28 fevereiro 2005

Onde "pára" a oposição? (2)

Após o embate eleitoral, os vencedores e vencidos, que elegem elementos e têm assento nos órgãos da autarquia, devem representar com dignidade e espírito de serviço os seus eleitores. Os votantes entregam aos partidos, com assento nos órgãos autárquicos, uma declaração de confiança e a responsabilidade de representação dos seus anseios e aspirações consagrados no programa, por estes apresentado. À lista vencedora compete-lhe desenvolver o seu projecto sufragado nas urnas. Dos vencidos espera-se que estejam atentos à governação, chamem a atenção do executivo quando se desviam das promessas feitas, informem os seus eleitores dos esforços desenvolvidos, promovam o esclarecimento, constituam um obstáculo ao abuso do poder e sejam um regulador da vida democrática.

Pelo que nos é dado constatar, no visto, ouvido e lido, “PSD e PS de Carrazeda convivem em harmonia”, O senhor Presidente da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães alega, com entusiasmo, (“de contente se lhe ri o dente”) que a unanimidade é a regra nas decisões do município. O Dr. Fernando Salgado, líder do PS na Assembleia Municipal, reconhece a existência de uma “coligação” no governo da autarquia carrazedense
[1]. A vox populi, habitualmente mordaz e perversa na análise, admitirá até, que entre os candidatos na lista à Câmara Municipal do PSD para o próximo mandato, irão constar os actuais vereadores do PS?! Será a paga de se terem mantido cordatos e colaborantes?


Recorda-se, que um dos períodos mais negros da vida democrática em Portugal corresponde à vigência do Bloco Central, nos princípios da década de oitenta. Neste período, PS e PSD coligaram-se, sob a batuta de Mário Soares, na base dos altos interesses do país, fruto da crise económica e social. Imperou a estagnação, o assalto, e mesmo o “saque”, às benesses da administração pública. Reinou a impunidade e a sem-vergonha na distribuição de lugares e no desbaratar de recursos públicos. Esta foi uma experiência de triste memória e penso que irrepetível.

O PS, actual oposição no nosso concelho, representa mais de um terço de votantes, cerca de 2000 eleitores e detém uma grande responsabilidade no desenvolvimento do concelho. Compete-lhe não defraudar estes eleitores e no mínimo, informá-los sobre a “praxis” política. Sabe-se que o trabalho de esclarecimento é muito mais árduo do que o acometido à lista vencedora. Esta dispõe de dinheiros públicos para propagandear as suas realizações, quer através do boletim municipal, quer de outras publicações que periodicamente exara. Nestas deveriam também constar as propostas da oposição para se aquilatar da sua real importância e a possibilidade dos munícipes compararem e conhecerem o trabalho desenvolvido.

A construção de uma alternativa, absolutamente necessária em todas as sociedades democráticas, implica trabalho, dedicação, prestação de contas e auscultação da opinião pública, isto é, uma oposição responsável e credível. Ser oposição é muito mais do que ter o seu lugar de honra nas manifestações festivas e sessões solenes do município, aparecer nos lugares reservados aquando das representações públicas civis e religiosas, receber as senhas de presença e representação, deter um conjunto de mordomias e privilégios que os cargos transportam.

Quem não sabe cumprir o seu papel na oposição, raramente o povo lhe dá a responsabilidade de governo.


[1] Eduardo Pinto, Jornal “O Pombal”

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