14 agosto 2015

Introdução - Helder Carvalho

Gostamos de ser malvados mas de modo nenhum, ridículos (Moliére)

 Conhecem a minha condição de carrazedense a quem tem custado acreditar no destino que vem sendo reservado para o nosso concelho. Embora me declare um vencido pelo sistema, jamais penso perder a liberdade e o direito de pensar, direitos ora adquiridos e pelos quais tantos lutaram. Mesmo assim e se não pagasse impostos juro que me remeteria para a minha condição de simples apreciador da paisagem desértica, a aguardar a minha entrada no Lar de Terceira Idade. Contudo e enquanto pagar impostos, sinto que contribuo para o sustento do sistema o que me obrigar ao dever de denunciar a desvirtuação, a corrupção e a fraude que me vejo obrigado a sustentar. Excepcionalmente os embustes, disfarces, enganos e dissimulações que têm ocorrido entre nós resultaram de factos que trazem consigo muito de caricato e de cómico o que vem ao encontro do género literário que vou voltar a usar. Na prática a corrupção instaura a comédia, com a manipulação de papéis entre os manipuladores e as vítimas.

A minha ideia é a de, utilizando a farsa, retomar a denúncia dos actos e factos de que me recorde e cuja anormalidade nos remeteu a este presente.

 Prevejo que resultem textos de comédia bufa, cheia de figurantes, entre impostores, bufões, heróis e vigaristas, por vezes simpáticos e matreiros, destacados para explorar as fraquezas e misérias do povo e onde as vitimas assumem já, muitas vezes, o hábito da vitimização. Sim porque a ignorância e analfabetismo, não desresponsabilizam de tanto desatino ao longo de tanto tempo. Tentarei descrever sem reverências, acontecimentos e episódios breves, usando a ferocidade satírica de que for capaz e o verbo às vezes soez, sobre assuntos porventura já arrecadados no sótão a aguardar arquivamento.
 Não havendo milagres que nos transformem a realidade que ao memos se parodie o ridículo das carreiras triunfais dos que nos têm feito a cama.

 Destes e para os que ainda estão vivos, deixo esta citação tardia de J.M. Servan – “ Um déspota imbecil pode obrigar uns escravos com correntes de ferro: mas um verdadeiro político amarra muito mais fortemente com as correntes das próprias ideias. È nas frouxas fibras do cérebro que assenta a base inflexível dos Impérios mais sólidos.”


O título para estes temas “Entre o ridículo e soez”

Helder Carvalho

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