26 dezembro 2013

O poder dos Anões


Apesar do espírito natalício da quadra que o Professor José Alegre Mesquita tão oportunamente nos sublinhou, não resisti, no final deste miserável ano da graça de 2013, em formular também os meus votos de que no próximo ano se mantenha para todos o direito à vida.
Na condição de carrazedense tento esconder a vergonha de pertencer a um concelho onde os anões aceitam resignadamente a perda dos direitos que herdaram, sem um queixume ou o pudor de uma explicação aceitável. E contudo, se o presente é maioritariamente comandado por anões, no passado não foi assim. A história testemunha a nossa lealdade, o nosso envolvimento e sacrifício ao serviço do país a que sempre tivemos orgulho de pertencer. Quando foi preciso apoiar o Rei genuíno, apoiamos; Quando foi preciso defender o Território ou a Pátria (como se dizia antes), dissemos presente; Quando foi necessário emigrar e depois enviar dinheiro para sustentar o litoral, fizemos. Até nas riquezas naturais somos hoje os maiores, ao contribuir com a produção de energia que enviamos para Lisboa.
Em contrapartida só esperávamos alguma consideração e igual tratamento nos direitos e obrigações para com o Estado.
Quando o Estado nos retira o direito de manter o Tribunal Judicial só vejo arrogância discricionária perante uma população menorizada e tratada com indiferença e sem contemplação. Poderia justificar-se estas decisões com a questão económica ou da falta de recursos, mas todos sabemos que em qualquer circunstância, terá de continuar a haver dinheiro para o papel higiênico que o Estado gasta. O que se acrescenta é apenas humilhação, descriminação e maior dispêndio de recursos para a aplicação dos direitos.
O teste ao conformismo do nosso poder local perante estas decisões do poder central, devia ter-se verificado na derradeira reunião de fim de ano da Assembleia Municipal. Poderia ter sido o momento de nos mobilizarmos e fazer ouvir e registar a nossa voz. Perdidos e sós, aguardemos o que o futuro anotará da participação dos nossos representantes sobre o conformismo, ou não, perante esta humilhação. O registo ficará escrito em lacónica acta final. Desta vez teria sido pertinente  ter registado visualmente o acontecimento para melhor se verem  retratados os nossos anõezinhos possivelmente de calças prostradas a mostrar as suas vergonhas.
Como nunca fugi a participar civicamente para o bem da minha terra, desde já me disponibilizo a, com o objectivo de repor o direito a reaver o Tribunal de Comarca, de participar nas próximas eleições autárquicas. Até á reposição dos direitos que nos assistem, no nosso concelho, passarei a considerar os representantes do poder central, com a mesma consideração e respeito com que nos consideram e respeitam a nós.

 Perante a triste realidade e já agora, como diz o Dr. João de Matos “ que Deus se apiede dos velhos.

3 comentários:

isaura festa disse...

Depois deste lamento,que tem o meu veemente apoio,só nos resta pensar que os Transmontanos só teem o que merecem.Quanto mais desprezados são,mais humildes ficam.Parece que não estão interessados em serem felizes.

Alexandre de Oliveira Estêvão disse...

Amigo, apoio o seu texto a 100%. Uma profunda verdade! Aproveito também para deixar um pequeno testemunho sobre um verdadeiro Trasmontano que faleceu ontem, na esperança de que possa publicá-la enquanto artigo, para conhecimento comum.



"Quando chego ao Tua, entro em Casa!"

Foi com profundo pesar que recebi ontem a notícia do falecimento do senhor Tenente-General Arménio Nuno Ramires de Oliveira.

"Natural de Codeçais, aldeia trasmontana do concelho de Carrazeda de Ansiães, situada no vale do Tua e servida por uma estação da Linha do Tua, o General Arménio Ramires dedicou grande parte da sua vida à terra trasmontana, defendendo o vale e a sua via-férrea de forma abnegada, sem nunca daí tentar retirar qualquer protagonismo. Foi desde a constituição do Movimento Cívico pela Linha do Tua um seu membro honorário, incentivando os demais cidadãos deste grupo com palavras de ânimo, e com a sua acção discreta mas directa sempre que possível.

Neto de Manuel Ramires, capataz e braço direito do notável engenheiro responsável pela incrível construção do troço Tua – Mirandela, Dinis da Mota, tinha portanto uma relação umbilical com a Linha do Tua, da qual foi várias vezes utente. Nela via, com toda a clarividência presente apenas em grandes personalidades com visão estratégica e patriótica, um instrumento de progresso vital para o desenvolvimento e o bem-estar do Nordeste e dos seus habitantes. A sua destruição sistemática e a construção da barragem do Tua foram portanto questões fracturantes que, defendia, em nada contribuiriam para o interesse nem dos trasmontanos nem dos portugueses em geral.

Partiu assim de coração triste um Grande Trasmontano. Os que cá continuam, não baixarão os braços contra a destruição que continua incólume a obliterar o seu e nosso Vale, a sua e nossa Linha do Tua."

Desta forma deixo aqui um pequeno testemunho desta grande figura, de modo a partilhar convosco esta perda irreparável para o povo Trasmontano.

Um forte abraço.

Anónimo disse...

Infelizmente, (e sem desprestígio algum) enquanto tivermos Josés Mesquitas, Helderes Carvalho, Joões L. Matos, Mários Carvalhos e outros, a falarem ao vento no cimo da pranheira em noite tempestuosa, não iremos, nunca, a lado nenhum!
Não se organizem com visibilidade a sério e todos irão parar perto, porque a parar longe irão vossos filhos, que alguns nunca mais os irão enchergar!