26 março 2016

Páscoa feliz

Se o Natal era a festa da família, a Páscoa era a festa da aldeia. A sua preparação começava com a elaboração dos folares e dos económicos e a cozedura nos fornos comunitários. Havia os folares doces e os de carne. Os doces comiam-se ao pequeno-almoço com o café, ou com um bom cálice de vinho tratado, que “ajuda a cortar a doçura”, diziam. Os de carne feitos com as chichas do porco incluíam a chouriça, o salpicão, o presunto e o toucinho, chamávamos-lhe carne gorda, que emprestava à massa um sabor divinal. Os económicos, na forma de montinhos polvilhados de açúcar, duravam longos dias e eram sempre um dos melhores mimos que se metia no saco da escola para o lanche do dia.

A missa pascal era obrigatória, antecedida dos três dias de penitências, jejuns, vias-sacras e do silêncio dos sinos que anunciavam, tristemente, ao meio-dia de quinta-feira a paragem no trabalho e, só despertavam na tarde de sábado e mais tarde na aurora de domingo, em tom festivo. À Eucaristia seguia-se o almoço melhorado que quase sempre incluía o borrego ou a ovelha, assados ou guisados, e o delicioso arroz doce, à sobremesa. À tarde, o compasso visitava todas as habitações para o beijar da cruz, acompanhado da algazarra da criançada, que pululava de casa em casa em busca dos “doces”, e do murmúrio de muitos que se visitavam em busca dos mimos e dos afetos para a boca e para a alma. 
"SELORES... e uma casa"

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