11 junho 2007

História exemplar

“Apartados”

A minha mãe fala-me muitas vezes dos meninos que tinham de ser apartados Durante três a quatro semanas, as crianças eram separadas da mãe e iam viver com uma mulher amiga que se disponibilizava para tal. Durante esses dias os filhos nunca viam as mães. As mães sim, à noite iam espreitá-los com imensa ternura, às escondidas. Não podiam deixar-se ver, se não o ritual quebrar-se-ia. "Quando tu foste apartado", a mim calharam-me dezoito dias, a tua apartadeira trazia-te sempre um brinquinho”, pelos vistos muito bem tratado, “nunca lhe pagarei” e sempre me ficou um grande carinho pela “apartadeira”. Mas qual era a necessidade de deixar os filhos longe das mães tantos dias? “Era para tirar o sentido à teta”… “depois, as crianças comiam muito melhor”. Isto acontecia por volta de um ano de idade, por alturas de se darem os primeiros passos e em que a mudança dos hábitos alimentares auspiciava um golpe rude, do delicioso leite materno passava-se abruptamente para o caldo e as batatas, assim a condescendente mãe demorava a”tirar o sentido à teta”, em prejuízo da sua saúde e até da criança e por isso precisava de ajuda. Mas só as pessoas que tinham vida para isso é que apartavam. No fim nada se pagava e esse grande gesto ficava em dívida para toda a vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

São memórias de uns tempos que se lembram com um misto de ternura e consternação. Felizmente, esse apartar abrupto caiu em desuso, tal como, infelizmente, aconteceu com a amamentação de longa duração. Hoje, muitas mães não amamentam porque não podem ou não querem, e isso é uma opção legítima, mas ainda há muitas outras que só não o fazem porque as convenceram de que o leite da lata é o melhor para o bebé. Mesmo alguns profissionais de saúde estão tão mal informados a este respeito que até dói. Numa farmácia em Carrazeda, "intimaram-me" a desmamar a minha criança de 13 meses porque aquilo já não lhe fazia falta nenhuma!
Sempre tem de haver paciência...

Bons posts!