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José Sócrates, num exercício mediático perfeito, sem contraditório, optou por fazer um balanço cor-de-rosa sobre um país virtual.
O 'ano de viragem' propalado pelo primeiro-ministro é uma miragem que só se vislumbra a partir de São Bento. Na rua, a realidade é outra, pois o povo continua a sofrer com a crise e o desemprego.
É verdade que um ano é pouco para fazer tudo o que os anteriores governos não conseguiram fazer. Todavia, a criação de um clima de permanente ilusão é o pior que se pode oferecer a quem quer e precisa de acreditar num amanhã melhor.
A confusão entre pequenos passos e medidas milagrosas acabam por destruir a credibilidade da acção governamental.
A oposição frouxa e incompetente tem permitido ao governo do PS fazer flores em áreas em que continua a predominar o deserto.
A realidade não se transforma com um discurso que confunde privilégios com direitos, firmeza com autoritarismo e arrogância.
Esgotada a fórmula de confronto com as mais diversas corporações, com resultados estéreis, como se pode constatar na Justiça, Saúde, Segurança e Defesa, José Sócrates tem de começar a trabalhar mais e a falar menos.
O arraial de investimento estrangeiro anunciado nas últimas semanas não apaga a maior taxa de desemprego dos últimos vinte anos.
O governo não pode continuar a dizer num dia que o pior ainda está para vir para no dia seguinte anunciar que regressou o clima de confiança ao país.
A Ota e o TGV são um exemplo paradigmático. O primeiro-ministro garante que os projectos se podem concretizar com o financiamento dos privados. A Comissão Europeia tem uma opinião diferente, temendo o seu impacte na dívida pública.
A credibilidade não se decreta com palavras e discursos. Não basta ter os patrões ao lado e os sindicatos contra para afirmar que o Estado mudou e se está a modernizar.
Não se compreende tanta ansiedade de José Sócrates em tentar mostrar o que ainda não teve tempo para fazer.
A propaganda tem um limite: a realidade e o tempo.
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Rui Costa Pinto, Visão
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