Se Aquilino Ribeiro estivesse ainda no mundo dos vivos, faria hoje a proveta idade de 122 anos!
À semelhança da singela homenagem que aqui deixei a Miguel Torga, resolvi fazer o mesmo com o autor de "Terras do Demo". Se a obra de Torga tem sido alvo de importantes e minuciosos estudos (ainda bem), já o mesmo não tem acontecido com Aquilino. Na verdade, várias têm sido as vozes que denotam a escassez de estudos críticos sobre o portentoso legado deste escritor. Esta constatação vem um pouco de encontro àquilo que Óscar Lopes afirma num dos seus comentários sobre o discurso crítico do nosso ilustre beirão: "O conhecimento de uma literatura organiza-se segundo um espaço de pelo menos duas dimensões (...). Uma dessas dimensões é a dimensão histórica, que subsume sucessivas recepções; a outra dimensão diz respeito à época, ou sincronia, em que projectamos a história, e que é em regra a nossa contemporaneidade, visto que, em certo sentido, qualquer escritor antigo interessante é, mediante a crítica, nosso contemporâneo (lembra-se o amigo JLM da sua opinião sobre Garrett?), tem necessariamente que figurar dentro de uma síntese actual de compreensão, a síntese que é já possível fazer e que estamos sempre fazendo. A dimensão histórica e a da nossa actualidade estão, aliás, inter-relacionadas, determinam-se reciprocamente...".
Poderia tecer aqui longos comentários sobre este ficcionista de elição, nomeadamente, a partir da sua personalidade literária que se tornou, aliás, mais visível, nos anos 20 e 30, em que já avultavam duas grandes características da sua escrita, a de regionalista e a do prosador exuberante; isto para além da ficção histórica que também desenvolveu "As três mulheres de Sansão"; "Príncipes de Portugal"...). Só não queria deixar passar em claro esta curta referência a um dos grandes vultos da nossa literatura, gostando, sobretudo de realçar a força admirável, plástica e musical do mundo aquiliano.
Haveremos de voltar a este assunto, não terminando porém, sem deixar registada a sua bem conhecida divisa (que muitas vezes tenho seguido): "ALCANÇA QUEM NÃO CANSA" !
1 comentário:
Caro amigo HR: O que lhe posso dizer sobre o Aquilino é que, ao lê-lo, fazia-o sempre de dicionário na mão, o qual utilizava permanentemente. A linguagem era densa e versava, na generalidade dos casos ,sobre regionalismos há muito ultrapassados. A linguagem era pura, vernácula, mas aplicava-se muitas vezes a utensílios ou instrumentos inteiramente em desuso, próprios das aldeias recônditas das terras do demo. Simpática figura, elogiada até pelo seu arqui-inimigo Salazar, está, ao que me parece, destinado a ser lido apenas pelos altamente conhecedores como o amigo HR. Concluo dizendo que , quando eu andava a tentar ler Aquilino e os outros viam o esforço que fazia para lê-lo ,exclamavam: Tens cá uma pachorra!
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