A última cimeira Luso-Espanhola pariu um acordo de cooperação ao nível dos cuidados de saúde que visa melhorar o acesso aos serviços de urgência das populações das zonas raianas. Assim, os utentes dos dois serviços de saúde podem optar pelo mais próximo ou indicado dos dois lados da fronteira. O acordo visto sem um conhecimento da nossa realidade parecerá um avanço civilizacional e merecerá dos mais distraídos estridentes aplausos, porém vejamos: as localidades da fronteira portuguesa estão grosso modo desprovidas de unidades de assistência à saúde com a qualidade e apetrechamento que os cidadãos mereceriam, ao contrário das existentes em Espanha. Conhecidas as realidades fronteiriças dos dois países depressa se concluirá que a cooperação será de quase sentido único e os cidadãos portugueses dessas localidades irão sair beneficiados. De acordo. Porém este "negócio" irá mais uma vez servir para o que Adriano Moreira chamou de "desistência" do interior.
A racionalização que tem servido de base ao encerramento de serviços públicos, à falta de investimento público e de uma discriminação positiva parece pressupor uma desistência face a uma parte do território. Não nos devemos conformar porque todas as pessoas têm direito à sua dignidade e os valores éticos não permitem aceitar estas lógicas. O Estado não pode adiar ou suspender a sua responsabilidade perante todos os portugueses, mormente a distância e custo/utente numa lógica pura de "racionalização". Citando uma vez mais Adriano Moreira “a racionalização cobre a desistência, porém a resistência deve prevalecer sobre a desistência”.
5 comentários:
A última cimeira pariu?! Por essas e por outras, HR está muito acima!
Rafalela Plácido
Estamos a caminho da "jangada de pedra" ou melhor da Ibéria...poupa-se uma estrela na bandeira da Comunidade Europeia!
Não me vou preocupar com o "pariu" até porque tantas vezes connosco já "a montanha pariu um rato".
Quero só chamar a atenção do Prof.JAM para o facto de ele ser,por vezes,avesso ao intercâmbio luso-espanhol , escudando-se em velhas múmias para fazer valer as suas ideias.
O caminho a seguir,actualmente,é a de uma cada vez maior integração e pode acontecer que as populações fronteiriças venham a conseguir com os espanhóis o que não conseguem com os portugueses.Que mal há nisso?
JLM
De facto, há aqui uma grande contradição. Diz-se que os espanhóis têm melhores serviços que os portugueses. Porém quando a gente os procura em Espanha, não me parecem melhores. Por outro lado os que dizem que os espanhóis é que são bons e se lhes dá essa hipótese de utilizarem os serviços, então toca a contestar...
Ainda bem que os povos que têm acesso fácil a Espanha fizeram esse acordo. Sabem porquê? Porque este governo agonizou o Serviço Nacional de Saúde e as populações do interior ficaram sem cuidados médicos imediatos e urgentes caso necessitem deles. E, se necesitarem de aceder aos hospitais onde os mesmos se prestam, alguns a distâncias, consideráveis, chegam lá (e antes de chegarem lá têm de aguardar o cumprimento de certos formalismos, nalguns casos nem sempre fáceis de ultrapassar, como já tivemos oportunidade de visualizar nalguns meios de comunicação) e qual é aresposta? Será que esses ditos hospitais podem dar resposta adequada a uma população que passou a ser, com esta nova remodulação, bem mais numerosa do que era antes, mantendo-se, para o efeito,a mesma estrutura física e meios humanos? Por isso, ainda bem que essas populações têm uma oportunidade que outras, infelizmente não têm. O direito à saúde, que é um direito consignado na Constituição, neste momento está como todos sabemos... Fala-se muito bem, quando se reside nas grandes cidades, mas quem está no interior é que sabe os problemas com que se debate a esse nível. Para quem tem conhecimentos e dinheiro os cuidados médicos são fáceis e rápidos, mas quem não os tem tudo é bem diferente. E são sempre os carenciados, desprovidos de meios económicos suficientes os mais prejudicados.Mas, infelizmente,com esses ninguém se preocupa.
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