A partir de 1740 o sector dos
vinhos do Alto Douro entra em crise.
Na opinião de Jorge de Macedo as
causas podem-se encontrar na concorrência em Inglaterra dos vinhos de outras
regiões portuguesas, no desenvolvimento do comércio vinícola com o Brasil que
provocaria a degradação da qualidade do produto e ainda uma baixa de produção
entre 1750 a 1755 o que levou também a uma redução drástica da exportação (de
1716 a 1749 a exportação atingiu as 19 000 pipas, de 1750 a 1753 decréscimo
para 16 000 pipas e de 1754-56 apenas 13 000 pipas; Se as exportações
diminuíram 30%, os preços no mesmo período diminuíram 80% (!). A adição de baga
de sabugueiro e de outras especiarias orientais para corresponder aos paladares
ingleses é também fator segundo vários autores para o descrédito do vinho do
Alto Douro.
Nas semanas que se seguiam à
vindima, normalmente feita nos fins de Setembro ou em Outubro, os exportadores
ingleses ou os seus corretores portugueses costumavam deslocar-se ao Alto
Douro, onde inspecionavam os vinhos novos e efetuavam as suas encomendas.” A
ganância de alguns e o descrédito do vinho do Douro e a baixa produção dinamizaram
a procura em outros locais do país. Acresce a pouca regulamentação existente
que instalava o caos no sector. Se a qualidade não tinha garantia os preços
sofriam as regras duras do mercado não regulado “Os vinhos do Douro corriam o
risco de se dissolverem economicamente numa região vinícola nacional,
desaparecendo o privilégio natural do seu quase exclusivo na exportação; a
região e os seus vinicultores estavam ameaçados de perder a preponderância no
mercado de vinhos.” A crise atinge muitas famílias da região. A fome, a doença
e o aumento da mortalidade proliferam.
Vários fatores se conjugavam para
uma urgente regulamentação e estiveram na origem da Companhia: a necessidade
sentida pelos operadores portugueses e o poder real de retirar o controlo do
comércio dos vinhos aos ingleses; a preocupação sentida da defesa da
integridade e qualidade dos vinhos combatendo-se o contrabando e os
“taberneiros” da Invicta que os “adulteravam” para defesa da saúde pública,
numa palavra lutar contra o deterioramento da reputação do vinho do Alto Douro;
e a decadência assustadora dos rendimentos da produção.
Deveremos atender à reforma profunda
do País protagonizado pelo Marquês de Pombal que não se adequava a este
desnorte e desorganização. Esta reforma visava a criação de uma burguesia nacional
forte, o combate aos interesses estrangeiros (particularmente dos ingleses) com
a receita mercantilista e monopolista, implementando todo um conjunto de “medidas de um poder do Estado
intervindo na luta da concorrência comercial entre vários produtores vinícolas
nacionais.” A criação da Companhia constituía o processo predileto de Pombal
contra os inoportunos comerciantes ingleses com quem tanto antipatizava [...] o
seu principal objetivo era destruir o monopólio inglês.” Bastava um clique para
se desencadear o processo.
Reafirma-se que, nesta época, o
vinho do Porto tornara-se a bebida obrigatória das classes alta e média de
Inglaterra e como escreveria, mais tarde, Croft em 1788 “Um inglês de certa
linhagem e posição não pode dispensá-lo depois de um bom jantar.” Os ingleses virão
a ser os principais prejudicados com a conceção da Companhia e o próprio
marquês nunca negou que eles eram dos principais visados.
Estava tudo pronto para
verdadeira revolução no Douro, mas esta não foi feita de veludo, nem pacífica,
pois muito sangue havia de correr, como iremos ver.
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