Por vezes dá a ideia de que o Gabinete de Relações Públicas da EDP, é ultrapassado pelo Grupo de Pressão Ecologista.
Falo a propósito da questão do Rio Tua, da barragem prevista e da manutenção da Linha de Caminho de Ferro.
A minha opinião é conhecida. Sou a favor da barragem porque não considero possível que a linha de caminho de ferro actual, venha a ser segura e tenha rentabilidade num futuro próximo. Também considero que o facto de dependermos tanto do exterior, no que respeita à energia eléctrica, torna o investimento da barragem, um imperativo nacional, a não ser que me comprovem que é melhor a energia nuclear.
Infelizmente para mim, os factores mais decisivos que sustentam a minha opinião, não mudam.
A não ser que se crie mais um movimento de opinião que defenda que Santo António também pregou aos peixinhos por estas paragens. Neste caso sim, teríamos uma circunstância de excepção para contabilizar e contrapor à construção da barragem. Só faltaria provar que as pregações foram proferidas em águas mais revoltas e batidas, a peixes mais calejados na luta pela vida. Teríamos de nos antecipar ao Presidente de Mirandela que podia contrapor o seu espelho de água com repuxo, como local privilegiado de pregação.
Assim se criaria um lugar de peregrinação. Uma segunda Fátima com todo o seu potencial de turismo mas, com preocupações de equilíbrio ambiental.
Há outro aspecto que foi considerado. È que acredita-se que seria mais fácil obter para esta ideia, o apoio dos naturais. Não se precisaria do patrocínio do Sérgio Godinho nem do Cristiano Ronaldo.
Da minha parte se a ideia fosse avante, lá estaria a aprender a praticar rafting.
5 comentários:
Riqueza fraseológica
Todos nós que falamos português sentimos que a nossa língua é rica.
Mas rica de quê? De sons, formas, construções, sentidos?
Sim, rica disso tudo, mas rica de mais alguma coisa, ou melhor, de muita coisa mais.
Um das riquezas que mais me impressionam é a riqueza fraseológica portuguesa.
Como no palpitar de um idioma a força vem do sangue popular, basta pormo-nos à escuta de acidentais diálogos, para logo colhermos graça figurativa às mãos cheias.
Uma das mais interessantes modalidades da expressão verbal do pensamento encapotado é a ironia.
Na ironia podemos encontrar certa gradação, pelo motejo ou pelo remoque, ou anichando-se na antítese ou na paremia, isto é, na significação intencional de um provérbio.
O génio verbal do povo português criou em frases de cotio excelências de ironia, que passam despercebidas pelo frequente emprego, mas que nem por isso deixam de contribuir para tornar a língua portuguesa em extenso e variado repositório de fraseologia viva, cheia de valores artísticos.
A intenção maliciosa esconde-se por detrás de muita expressão, cuja figuração irónica é modelar.
A escrita de Hélder Carvalho prima por esta mesma ironia… tão a meu gosto.
O contraste entre verdade e engano por meio da própria verdade, concede aos seus ditos um jogo de paradoxo semântico de invulgar poder frásico.
Como criança que se vê enleada na escolha ao colher flores em vasto campo delas coberto, assim nos veremos ao procurar colher flores expressivas no vastíssimo campo da nossa fraseologia.
Mais uma vez, parabéns.
Carlos Fiúza
Em relação às razões que Hélder Carvalho apresenta em favor da barragem do Tua, se os Suiços, por exemplo, pensassem da mesma maneira, não teriam vencido os Alpes e construido aquelas autênticas e exemplares maravilhas protagonizadas pela competência e persistência do Homem, com utilíssimos comboios sobre tão estreitos e sinuosos carris...
h.r.
Tua: Autarca diz que processo é «uma barafunda total»
O presidente da Câmara de Mirandela, José Silvano, considerou hoje que o processo que opõe a linha à barragem do Tua está transformado numa «barafunda total» com a intervenção de cada vez mais ministérios sem qualquer articulação.
O Ministério da Cultura ganhou um papel de relevo no processo, esta semana, ao aceitar avançar com o processo de classificação da linha do Tua tutelada pelo Ministério dos Transportes e ameaçada pela barragem patrocinada pelo Ministério da Economia e autorizada pelo Ministério do Ambiente.
«É uma baralhada total», considerou, em declarações à Lusa, o autarca defensor da ferrovia, que «não vê saída e agora muito menos» para o impasse que se arrasta há dois anos com a circulação suspensa à espera da decisão definitiva sobre a barragem.
«Num governo que diz que tem uma aposta nas barragens, ou na energia, e que fez este processo todo [Plano Nacional de Barragens], alguém consegue entender que não haja articulação entre os diversos ministérios?», questionou.
O autarca social democrata interroga-se ainda «como é que o Ministério da Economia tem uma posição, o do Ambiente, pelos vistos, tem outra, e os Transportes tem outra e nenhum articula com nada».
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=462391
Caro Hélder:
Nesta disputa entre a EDP e os ecologistas, e recorrendo à vossa metáfora, há peixinhos e peixões. Não será difícil descobrir o peixão. Mas voltamos à metáfora contextualizada e interpretada na realidade actual. O Sermão aos peixes foi o recurso usado por Santo António depois da frustração de não ser ouvido pelos hereges e de estar em causa a sua própria vida. E que fez o pregador? Retirou-se e calou-se covardemente? Não! Consciente da sua doutrina virou-se para os peixes. É o que muitas vezes fazemos à imagem de santo António, pois os homens não querem crer no que se prega. Ao menos os peixes ouvem e calam.
Deixe-me continuar a metaforizar. O sermão de Santo António aos peixes foi mais tarde elaborado pelo padre António Vieira e proferido na defesa dos índios brasileiros e na censura aos colonos portugueses. Esta excepcional alegoria merece uma (re)leitura (eu assim fiz) porque mostra uma surpreendente actualidade.
O pregador louva as virtudes e repreende os vícios dos peixes em paralelo com a vida dos homens. Entre os louvores destaca a obediência dos ditos e o não ouvirem e falarem. A luz dos dias de hoje até parece que nada mudou: grosso modo, é-se obediente, mudo e surdo. Agora alguns defeitos. O maior apontado é aquele dos grandes comerem os pequenos. Esta tem também sido a história do “peixão” aqui assinalado - leva os nossos recursos sem nos dar nada (ou muito pouco) em troca. O que agora nos colocam no anzol (a mim não me apetece mordê-lo) é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma que muitos querem de forma cega e ignorante agarrar. Se quisermos estender a analogia a todos os peixões basta parafrasear Vieira ”os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros”
As virtualidades da construção da barragem não são assim tão claras como as explana. Quanto à impossibilidade de tornar a linha férrea segura e rentável (existe alguma no país economicamente viável?) é que não posso concordar: repare que não há investimento sério na linha há mais de cem anos e a aposta na ferrovia é um aposta de futuro também pela poupança energética. Mas suponhamos que a barragem é a solução. Neste país que se pretende de direito, a EDP é obrigada no caderno de encargos à manutenção da ferrovia e a arranjar uma solução. E isso teremos que exigir.
E permita-me acabar citando Vieira no sermão de santo António aos peixes: “importa que de aqui por diante sejais mais repúblicos e zelosos do bem comum, e que este prevaleça contra o apetite particular de cada um, para que não suceda que, assim como hoje vemos a muitos de vós tão diminuídos, vos venhais a consumir de todo.”
é contra a linha porque
é a favor da barragem porquê?
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