01 junho 2006

E nós a vê-los passar ao lado

Meus pais tomaram o comboio para o Porto era meio-dia. È pela hora do calor que agora se toma um comboio que no horário anterior era por volta das dez.
Estes pequenos gestos de mudança são, em meu entender, o modo disfarçado que a C.P. encontrou de desmotivar e reduzir cada vez mais os utentes desta via de caminho de ferro do Tua e Douro.
Sou do tempo em que esta linha desempenhava um papel necessário no desenvolvimento da região. Por ali passaram muitos a caminho dos estudos e à procura de novas vidas. Por ali se escoavam os cereais e vinham outros produtos, como por exemplo os adubos. Só com o apoio desta infra-estrutura é que o Eng. Camilo de Mendonça gizou o Complexo Agro - Pecuário do Cachão. Único projecto com “pés e cabeça” que eu já vi criar para a minha região.
A crise actual do petróleo deveria trazer á ordem do dia esta questão da melhor maneira de não depender da energias poluentes e de poupar em infra-estruturas.
Quando por toda a Europa se incentivam os meios de transporte ferroviários e por aqui se fala do TGV nós, no interior, estamos condenados a ver soçobrar mais uma infra-estrutura que tanto nos podia ajudar a progredir e a desenvolver. Por exemplo, a escoar as matérias-primas como a pedra, o vinho, a maçã, a madeira a cortiça e o azeite. Isto para não referir o turismo, de que tanto se fala e pouco se concretiza.
Tudo se passa sem que os responsáveis que gerem os nossos destinos, se inquietem, defendam ou protestem e exijam melhor. Infelizmente impera a ignorância, a falta de querer e de reivindicar aquilo a que temos direito e que nos sentimos capazes de potenciar, para interesse de todos.
Tal como no caso das maternidades, quando já pouco houver para defensar virão então uns toleirões, com gestos quixotescos reivindicar patriotismos bacocos, armar-se defensores dos interesses das populações quando, afinal, só já serão úteis para as cerimónias fúnebres.

Hélder Carvalho

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