"Realiza-se brevemente a penúltima reunião de Assembleia Municipal, em Carrazeda.
Foi a segunda legislatura em que ocupei, como elemento independente eleito pelo P.S., o meu lugar de Deputado Municipal.
Tinha por conseguinte já, alguma experiência e, desta vez, acreditei mesmo que seriam cumpridas as expectativas que tinha sobre o desempenho deste órgão autárquico. Para mim a Assembleia tem um papel decisivo na regulação e fiscalização da gestão autárquica e na veiculação de sentir das populações que representamos. Por sua vez, nunca antes terão sido eleitos tantos doutores e gente com formação académica que, acreditava eu, trariam os seus contributos construtivos à nossa Assembleia.
Consciente das minhas limitações, mas sempre com o desejo de ser útil, procurei intervir construtivamente e com respeito pelo órgão e seu regulamento, nas reuniões em que participei. Idealista como sou, acreditei sempre que mais tarde ou mais cedo aquele órgão assumiria as suas responsabilidades. Foi assim que demorei três anos para me convencer da incompetência e da inutilidade do papel assumido pela Assembleia. A partir de então deixei de comparecer ás reuniões e a justificar as minhas faltas com o argumento de me sentir envergonhado. Talvez por reconhecerem razão para tal justificação, esta foi sendo aceite.
Faltará então perceber as razões que eu encontro para a inutilidade do desempenho da nossa Assembleia.
Primeiro que tudo está para mim o “estilo” do nosso Presidente eleito, da Assembleia. (…)
Poderá dizer-se que o Sr. Presidente é contudo um bom tribuno! Tambem não. Nunca lhe vi uma participação activa e construtiva nas discussões de problemas ou lhe ouvi uma intervenção de fundo.
Soube contudo ser um bom burocrata(...) Um dos exemplos caricatos, a pretexto de que era preciso poupar, foi aquela decisão unilateral que tomou, de obrigar os elementos da Assembleia, que se deslocavam de fora do Concelho a virem ás reuniões em carro próprio, no próprio dia e terem de madrugar para chegarem a tempo. Fui o único que contestou tal decisão, por a achar demagógica e não praticável. Fui então acusado de interesseiro e egoísta. Na altura criou-se uma comissão para discutir a assunto que, como todas as outras que se criaram, nada decidiu ou concluiu.
O papel dos Elementos da Assembleia foi pois sobretudo o de estar presente e assistir como que a “Missas em Latim”. Seguia-se o ritual sem se saber ou querer saber o significado do que se dizia ou discutia. O facto é que as decisões eram assumidas como tacitamente aprovadas à partida. Só assim se entende que mais de 80% dos deputados apenas tenham participado quando era preciso levantar o dedo no ar ou dizer presente. Era confrangedor ver pessoas formadas e com experiência de vida a desempenhar o papel de simples bonifrates. O que valia era que espectáculo era de curta duração. Chegaram a fazer-se reuniões cuja ordem de trabalhos foi aprovada em 35 minutos. Naturalmente que as actas das reuniões servirão para confirmar este meu testemunho.
Agora que se aproxima o fim da legislatura não acredito tão pouco que seja feita uma avaliação de desempenho. (...)
Faltará agora cumprir-se o último acto que será a leitura do “responso” que acredito que terá lugar nesta reunião. Eu estarei lá para ouvir, não tanto para assumir as consequências das críticas que aqui faço, pois não acredito que estas provoquem qualquer repercussão.
Fica-me contudo uma alegria. È que na avaliação da minha participação não pode ser dito que estive conivente com a situação e por conseguinte não sou culpado pelo marasmo e apatia que ditaram o desempenho desta gestão autárquica.
Porque me parece existir uma lógica, gostaria de concluir convidando os meus colegas da Assembleia, nesta legislatura, a verem o filme que deu o nome ao título desta minha dissertação."
Hélder de Carvalho
Foi a segunda legislatura em que ocupei, como elemento independente eleito pelo P.S., o meu lugar de Deputado Municipal.
Tinha por conseguinte já, alguma experiência e, desta vez, acreditei mesmo que seriam cumpridas as expectativas que tinha sobre o desempenho deste órgão autárquico. Para mim a Assembleia tem um papel decisivo na regulação e fiscalização da gestão autárquica e na veiculação de sentir das populações que representamos. Por sua vez, nunca antes terão sido eleitos tantos doutores e gente com formação académica que, acreditava eu, trariam os seus contributos construtivos à nossa Assembleia.
Consciente das minhas limitações, mas sempre com o desejo de ser útil, procurei intervir construtivamente e com respeito pelo órgão e seu regulamento, nas reuniões em que participei. Idealista como sou, acreditei sempre que mais tarde ou mais cedo aquele órgão assumiria as suas responsabilidades. Foi assim que demorei três anos para me convencer da incompetência e da inutilidade do papel assumido pela Assembleia. A partir de então deixei de comparecer ás reuniões e a justificar as minhas faltas com o argumento de me sentir envergonhado. Talvez por reconhecerem razão para tal justificação, esta foi sendo aceite.
Faltará então perceber as razões que eu encontro para a inutilidade do desempenho da nossa Assembleia.
Primeiro que tudo está para mim o “estilo” do nosso Presidente eleito, da Assembleia. (…)
Poderá dizer-se que o Sr. Presidente é contudo um bom tribuno! Tambem não. Nunca lhe vi uma participação activa e construtiva nas discussões de problemas ou lhe ouvi uma intervenção de fundo.
Soube contudo ser um bom burocrata(...) Um dos exemplos caricatos, a pretexto de que era preciso poupar, foi aquela decisão unilateral que tomou, de obrigar os elementos da Assembleia, que se deslocavam de fora do Concelho a virem ás reuniões em carro próprio, no próprio dia e terem de madrugar para chegarem a tempo. Fui o único que contestou tal decisão, por a achar demagógica e não praticável. Fui então acusado de interesseiro e egoísta. Na altura criou-se uma comissão para discutir a assunto que, como todas as outras que se criaram, nada decidiu ou concluiu.
O papel dos Elementos da Assembleia foi pois sobretudo o de estar presente e assistir como que a “Missas em Latim”. Seguia-se o ritual sem se saber ou querer saber o significado do que se dizia ou discutia. O facto é que as decisões eram assumidas como tacitamente aprovadas à partida. Só assim se entende que mais de 80% dos deputados apenas tenham participado quando era preciso levantar o dedo no ar ou dizer presente. Era confrangedor ver pessoas formadas e com experiência de vida a desempenhar o papel de simples bonifrates. O que valia era que espectáculo era de curta duração. Chegaram a fazer-se reuniões cuja ordem de trabalhos foi aprovada em 35 minutos. Naturalmente que as actas das reuniões servirão para confirmar este meu testemunho.
Agora que se aproxima o fim da legislatura não acredito tão pouco que seja feita uma avaliação de desempenho. (...)
Faltará agora cumprir-se o último acto que será a leitura do “responso” que acredito que terá lugar nesta reunião. Eu estarei lá para ouvir, não tanto para assumir as consequências das críticas que aqui faço, pois não acredito que estas provoquem qualquer repercussão.
Fica-me contudo uma alegria. È que na avaliação da minha participação não pode ser dito que estive conivente com a situação e por conseguinte não sou culpado pelo marasmo e apatia que ditaram o desempenho desta gestão autárquica.
Porque me parece existir uma lógica, gostaria de concluir convidando os meus colegas da Assembleia, nesta legislatura, a verem o filme que deu o nome ao título desta minha dissertação."
Hélder de Carvalho
2 comentários:
és o nosso heroi. és o maior.(não cresças não...)
Mudaram o dizer!
Era:
"Come e cala!"
Passou a ser:
"Cala-te senão não comes!"
Enviar um comentário