18 junho 2007

Conta-me como foi


Ao ver a série televisiva da RTP1, “Conta-me como foi” (aos domingos), espanta-me como conseguimos sobreviver nas décadas de sessenta e setenta…

Bebíamos água dos poços, das nascentes e não da rede pública ou da garrafa e sabia bem.
Comíamos carne gorda, manteiga de porco, pão com manteiga, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora.
Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso. Não tínhamos frascos de medicamento com tampas "à prova de crianças", nem íamos ao médico ao mínimo sinal de febre, as mezinhas da mãe, a “reza” da entendida, tudo curavam.

Saímos de casa de manhã, brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa logo depois do “bater das trindades”. Ficávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso. Jogávamos ao pião, ao pino e a bola, quando a havia, até doía!
Criávamos jogos e fabricávamos os nossos brinquedos: do pau do sabugueiro, fazíamos as nossas armas. Da cortiça as rodas dos carros, de um pau apropriado a bilharda…
Brincávamos na terra suja, não lavávamos as mãos antes de comer e só tomávamos banho, às vezes numa bacia de plástico.

De Verão andávamos descalços, de Inverno, calcávamos socos e não tínhamos os pés rasos.
Quando andávamos de bicicleta, objecto demasiado raro, não usávamos capacetes.
Caíamos das árvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem processos em tribunal.
Havia lutas com punhos mas sem sermos processados.

Não tínhamos PlayStation, X Box. Nem televisão a cores. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet.
Tínhamos amigos - se os quiséssemos encontrar íamos á rua.

Acreditem ou não, íamos a pé para a escola; não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem, eles estavam do lado da lei. Se a professora nos repreendia ou castigava, eles davam-nos a dobrar.

Tínhamos liberdade e normas para cumprir; fracassos e sucessos; responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo. Hoje os nossos jovens não conseguem imaginar a vida sem computadores. Não acreditam que houve televisão a preto e branco. Porém, fomos felizes e… sobrevivemos.