“ Desceu sobre nós a mais profunda e a mais mortal das secas dos séculos - a do conhecimento íntimo da vacuidade de todos os esforços e da vaidade de todos os propósitos”.
Fernando Pessoa
Nem de propósito aqui vai um texto como que escrito por uma criança.
Voltou a chover
A chuva vem no Outono. Como em muitas partes do país, voltou a chover na minha terra. Talvez por isso calaram-se os passarinhos.
A chuva aqui, serve para guardar na barragem para depois termos água para beber e lavar.
É nos charcos, que se formam com a chuva, que nascem e vivem as rãs e muitos insectos, como os mosquitos e os louva-a-deus.
Com a chove, as pessoas não trabalham, vão para o café olhar umas para as outras e conversar. Fala-se muito de futebol e do que se passa na terra. Do carro novo do vizinho, dos novos empregados na câmara, deste que se reformou, daquele que se foi embora e do outro que já morreu. Como quem anda à chuva molha-se, convém usar um guarda-chuva. Como os pobrezinhos não tem dinheiro, não tem guarda-chuva, por isso tenho muita pena dos pobrezinhos que têm de andar à chuva.
O meu pai diz que os pobres de espírito são os mais pobres. Quando eu lhe perguntei como se é rico de espírito ele não soube responder-me.
A lama que faz a chuva suja os sapatos. Para limpar os sapatos há os engraxadores, que com o dinheiro que ganham podem comprar também guarda-chuvas para eles. Há quem use botas e quando elas se sujam, tenha um cão amestrado para as lamber.
Estes cães, por serem obedientes para o dono são bem tratados e trazem sempre o pelo bem lustroso. Um dia vi um cão a olhar para a superfície espelhada de um charco. Estava muito admirado por se ver ao espelho. Se calhar julgava-se o mais bonito de todos. Foi então que chegou outro que chapinhou na água e estragou o encantamento.
A chuva também serve para fazer crescer as plantas e fazer nascer as flores. Só é preciso que se plantem as plantas que dêem as flores mais bonitas.
Depois também há os daltónicos que vêem tudo da mesma cor. Quantos daltónicos haverão na minha terra? Devia inventar-se uns óculos, que fossem obrigados a usar, para verem como os outros.
Eu quando for grande e tiver dinheiro, hei-de doar um guarda-chuva a cada pessoa e inventar esses óculos.
Fernando Pessoa
Nem de propósito aqui vai um texto como que escrito por uma criança.
Voltou a chover
A chuva vem no Outono. Como em muitas partes do país, voltou a chover na minha terra. Talvez por isso calaram-se os passarinhos.
A chuva aqui, serve para guardar na barragem para depois termos água para beber e lavar.
É nos charcos, que se formam com a chuva, que nascem e vivem as rãs e muitos insectos, como os mosquitos e os louva-a-deus.
Com a chove, as pessoas não trabalham, vão para o café olhar umas para as outras e conversar. Fala-se muito de futebol e do que se passa na terra. Do carro novo do vizinho, dos novos empregados na câmara, deste que se reformou, daquele que se foi embora e do outro que já morreu. Como quem anda à chuva molha-se, convém usar um guarda-chuva. Como os pobrezinhos não tem dinheiro, não tem guarda-chuva, por isso tenho muita pena dos pobrezinhos que têm de andar à chuva.
O meu pai diz que os pobres de espírito são os mais pobres. Quando eu lhe perguntei como se é rico de espírito ele não soube responder-me.
A lama que faz a chuva suja os sapatos. Para limpar os sapatos há os engraxadores, que com o dinheiro que ganham podem comprar também guarda-chuvas para eles. Há quem use botas e quando elas se sujam, tenha um cão amestrado para as lamber.
Estes cães, por serem obedientes para o dono são bem tratados e trazem sempre o pelo bem lustroso. Um dia vi um cão a olhar para a superfície espelhada de um charco. Estava muito admirado por se ver ao espelho. Se calhar julgava-se o mais bonito de todos. Foi então que chegou outro que chapinhou na água e estragou o encantamento.
A chuva também serve para fazer crescer as plantas e fazer nascer as flores. Só é preciso que se plantem as plantas que dêem as flores mais bonitas.
Depois também há os daltónicos que vêem tudo da mesma cor. Quantos daltónicos haverão na minha terra? Devia inventar-se uns óculos, que fossem obrigados a usar, para verem como os outros.
Eu quando for grande e tiver dinheiro, hei-de doar um guarda-chuva a cada pessoa e inventar esses óculos.
Hélder de Carvalho
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