19 setembro 2007

Sobre o Aquilino

Um inventor da língua e militante político

"Eugénio de Andrade e Óscar Lopes colocaram-no ao lado de Fernando Pessoa como um dos expoentes da literatura portuguesa do século XX.
José Saramago comentou, depois da atribuição do Nobel: "Sou um homem de sorte, porque o Aquilino já não está vivo, senão teria sido ele a merecer o prémio".
Urbano Tavares Rodrigues e Mário Cláudio realçam agora a unanimidade perante a obra de Aquilino Ribeiro.
"Foi o maior romancista do século XX português, e um dos maiores da Europa", diz o primeiro. "Aquilino foi, talvez, o último escritor português que mereceu o título de mestre", nota Mário Cláudio, destacando "o magistério" que ele exerceu na prosa e na "criação de uma língua própria - um atributo dos escritores que tende a desaparecer -, com a sua marca de portugalidade". E o vencedor do Prémio Pessoa realça o que a escrita do autor d"O Malhadinhas (1946) possui "de ruralidade e de respeito pelo linguarejar e pelo espírito do povo".
Pelas mesmas razões, Urbano Tavares Rodrigues diz que Aquilino, sendo "um inventor da língua" - como o são autores como Luandino Vieira, Mia Couto ou o italiano Carlo Emilio Gadda -, "é um criador de um mundo", numa obra onde coexistem uma dimensão realista e uma dimensão religiosa quase panteísta (como em A Casa Grande de Romarigães, 1957), mas também o lirismo, a magia e o onirismo (Andam Faunos pelos Bosque, 1926) ou ainda o espírito humanista e de redenção do homem (O Homem que Matou o Diabo, 1930)."

Foi com a fascinante fábula do "Romance da Raposa", o primeiro livro da minha adolescência, que o nome de Aquilino ficou indelevelmente marcado como um dos meus autores preferidos. Uma fábula descomprometida e aligeirada, magistralmente contextualizada no espaço, nos diálogos, na tipicidade e mesmo no enredo das beiras, terra natal do escritor.
Inicia assim:
"Havia três dias e três noites que a Salta-Pocinhas - raposeta matreira, fagueira, lambisqueira - corria os bosques, farejando, batendo mato, sem conseguir deitar a unha a outra caça além duns míseros gafanhotos, nem atinar com abrigo em que pudesse dormir um soninho descansado."
A não perder para descobrir um dos grandes autores portugueses, mas tão "pouco lido".
Veja aqui
uma adaptação sonora

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