15 janeiro 2006

Protestos? Para quê?...

O presidente da Câmara de Mirandela tem liderado as acções de contestação do distrito de Bragança à pretensa retirada de serviços da região por parte da administração central. A mais espectacular tomada de posição foi a de ter mandado colocar "outdoors" de grandes dimensões no IP4, próximo de Mirandela onde se lê "Aqui termina o Portugal da igualdade de oportunidades. Bem vindos a uma zona de desertificação. Próxima saída a 70 quilómetros, Espanha".
A acção de protesto visa combater os constantes rumores da eventual saída de serviços do concelho e do distrito, nomeadamente a sede da Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes sedeada em Mirandela, as maternidades, a esquadra da PSP, o encerramento das escolas do 1. º Ciclo e tribunais.
Esta acção do autarca mirandelense aparece aparentemente de uma forma isolada e a sua espectacularidade confronta-se com a suspensão da mega manifestação de protesto contra a retirada de qualquer serviço no distrito, agendada para o próximo dia 27. Mesmo assim ficaram prometidas futuras acções conjuntas dos doze municípios do distrito.
Esta iniciativa tem algo de inédito, pois pela primeira vez está a reagir-se antes dos factos consumados, isto é, a retirada de serviços essenciais às populações. Até aqui os líderes regionais habituaram-nos a apenas protestar depois dos serviços encerrarem e sempre de forma mais ou menos vacilante.
Frases e actos como estes colhem apoio junto dos nordestinos que sentem no dia a dia os custos da interioridade e a contínua desatenção do governo central para uma região em progressivo envelhecimento, desertificação e muito abaixo dos índices de desenvolvimento do resto do país. O fantasma da ameaça da anexação da região a território espanhol é também costume ser agitada em ocasiões tais, pretendendo-se intimidar os governantes e captar a sua comiseração de forma a mendigar-se uma ou outra benesse sem consequência de maior.
O habitante do distrito tem assistido impotente ao esvaziamento de serviços e à tendência crescente e à primeira vista irreversível de estancar um processo de desertificação humana e desinvestimento económico, sem que se reveja numa liderança capaz de inverter a situação.
Os deputados do distrito têm desempenhado o papel de comissários políticos, aparentemente dependentes de lógicas partidárias e ou governamentais, pautando o seu desempenho, quase exclusivamente, de forma a atenuar o possível descontentamento das populações; ou, na oposição, clamarem, sem um discurso coerente e consistente, pelo esquecimento do governo central, esquecendo as práticas exactamente iguais que o seu partido, anteriormente no governo da nação, implementara. Esta é um desempenho que se repete, rotineiro e previsível a que os naturais, habitualmente, não dão importância porque despido de pouco crédito.
Os senhores presidentes da câmara não diferem muito desta lógica, acrescida de não retirarem os olhos do seu quintal, por isso mesmo prescindem da união de esforços para implementar políticas concertadas, apoiadas em projectos comuns e decisivos para o desenvolvimento da região.
Este é, pois, um ciclo que se repete sem grandes mudanças desde há muitos anos a esta parte, com a excepção protagonizada pelo engenheiro Camilo de Mendonça, gerador do projecto megalómano e inconsequente do Cachão.
A região e o país necessitam de um nordeste transmontano habitado, desenvolvido e vigoroso e isso consegue-se com uma nova mentalidade, fortes lideranças, um investimento público, com vontade e empenho de todos os naturais e com uma grande consciência regional que interaja com as regiões limítrofes, incluídas as do país vizinho.

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