruir a uma cota mais elevada. Em Agosto, porém, no dia a seguir a mais um acidente fatal no percurso, as declarações da secretária de Estado soaram a palavras de circunstância destinadas a apaziguar o protesto público. Desta vez, a solenidade da sua declaração tem outro valor. Daqui para a frente, se a barragem de Foz Tua avançar e se a linha desaparecer, uma promessa formal do Governo ficará irremediavelmente incumprida.

Daqui a pergunta incontornável: uma vez que a construção de uma nova linha inviabiliza o investimento na barragem, e sendo certo que qualquer gasto público num traçado ferroviário com pouca procura é por estes dias um acto incompreensível, que margem de manobra tem Ana Paula Vitorino para pôr em causa um anúncio estratégico do primeiroministro?

Muito mais do que um simples sinal de descoordenação, o episódio do Tua é mais um sintoma de que a coesão interna do Governo está ameaçada pela pressão externa da crise e das tensões internas que o acossam. Se até agora José Sócrates teve o mérito de liderar o Governo mais blindado da história recente, se foi capaz de fazer com que os seus ministros adoptassem uma pose caladinha e se dedicassem a gerir respeitosamente as suas pastas, a turbulência política das últimas semanas mostra que essa façanha está cada vez mais remetida ao passado.

Não apenas porque é cada vez mais duro gerir os sinais de uma crise que despedaça empresas, destrói empregos e arrasa as contas públicas, mas também porque o caso Freeport paira sobre o primeiro-ministro como um fantasma e se avolumam os sinais de que o PS pode deixar de ser o partido submisso e resignado que tem sido até à data.

Ainda que as exigências de Ana Paula Vitorino sejam uma repetição, o seu valor facial nos dias de hoje tornaas muito mais sensíveis. Porque não podem ser enquadradas na lógica da circunstância, de um deslize ou de uma variação desafinada sobre um projecto; o que está em causa são exigências que negam o sentido de prioridade de um dos planos mais valorizados pelo primeiro-ministro. Se as barragens são tão importantes como diz Sócrates, se a sua urgência justifica até a destruição do mais belo troço ferroviário do país e o afogamento de uma das unidades de paisagem mais impressionantes do território, não se percebe a exigência de refazer uma linha cujos custos inviabilizam o aproveitamento de Foz Tua. Ou, posta a questão ao contrário, se a linha é tão importante como Ana Paula Vitorino diz ser, por que razão avançou o Governo com um caderno de encargos tão favorável ao avanço da barragem, limitando-se a referir no documento uma mera contrapartida rodoviária?

Anónimo disse...

A ousadia de uma secretária de Estado
Público(08-02-2009)
A ousadia de uma secretária de Estado

Quem tem a palavra final sobre o futuro do Plano Nacional de Barragens? José Sócrates, que tanto gosta de o invocar como emblema da nova era de produção energética do país, ou a secretária de Estado dos Transportes, que esta semana decidiu inviabilizar a barragem de Foz Tua ao obrigar a EDP a construir uma nova linha ferroviária no vale? Não há razões para deixar de acreditar que o primeiro-ministro acabará, mais tarde ou mais cedo, por impor a sua autoridade.

Mas o que aconteceu esta semana dá que pensar: ou José Sócrates exagera quando afirma que as barragens são indispensáveis para o país limpo, sustentável e menos dependente do petróleo em que tanto diz acreditar, ou Ana Paula Vitorino sente-se com capital político suficiente para o contestar. Ou, ainda, neste Governo está a chegar a hora de cada um pensar pela sua própria cabeça.

Ana Paula Vitorino limitou-se a repetir o que dissera em Agosto.

Que a Linha do Tua é importante e, se a barragem a submergir, o seu concessionário, a EDP, terá de a reconstruir a uma cota mais elevada. Em Agosto, porém, no dia a seguir a mais um acidente fatal no percurso, as declarações da secretária de Estado soaram a palavras de circunstância destinadas a apaziguar o protesto público. Desta vez, a solenidade da sua declaração tem outro valor. Daqui para a frente, se a barragem de Foz Tua avançar e se a linha desaparecer, uma promessa formal do Governo ficará irremediavelmente incumprida.

Daqui a pergunta incontornável: uma vez que a construção de uma nova linha inviabiliza o investimento na barragem, e sendo certo que qualquer gasto público num traçado ferroviário com pouca procura é por estes dias um acto incompreensível, que margem de manobra tem Ana Paula Vitorino para pôr em causa um anúncio estratégico do primeiroministro?

Muito mais do que um simples sinal de descoordenação, o episódio do Tua é mais um sintoma de que a coesão interna do Governo está ameaçada pela pressão externa da crise e das tensões internas que o acossam. Se até agora José Sócrates teve o mérito de liderar o Governo mais blindado da história recente, se foi capaz de fazer com que os seus ministros adoptassem uma pose caladinha e se dedicassem a gerir respeitosamente as suas pastas, a turbulência política das últimas semanas mostra que essa façanha está cada vez mais remetida ao passado.

Não apenas porque é cada vez mais duro gerir os sinais de uma crise que despedaça empresas, destrói empregos e arrasa as contas públicas, mas também porque o caso Freeport paira sobre o primeiro-ministro como um fantasma e se avolumam os sinais de que o PS pode deixar de ser o partido submisso e resignado que tem sido até à data.

Ainda que as exigências de Ana Paula Vitorino sejam uma repetição, o seu valor facial nos dias de hoje tornaas muito mais sensíveis. Porque não podem ser enquadradas na lógica da circunstância, de um deslize ou de uma variação desafinada sobre um projecto; o que está em causa são exigências que negam o sentido de prioridade de um dos planos mais valorizados pelo primeiro-ministro. Se as barragens são tão importantes como diz Sócrates, se a sua urgência justifica até a destruição do mais belo troço ferroviário do país e o afogamento de uma das unidades de paisagem mais impressionantes do território, não se percebe a exigência de refazer uma linha cujos custos inviabilizam o aproveitamento de Foz Tua. Ou, posta a questão ao contrário, se a linha é tão importante como Ana Paula Vitorino diz ser, por que razão avançou o Governo com um caderno de encargos tão favorável ao avanço da barragem, limitando-se a referir no documento uma mera contrapartida rodoviária?

Anónimo disse...

A ousadia de uma secretária de Estado
Público(08-02-2009)
A ousadia de uma secretária de Estado

Quem tem a palavra final sobre o futuro do Plano Nacional de Barragens? José Sócrates, que tanto gosta de o invocar como emblema da nova era de produção energética do país, ou a secretária de Estado dos Transportes, que esta semana decidiu inviabilizar a barragem de Foz Tua ao obrigar a EDP a construir uma nova linha ferroviária no vale? Não há razões para deixar de acreditar que o primeiro-ministro acabará, mais tarde ou mais cedo, por impor a sua autoridade.

Mas o que aconteceu esta semana dá que pensar: ou José Sócrates exagera quando afirma que as barragens são indispensáveis para o país limpo, sustentável e menos dependente do petróleo em que tanto diz acreditar, ou Ana Paula Vitorino sente-se com capital político suficiente para o contestar. Ou, ainda, neste Governo está a chegar a hora de cada um pensar pela sua própria cabeça.

Ana Paula Vitorino limitou-se a repetir o que dissera em Agosto.

Que a Linha do Tua é importante e, se a barragem a submergir, o seu concessionário, a EDP, terá de a reconstruir a uma cota mais elevada. Em Agosto, porém, no dia a seguir a mais um acidente fatal no percurso, as declarações da secretária de Estado soaram a palavras de circunstância destinadas a apaziguar o protesto público. Desta vez, a solenidade da sua declaração tem outro valor. Daqui para a frente, se a barragem de Foz Tua avançar e se a linha desaparecer, uma promessa formal do Governo ficará irremediavelmente incumprida.

Daqui a pergunta incontornável: uma vez que a construção de uma nova linha inviabiliza o investimento na barragem, e sendo certo que qualquer gasto público num traçado ferroviário com pouca procura é por estes dias um acto incompreensível, que margem de manobra tem Ana Paula Vitorino para pôr em causa um anúncio estratégico do primeiroministro?

Muito mais do que um simples sinal de descoordenação, o episódio do Tua é mais um sintoma de que a coesão interna do Governo está ameaçada pela pressão externa da crise e das tensões internas que o acossam. Se até agora José Sócrates teve o mérito de liderar o Governo mais blindado da história recente, se foi capaz de fazer com que os seus ministros adoptassem uma pose caladinha e se dedicassem a gerir respeitosamente as suas pastas, a turbulência política das últimas semanas mostra que essa façanha está cada vez mais remetida ao passado.

Não apenas porque é cada vez mais duro gerir os sinais de uma crise que despedaça empresas, destrói empregos e arrasa as contas públicas, mas também porque o caso Freeport paira sobre o primeiro-ministro como um fantasma e se avolumam os sinais de que o PS pode deixar de ser o partido submisso e resignado que tem sido até à data.

Ainda que as exigências de Ana Paula Vitorino sejam uma repetição, o seu valor facial nos dias de hoje tornaas muito mais sensíveis. Porque não podem ser enquadradas na lógica da circunstância, de um deslize ou de uma variação desafinada sobre um projecto; o que está em causa são exigências que negam o sentido de prioridade de um dos planos mais valorizados pelo primeiro-ministro. Se as barragens são tão importantes como diz Sócrates, se a sua urgência justifica até a destruição do mais belo troço ferroviário do país e o afogamento de uma das unidades de paisagem mais impressionantes do território, não se percebe a exigência de refazer uma linha cujos custos inviabilizam o aproveitamento de Foz Tua. Ou, posta a questão ao contrário, se a linha é tão importante como Ana Paula Vitorino diz ser, por que razão avançou o Governo com um caderno de encargos tão favorável ao avanço da barragem, limitando-se a referir no documento uma mera contrapartida rodoviária?