16 novembro 2006

Douro precisa de barragens em todos os afluentes

«Mais seis estruturas
Um especialista da Faculdade de Engenharia da UP defendeu ontem a construção de barragens em todos os afluentes do rio Douro como única forma de controlar o caudal deste rio e evitar a ocorrência de cheias. O responsável disse ainda que a barragem de Foz Côa devia avançar.
O professor António Machado e Moura, especialista da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, disse à agência Lusa que a bacia hidrográfica do Douro “só poderá ser controlada com a construção de obras hidráulicas” em todos os afluentes deste rio, desde o Corgo, ao Pinhão, Tua, Sabor, Paiva e Côa. “Este ponto estratégico para a gestão do Douro representa ainda uma importante reserva de água para a região e uma fonte de energia limpa”, frisou Machado e Moura.
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Segundo o docente, a extensão do Douro que atravessa território nacional é de apenas 20 por cento do seu total, gerando, no entanto, quase 35 por cento do caudal. Isto porque - salientou - o território nacional “é mais beneficiado em termos de precipitação”. “É um recurso endógeno de que dispomos mas não temos na bacia do Douro obras hidráulicas que permitam armazenar e gerir esta água”, disse. Machado e Moura defendeu a construção de obras hidráulicas que “permitam reter a água e a impeçam de chegar ao leito do rio Douro”.
Referiu que, por exemplo, só no dia 27 de Dezembro de 2002 o rio Tua entregou ao Douro 170 hectómetros cúbicos de água, quando o leito do rio comporta apenas 70 hectómetros cúbicos de água.
Depois da decisão de não construir a barragem do Baixo Côa por causa das gravuras rupestres e, enquanto se espera por uma resolução quanto ao Baixo Sabor, a EDP quer avançar com a construção do Aproveitamento Hidroeléctrico Foz/Tua. Esta barragem será construída a 1.250 metros da foz do rio Tua, representa um investimento de 237 milhões de euros e uma produção de 350 gigawatts de energia por hora, ou seja o equivalente ao consumo médio de uma cidade com 80 mil habitantes.
Poderá armazenar até 215 milhões de metros cúbicos de água e inundará uma área de 791 hectares que se estende ao longo de 37 quilómetros dos concelhos de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Murça, Mirandela e Vila Flor, e as obras poderão começar já em 2007.
Uma só barragem não resolve tudo”, salientou. Defendeu ainda que o projecto para a construção da barragem de Foz Côa devia ser retomado uma vez que “passada uma década da suspensão não são sentidas na região mais valias resultantes da não construção daquele empreendimento. No entanto, o docente considera que as populações afectadas pela construção destes empreendimentos devem ser “justamente indemnizadas”.
Autarcas contra e a favor
Autarcas e populares das áreas afectadas pela futura barragem no rio Tua estão divididos quanto às vantagens e desvantagens do projecto, havendo quem condene a destruição das vinhas e quem aplauda o eventual desenvolvimento da região.
Artur Cascarejo, presidente da Câmara de Alijó, já disse que “à partida” não é contra a construção da barragem mas ressalvou a necessidade de compensar as populações afectadas. “A construção da barragem tem que ser fundamentada em estudos que digam exactamente o que vamos ganhar, como por exemplo o valor das indemnizações”, frisou.
Defendeu que é “necessário que haja incentivos que ajudem a que as pessoas possam mudar de actividade, para que possam ter vida económica para além da barragem”. Contra o empreendimento está o autarca de Murça, João Teixeira, porque diz que este vai submergir 60 por cento das vinhas das aldeias de Sobreira e Porrais. “São 12 as famílias da Sobreira que vão ficar sem vinha, o seu única sustento neste momento”, frisou.
Diário de Trás os Montes

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