Não serei a pessoa mais indicada, pela idade, muito desconhecimento do seu curriculum e jeito, para relevar a vida deste homem que foi uma referência importante e durante muitos anos na vida deste concelho.
No mínimo deve ser considerado uma figura “muito interessante”. Enredado nas redes do antigo regime, em que manteve alguns cargos importantes, no entanto, foi sempre um homem que tentou sair da mediocridade e através dos mais diversos gestos e obras remou contra a maré e iniciou projectos e práticas que o guindaram à notoriedade.
Fundador de um colégio privado (numa altura em que para estudar se ia para Bragança, Vila Real ou Porto), permitiu a muitos filhos desta terra iniciar um percurso escolar, que de outro modo não teriam conseguido principiar, e em consequência trilhar caminhos do saber que os projectaram para uma vida melhor.
No campo profissional estabeleceu inovações e práticas que atraíram muitos forasteiros e ajudaram a resolver alguns dos problemas de saúde do concelho. Lembro o tratamento controverso, quiçá pouco científico, mas famoso e frutuoso da “cura da dor ciática” que consistiria na destruição do nervo que levava a dor da coluna ao cérebro e que passava por detrás da orelha dos pacientes. Lembro a criação dos primeiros tratamentos dentários, pioneiros na região, a que também acorreram muitos naturais e forasteiros. Lembro a execução de pequenas cirurgias. O Dr. Morais a par do Dr. Alegria e do Dr. Simão constituiu uma tríade de médicos que serviram, algumas vezes com grande abnegação, mas sempre com empenho e tenacidade o concelho como não há memória e dificilmente se repetirá.
A par destas actividades ainda era agricultor e poeta. Que mais pode um homem desejar!?
Nos últimos anos de vida, todos o recordamos nas “secas” que nos pregava quando o encontrávamos na estrada ou ao volante nas ruas da vila. Absorto nas suas divagações, conduzia muito lentamente, impedia-nos a passagem, não largava o meio da estrada ou da rua por mais que lhe vociferássemos "impropérios". Apanhados na sua conversa “sem fim”, calma e conhecedora, educadamente tentávamos fugir-lhe, pois sabíamos que para ele as horas não contavam. Mas tudo lhe perdoámos.
Conseguiu manter-se lúcido e contestatário até quase ao fim dos dias com distribuição e afixação de frases e cartazes controversos, pondo em causa a prática da Casa do Douro, a condução dos destinos do concelho…
Credor de uma homenagem concelhia, faleceu sem que lha tivessem realizado. Houve uma tentativa protagonizada por um grupo de ex-alunos que esbarrou na sua teimosia, um dos seus conhecidos defeitos. Quando vejo atribuídos nomes a ruas e praças que nada nos dizem, enquanto carrazedenses, ou nada fizeram pela vila (casos de Sá Carneiro, Amaro da Costa, Gomes da Costa, Aquilino) seria justo perpetuar este homem com essa atribuição, ou então, porque não dar o seu nome à Escola Profissional?
Partiu, talvez, o último homem deste concelho a que muitos ainda tiravam o chapéu por respeito e consideração.
Descanse em paz!
No mínimo deve ser considerado uma figura “muito interessante”. Enredado nas redes do antigo regime, em que manteve alguns cargos importantes, no entanto, foi sempre um homem que tentou sair da mediocridade e através dos mais diversos gestos e obras remou contra a maré e iniciou projectos e práticas que o guindaram à notoriedade.
Fundador de um colégio privado (numa altura em que para estudar se ia para Bragança, Vila Real ou Porto), permitiu a muitos filhos desta terra iniciar um percurso escolar, que de outro modo não teriam conseguido principiar, e em consequência trilhar caminhos do saber que os projectaram para uma vida melhor.
No campo profissional estabeleceu inovações e práticas que atraíram muitos forasteiros e ajudaram a resolver alguns dos problemas de saúde do concelho. Lembro o tratamento controverso, quiçá pouco científico, mas famoso e frutuoso da “cura da dor ciática” que consistiria na destruição do nervo que levava a dor da coluna ao cérebro e que passava por detrás da orelha dos pacientes. Lembro a criação dos primeiros tratamentos dentários, pioneiros na região, a que também acorreram muitos naturais e forasteiros. Lembro a execução de pequenas cirurgias. O Dr. Morais a par do Dr. Alegria e do Dr. Simão constituiu uma tríade de médicos que serviram, algumas vezes com grande abnegação, mas sempre com empenho e tenacidade o concelho como não há memória e dificilmente se repetirá.
A par destas actividades ainda era agricultor e poeta. Que mais pode um homem desejar!?
Nos últimos anos de vida, todos o recordamos nas “secas” que nos pregava quando o encontrávamos na estrada ou ao volante nas ruas da vila. Absorto nas suas divagações, conduzia muito lentamente, impedia-nos a passagem, não largava o meio da estrada ou da rua por mais que lhe vociferássemos "impropérios". Apanhados na sua conversa “sem fim”, calma e conhecedora, educadamente tentávamos fugir-lhe, pois sabíamos que para ele as horas não contavam. Mas tudo lhe perdoámos.
Conseguiu manter-se lúcido e contestatário até quase ao fim dos dias com distribuição e afixação de frases e cartazes controversos, pondo em causa a prática da Casa do Douro, a condução dos destinos do concelho…
Credor de uma homenagem concelhia, faleceu sem que lha tivessem realizado. Houve uma tentativa protagonizada por um grupo de ex-alunos que esbarrou na sua teimosia, um dos seus conhecidos defeitos. Quando vejo atribuídos nomes a ruas e praças que nada nos dizem, enquanto carrazedenses, ou nada fizeram pela vila (casos de Sá Carneiro, Amaro da Costa, Gomes da Costa, Aquilino) seria justo perpetuar este homem com essa atribuição, ou então, porque não dar o seu nome à Escola Profissional?
Partiu, talvez, o último homem deste concelho a que muitos ainda tiravam o chapéu por respeito e consideração.
Descanse em paz!
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