29 setembro 2010

Asneiras à luz da nova ortografia

Se visitarmos o endereço electrónico do governo civil de Bragança (aqui), na página relativa ao nosso concelho,  podemos ler:
"O concelho obteve foral em 1075, tendo o estatuto de vila sido confirmado por alvará de D. João V de 6 de abril de 1734. No século XIX a sede concelhia foi transferida de Ansiães para Carrazeda e a antiga vila foi abandonada.".
Neste simples parágrafo estão derramadas três imprecisões: o concelho obteve foral do rei de Leão, Fernando Magno, provavelmente entre 1056-1060; o foral foi confirmado em 1160 por D. Afonso Henriques; a transferência da sede concelhia verificou-se em 1734, século XVIII.
Muitas asneiras para tão poucos dizeres denota a falta de cuidado e o desrespeito numa página que deveria merecer a credibilidade que a instituição supõe.
É curiosa a actualização da nova ortografia mantendo o texto desactualizado com referências a artesãos e artesanato desaparecidos, como é o caso da "escultura em madeira para Arte Sacra, vulgar e localmente designada por Santos de Madeira"...

9 comentários:

Anónimo disse...

A maior desactualiazção está no ordenado do sr governador e acessores, principescamente pagos para verterem estes chorrilhos de asneiras, sobre o pobre corpo do Zé Povo...

Anónimo disse...

A página do Governo Civil sobre carrazeda pode estar mal, mas o link da Câmara Municipal de Carrazeda que consta no seu blog, também está mal. Deverá ser http://www.cm-carrazedadeansiaes.pt/ e já não tem nada a ver com o espigueiro.
Despacho: Corrija-se.

Anónimo disse...

É muito oportuna e acertada a opinião do meu colega e prezado amigo José Mesquita. Permita-se-me apenas uma pequena correção: Fernando Magno não foi rei de Leão mas sim de Navarra, conforme se pode ler na edição camarária comemorativa do V Centenário do Foral Manuelino (Junho/2010), excelentemente organizado e coordenado pela Dra. Otília Lage.

h.r.

Anónimo disse...

A extinção do cargo de Governador Civil devia ter sido mais uma medida de austeridade a tomar pelo Governo.Este cargo não passa de um tacho,e que grande tacho,juntando-lhe mais todas as peças do conjunto,imaginem qual não é o desperdicio.Isto no País todo dava para poupar muito dinheiro.O alvo principal é sempre o triste do Funcionário Público e as pequenas e médias Empresas como não podia deixar de ser.
Valha-nos S BENTO.

Anónimo disse...

Em relação a algumas imprecisões acerca do foral do Castelo e Villa de Ansiães, convém esclarecer o seguinte:
1 - REINO DE LEÃO e CASTELA
O Reino de Leão foi um dos antigos reinos ibéricos surgidos no período da reconquista cristã sendo independente durante três períodos: de 910 a 1037 (sob domínio da casa Leonesa), de 1065 a 1072 (sob o domínio da casa de Navarra) e de 1157 a 1230 (sob o domínio da casa da Borgonha).
A sua primeira constituição deu-se em 910, com a divisão do Reino das Astúrias pelos filhos do Rei Afonso III, o Grande; Garcia ficou com o Reino de Leão, Ordonho com a Galiza e Fruela com as Astúrias; eventualmente a Galiza e as Astúrias acabaram por se tornar partes integrantes do reino de Leão, dada a morte sem descendentes dos seus soberanos, tendo o rei Fruela passado a controlar toda a vasta área do Noroeste Peninsular cristão.

O reino acabaria em 1037, quando o rei Bermudo III foi derrotado e morto por Fernando I de Castela, o qual se julgava com pretensões legítimas ao trono de Leão, já que era casado com a irmã de Bermudo, a rainha Sancha. Ficou então integrado na coroa dúplice de Leão e Castela, cingida por Fernando Magno.

A sua segunda encarnação ocorreu com a divisão das possessões de Fernando Magno após a sua morte (1065), entre os seus filhos Sancho (que ficou com Castela), Afonso (que ficou com Leão) e Garcia (que recebeu a Galiza). Após intensas lutas fratricidas com os seus irmãos, Afonso VI de Leão acabou por conseguir dominar também Castela e a Galiza, e proclamou-se imperador de toda a Espanha (Imperator totus Hispaniæ). Leão ficou então sendo o principal reino de entre as Nações que compunham o seu "Estado", e a capital do reino sediada na velha cidade de Leão.

Esta situação manteve-se ao longo dos reinados de sua filha Urraca e seu neto Afonso VII, o qual viria também a proclamar-se, tal como o avô, imperador das Hespanhas. Enfim, após a sua morte, Leão ganhou de novo, por um breve período, a sua independência; em 1157 os extensos territórios que compunham o seu Estado foram repartidos entre os seus filhos Sancho (que ficou com Castela) e Fernando (que recebeu as terras da Galiza e Leão).

O reino de Leão acabaria por findar em 1230, quando Fernando III de Castela, filho de Afonso IX de Leão através do seu casamento com Berengária de Castela, se apropriou do trono que pertencia, segundo as disposições testamentárias do pai, às suas meias-irmãs e legítimas herdeiras, as rainhas Sancha e Dulce; porém, com o auxílio da mãe Berengária e da mãe das herdeiras, a rainha Teresa Sanches de Portugal, conseguiu-se proceder à unificação definitiva das duas coroas, passando Castela a deter o predomínio no conjunto dos Estados do centro peninsular - a capital doravante estaria em Toledo, a velha capital goda, e não em Leão; a língua leonesa entrou em significativo declínio, sendo gradualmente substituída pelo castelhano. No século XVI, com a absorção de Aragão e Navarra e a formação do reino de Espanha, Leão manteve-se como uma capitania-geral do reino, figurando o seu título entre os vários que os reis de Espanha possuíam; só em 1833 desapareceu de jure e de facto o velho reino, transformando-se então na moderna província de Leão; contudo, partes significativas do antigo reino integram hoje as comunidades autónomas de Castela-Leão, Extremadura, Galiza e Astúrias.

Um pobre carrazedense

Anónimo disse...

2 - Lista de reis de Leão
O reino medieval de Leão teve a sua origem na transferência da capital do reino das Astúrias de Oviedo para a cidade de Leão, nos tempos de Afonso III das Astúrias. Mais tarde, por sua morte, este rei dividiu o seu reino entre os seus três filhos: Fruela II governou nas Astúrias, Ordonho II na Galiza, e Garcia I em Leão; pelas suas mortes sucessivas, todos viriam a reinar sobre o reino de Leão.

Entidade hegemónica, por alguns períodos de tempo o reino de Leão se dividiu noutros vários reinos (Castela, Galiza, Portugal), para depois se voltar a unificar (excepto Portugal, que não mais voltou à sua órbita); extinguiu-se em 1230, quando foi definitivamente absorvido por Castela; desde então os reis daquele reino foram também reis de Leão.
Índice
1 Dinastia Asturo-leonesa ou Pelagiana (866-1037)
2 Dinastia de Navarra ou Ximena (1037-1126)
3 Dinastia da Borgonha (1126-1230)
4 Dinastia da Borgonha (restauração: 1284-1285 e 1296-1301)
5 Dinastia de Lencastre (1371-)

3 - Dinastia de Navarra ou Ximena (1037-1126)
Depois de derrotar as tropas leonesas e da morte do rei Bermudo III, Fernando I, que já era rei de Castela (que se autonomizara de condado em reino chefiado pelos reis de Navarra), acedeu ao trono de Leão; o seu direito fundamentava-se no casamento como Sancha, irmã de Bermudo; trata-se da primeira unificação dos tronos de Leão e Castela.
Fernando I de Leão e Castela, o Grande (ou Fernando Magno), rei de Castela (1035-1065) e rei consorte de Leão (1037-1065); a soberana de Leão é, de jure, a sua esposa Sancha. Depois da morte de Fernando, o reino foi repartido pelos seus três filhos, Garcia (Galiza), Sancho (Castela) e Afonso (Leão).

Em suma:
- Fernando I de Leão e Castela, o Grande (ou Fernando Magno), embora pertencesse à Dinastia de Navarra ou Ximena, foi monarca do reino de Leão que outorgou a carta de foral ao Castelo e Villa de Ansiães, graças às vitórias alcançadas nas guerras da Reconquista Cristã com a expulsão dos mouros das terras de Ansiães e arredores como, por exemplo, Villa Real. O foral está redigido em latim. Embora não esteja datado, é anterior à nossa nacionalidade, uma vez que o monarca que lho concedeu, foi o soberano de Leão e Castela antes de Portugal ser reconhecido como reino em 1143 na Conferência de Zamora. Portanto, não se deve confundir reino com dinastia. São coisas distintas. A dinastia de Navarra ou Ximena (1037-1126), pertencia ao reino de Leão.

Um pobre carrazedense

Anónimo disse...

Agora sim, entendo: Carrazeda tem gente que sabe. Precisam que lhes deiam oportunidade, aliás, como aos demais. Não precisamos de importar recursos. Mas, como não sabemos tudo (longe disso!) estamos abertos ao exterior, para enriquecer o que temos e sabemos. É desta articulação que nasce a LUZ, caros Carrazedenses.

Anónimo disse...

Fez-se luz!! Afinal a má sorte da nossa terra é a dinastia dos navarros ainda por cá andar, em bora ás vezes um pouco mascarada...
Ass. O Borgonhês

Anónimo disse...

Ó caro anónimo de Sáb., Out., 02:56:00, PM:

- Desculpe que lhe diga, mas compreenderá que a designação que enfatiza, para mim, "dinastia dos navarros", não é uma forma elegante para categorizar os nossos concidadãos. Contudo, salvo melhor opinião, sei onde quer chegar. Mas, sejamos mais tolerantes e afáveis.

Acerca destas questões das inverdades e das injustiças, na verdade, infelizmente, tem havido imensas. Conheço algumas pessoas que têm sido cobaias dessa teia que, muitas das vezes, sem nos apercebermos delas, gravitam à nossa volta e, até mesmo, em determinadas circunstâncias sem nos dar-mos conta delas. Porém, se me é permitido, acerca desta temática, citarei três quadras do poeta popular algarvio, António Aleixo, em que nos diz:

Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?

À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério.

Por fim, indo mais além das questões das injustiças e das inverdades, o mesmo poeta, compreende até o motivo que lhe permite ver sempre mais ao longe, aliás, como alguns carrazedenses que conheço, o qual se pode inferir através destas duas quadras. Com efeito,

Não é só na grande terra
que os poetas cantam bem:
os rouxinóis são da serra
e cantam como ninguém

Ser artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista...
Ver as coisas mais além
do que alcança a nossa vista!

Cumprimentos,

Um pobre carrazedense