20 maio 2014

ÓDIOS DESNECESSÁRIOS: João Lopes de Matos


Hoje apetece-me meter-me pelos meandros da filosofia marxista.
É que muito boa gente julga que se trata de uma coisa vulgar, acessível ao comum dos mortais, e eu considero que se trata de algo só acessível a quem esteja habituado a desenvolver muitos raciocínios teóricos, abstractos, nada concretos, não referentes a coisas concretas e não manobráveis por qualquer homem concreto. Sim. Porque os homens em geral têm mais características de pensadores a partir do concreto do que a partir do abstracto.
Acontece que a interpretação da história, uma das bases da filosofia marxista , assenta numa ideia nada fácil de compreender: a dialéctica, que Marx foi buscar a Hegel, filósofo idealista. A dialéctica, neste sentido, consiste num método de pensamento que se desenvolve em tese, antítese e síntese. Há uma afirmação de partida, nela se gerando uma ideia oposta e, do choque entre a inicial e a oposta, surgirá uma junção das duas. A primeira é a tese, a segunda a antítese ou anti tese e, por último a síntese.
Fiquemos por aqui. Alguém interessado que trate de aprofundar estes conceitos. O desenvolvimento das três etapas, no decurso da história, irá dar uma lei científica, que dita forçosamente vários estádios da sociedade, que, inexoravelmente se seguirão uns aos outros.
Complicado, como vêem.
Na parte mais propriamente económica do marxismo, põe-se o problema de saber em que consiste o valor duma coisa. Qual será o seu valor? Em quê se mede esse valor? Pois, para Marx, o valor duma coisa mede-se pelo trabalho que essa coisa levou a ser produzida, pelo trabalho incorporado nessa coisa. Vamos entrar agora num outro conceito de Marx, a mais valia, expressão hoje muito em voga.
No sistema capitalista( iniciativa e propriedade privadas, lei da oferta e da procura), o capitalista, para a sua empresa, tem de comprar a força de trabalho( aquilo que o homem é capaz de fazer) e pôr essa força de trabalho a produzir coisas. O valor da força de trabalho, aquilo que o capitalista paga, é o trabalho que a força de trabalho levou a fazer(-se). Depois, esta força vai produzir coisas, que têm o valor do trabalho incorporado. E, como a força de trabalho é capaz de produzir mais trabalho do que aquele necessário para a fazer, resulta que o capitalista fica com a diferença entre o trabalho produzido pela força de trabalho e o trabalho que esta demorou a fazer-se. Nisto consiste a mais valia, que pertence ao patrão. E este nada rouba, porque paga o que deve pagar e recebe o que deve receber. Se alguma coisa é apropriada pelo patrão é a mais valia, que não é roubada mas é oferecida pelo próprio sistema capitalista. Por isso, não temos razão para chamar ladrão ao capitalista, porque não é ele que rouba mas sim o sistema. O patrão pode ser uma jóia de pessoa mas não consegue, nem que queira, deixar de proceder assim.
Quando, actualmente, vemos certos partidos a chamar ladrões aos patrões, concluímos que eles não são marxistas, ao contrário do que afirmam. Quando muito, podem chamar ladrão ao sistema e é este que deve ser substituído. Trabalhador e patrão, ambos são vítimas do sistema e não da preguiça ou da ganância de um e outro.
Mas é mais fácil chamar nomes para atiçar os ódios que ver as coisas como os próceres das doutrinas afirmam.
Como é que muito boa gente vai entender as teses expostas, dificilmente compreendidas?
Não há outro caminho, para os militantes, que reduzirem tudo aos seus odiozinhos, julgarem-se eles os virtuosos e considerarem que os outros têm  todos o diabo no corpo. Por isso, lhes interessa dizer que nem todas as pessoas de todos os partidos são iguais. Eles, os bem formados, são todos bons e os outros todos maus, quando, é por demais evidente que todos os homens são feitos de massa semelhante para não dizer igual.

João Lopes de Matos

2 comentários:

mario carvalho disse...

Gostei .. e fico feliz por me parecer mais animado!


O Bem e o Mal existem.. ou foram inventados? Quem beneficiou dessa invenção?

O Céu e Inferno existem... ou foram inventados? Quem beneficiou dessa invenção?


O Patrão e o empregado existem.. ou foram inventados?Quem beneficiou dessa invenção?


Sempre os mesmos.... os politicos e os sindicatos....LOL!


Marx escreveu o Kapital em Paris

. Marx era filho de um ilustre jurista e neto de um rabino.

Bebia do bom e comia do melhor... Escrevia à mãe a pedir dinheiro porque estava a escrever o Kapital, até que a mãe saturada de lhe enviar dinheiro lhe respondeu que não enviava mais pois quem sabia percebia de dinheiro era ele!

Acabou por renegar tudo o escreveu e o que foi!!!

Marx esse desconhecido


Nesta obra Arnaud Spire não pretende «reinterpretar» Marx nem fazer a triagem do que pode ou não ser «conservado» e ainda menos aplicar às nossas realidades um conjunto de ideias previamente identificadas como «comunistas». Este género de trabalho está sempre associado aos fracassos que se conhecem. Pelo contrário, as nossas realidades tornam possível uma leitura apropriada à estimulação de uma consciência que nasce, sem cessar, da pluralidade efectiva dos possíveis. Se o próprio Marx pode recusar a denominação «marxista» foi por razões de fundo essenciais: sedentarizar o seu pensamento num dogma, num ideal prévio teria contrariado o curso da sua marcha de transcendência dos positivismos e messianismos envolventes. É, pois, desta maneira, estranha a Marx, que a sua obra pôde – e pode ainda – ser lida e «praticada». Marx escreveu e reescreveu, muitas vezes, que o comunismo é um movimento real que a teoria apenas pode «manifestar»; esta nunca parou de pretender definir-lhe os contornos e de lhe determinar o devir. Bem entendido, que este desvio pode apoiar-se em textos contraditórios do próprio Marx e que Arnaud Spire, muito bem cita. Fica ainda que em sedentarizando o nómada Marx, este se tornou, um século depois, o mais desconhecido dos ilustres. Arnaud Spire procura demonstrá-lo a propósito do individualismo, da democracia, do poder, da religião e da propriedade. A proposição que «o grande mérito»do pensamento de Marx foi o de tornar possível a passagem de uma concepção «sedentária» do pensamento comunista a uma concepção «nómada» constitui um dos maiores contributos deste livro.

mario carvalho disse...

Já agora,para que conste, a velha máxima:

Os comunistas comem as criancinhas ao pequeno almoço!

Os capitalistas comem o pequeno almoço das criancinhas!

Quem se lixa sempre?

sempre os mesmos... as criancinhas
que somos... lol|