13 junho 2013

Um País Operático: Carlos Fiúza



 Excelência

Acabei de ler as suas declarações proferidas no dia 10 de Junho (dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas… do que lhe queiram chamar).

Peço desculpa por não o ter visto ou ouvido em direto mas, como Vossa Excelência deve entender, depois dos seus últimos atos para comigo (e para com muitos outros dos que discordam de si) não tenho muita vontade de o ver ou ouvir.

De acordo com o que li, o Senhor disse que “NÃO HÁ RISCOS ASSOCIADOS A UMA FRAGMENTAÇÂO SOCIAL”.

Meu Caro Presidente,

Lamento informá-lo mas ESTÁ ENGANADO, quiçá mal informado, mal assessorado ou, simplesmente, mal acompanhado.

Convido-o a LEVANTAR-SE DA SUA CADEIRA PRESIDENCIAL e a fazer uma visita ao “País Real”.

Como estamos em época de contenção de custos, proponho-lhe, desde já, uma viagem simples (menos de 20 euros por cada pessoa que queira levar na sua comitiva), recorrendo aos “bons” serviços da Carris e aos “excelentes” serviços do Metropolitano de Lisboa.

Repito: CONVIDO-O A LEVANTAR-SE DA SUA CADEIRA PRESIDENCIAL e a fazer uma visita ao País que temos.

Uma visita simples:

- Saia do seu Palácio Cor de Rosa, ao princípio da manhã, e apanhe um autocarro, aí mesmo, em Belém, com destino ao Areeiro;

- Ali chegado, meta-se no Metro e saia na Estação dos Anjos (ali mesmo, na Av. Almirante Reis), ao meio da manhã, para ver a fila de esfomeados (e são PESSOAS!) que ali se junta (a ali se aguenta um par de horas) para receber uma REFEIÇÃO GRATUITA, qual “Sopa do Sidónio”;

- Meta-se de novo no Metro, escolha uma qualquer direção e saia num dos grandes Centros Comerciais de Lisboa e vá almoçar;

- Observe as pessoas que deambulam nas zonas de alimentação à espera que os outros se levantem das mesas para, de forma rápida, se sentarem para COMER OS RESTOS DEIXADOS NOS PRATOS (e repare, repare bem, são PESSOAS que ainda se conseguem “apresentar” de forma suficientemente “bem” para escaparem à sanha dos seguranças);

- Apanhe novamente o Metro, um Autocarro (ou uma combinação dos dois) e vá até junto do Tejo; passeie à tarde, a pé, do Terreiro do Paço até ao Cais do Sodré e observe;
OBSERVE as pessoas que disputam com os Pombos e as Gaivotas as dádivas de comida, para espanto (e fotografia) dos turistas que nos visitam;

- Apanhe, de novo, o Metro (ou o Autocarro, ou os dois) e vá jantar a outro dos grandes Centros Comerciais da cidade e observe;
OBSERVE que se repete a cena do almoço (e olhe bem, são PESSOAS!);

- Não demore muito a jantar; apanhe a linha vermelha do Metro e saia nas Olaias por volta das 21:30 horas. Veja o aglomerado de pessoas (e são PESSOAS, Senhor Presidente!) que esperam ansiosamente a colocação, no exterior, dos caixotes do lixo dos supermercados para, cuidadosamente, tentar encontrar “coisas” que se possam comer;

- Já que está por ali, entre de novo na linha vermelha e vá até à Gare do Oriente, um dos símbolos indiscutíveis do Portugal Moderno; sente-se no muro junto à PSP e observe;
OBSERVE as pessoas (e são PESSOAS, Senhor Presidente, muitas pessoas!) que naqueles muros frios encontram a única cama que lhes resta para passar a noite;

Repito: CONVIDO-O A LEVANTAR-SE DA SUA CADEIRA PRESIDENCIAL e a fazer uma visita ao “País Real”.

Bem sei que o Senhor acha que eu sou pouco inteligente e que pertenço ao grupo de pessoas que, erradamente (as palavras são suas), escrevem contra o quase OÁSIS em que vivemos.
Mas, por uma vez, aceite um conselho meu:

- LEVANTE-SE DA SUA CADEIRA PRESIDENCIAL e vá sentir a VERDADE!

Se, por dificuldades orçamentais, esta visita não planeada não tiver autorização de verbas, ofereço-me, aqui, publicamente, para a custear.

Eu sei (reconheço-lhe isso) que o Senhor é superiormente inteligente.
Muito mais que eu.
Mas, se é assim inteligente, é IMPOSSIVEL não ser observador.

- LEVANTE-SE, POIS, DA SUA CADEIRA PRESIDENCIAL E OBSERVE!


Meu Caro Presidente,
Excelência,

Se depois desta visita (que graciosamente lhe desenhei) continuar a achar que NÃO HÁ RISCOS associados a FRAGMENTAÇÃO SOCIAL, então o caso é muito mais sério do que aparenta!

Sério e GRAVE!


Despeço-me, respeitosamente, aproveitando para lhe deixar um último conselho (meu e de todos os que ainda temos uma réstea de humanidade):

- Aproveite o facto de se ter LEVANTADO DA SUA CADEIRA PRESIDENCIAL e

… VÁ-SE EMBORA!


Um eleitor “ingrato”.

Em tempo:
Este escrito pretende ser uma “Carta Aberta” (ficcionada) a um qualquer Presidente (de ficção) de um qualquer País (ficcionável).


CF

15 comentários:

mc disse...

caro CF

só espero que os juízes ficcionáveis de um país ficcionável com um presidente ficcionável não o condenem a 200 dias de multa, a uma razão de seis euros e meio por dia, o que perfaz 1300 euros

mas se assim for .. vamos os dois .. concordo inteiramente consigo
cump
mario carvalho




http://www.publico.pt/politica/noticia/multado-em-1300-euros-por-mandar-cavaco-trabalhar-1597190

Anónimo disse...

Verdadeiro,acutilante,mordaz.
Gosto muito desta sua faceta.
Só não sei como tudo isto se resolve.
JLM

Anónimo disse...

Com os 1300 euros que ele fez pagar ao tipo de Elvas por o mandarem trabalhar, a "caveira", perdão, o "senhor silva", mais conhecido por cavaco, tem dinheiro de sobra para levantar o cu da cadeira e dar uma volta (apenas) por Lisboa! Por outro lado, a tutelar Maria que sempre o acompanha para todo o lado (não vá o aníbal perder-se...) sempre poderá arranjar uns trocos da sua caridadezinha praticada nas missas por onde costuma passear o rabo, e ajudar nesse périplo (tão bem) indicado por C.F.... Mas não, meus caros, o casalinho prefere passar os dias, refugiado da sociedade, a mandar na criadagem e a tratar das flores e dos passarinhos pelos belos jardins de S. Bento... Helas, meu caro C.F., mas devo reconhecer que foi uma portentosa tentativa!...

HR

Fernando Gouveia disse...

Parabéns por mais este texto, CF. Há muitos anos que venho escrevendo esta insensibildade dos políticos às dificuldades e ao verdadeiro modo de vida do país real, anónimo, besta de carga de todos os oportunismos políticos. O Sr. Silva é apenas mais um tecnocrata que, após duas eleições seguidas, não compreendeu minimamente que o povo não joga ma bolsa, não vive dos mercados nem dos golpes de habilidade, não vive acima das possibilidsades do país, mas, pelo contrário, vive muitos degraus abaixo da escala que deveria ser o padrão de justiça duma sociedade decente. Os amigos do Sr. Silva não estão certamente nos bancos da zona ribeirinha nem nas filas do desemprego. Passeiam-se tranquilamente por paraísos fiscais e hoteis de luxo, enquanto o povo paga com os seus impostos, cortes de salários e de pensões ou despedimentos colectivos os arranjinhos que conduziram o país ao descalabro social. É preciso denunciar, todos os dias, em todas as ocasiões, esta falta de vergonha e de decência. E não será uma eventual queixinha por alegado desrespeito que nos fará calar.
Somos muitos, seremos cada vez mais a exigir que esta choldra faça o que deve fazer: ir-se embora!

Anónimo disse...

Vamos supor que o sr.Silva era humano,mostrava um especial apreço por quem sofre.Granjeava mais consideração, é certo. Mas modificava alguma coisa da situação presente?É certo que podia ter uma acção mais pressionante sobre o governo.Será que assim evitaria o descalabro da economia e o desemprego acabaria? Mesmo Cristo,que tinha poderes para isso e era bom,não terminou com a lepra mas limitou-se a curar um leproso.Nós gostamos de bons sentimentos mas o que é necessário é a solução dos problemas. E isso conseguir-se-á,no contexto actual, sem uma intervenção financeira do BCE? Afinal, talvez uma operação meramente contabilística ou de engenharia financeira,eticamente neutra,possa resolver muito mais as nossas necessidades que os bons sentimentos do senhor de Boliqueime.
JLM

Fernando Gouveia disse...

Meu caro JLM:
Acontece que o Sr. Silva, para além de ter sido primeiro-ministro deste país durante uns bons anos, é Presidente da República há sete anos. Não se trata de lhe exigir bons sentimentos. Costuma-se dizer que um político não tem "estados de alma". O que se lhe exige é que conheça o povo que representa e o país do qual é um órgão de soberania com muitas competências. O que se lhe exige é o exercício da sua "magistratura de influência" para promover a estabilidade e o bem-estar do país, o regular funcionamento das instituições e o equilíbrio dos diferentes poderes. E é nisso que ele tem falhado sistematicamente.
Já escrevi publicamente que o fato de Presidente é demasiado largo para a sua estatura. Dou-lhe dois ou três exemplos:
-as infelizes declarações públicas sobre os seus alegados parcos rendimentos, agravadas pelo facto de ter omitido o essencial;
-O envolvimento com gente pouco recomendável, que saqueou este país e obrigou o povo a pagar os dislates. Esse envolvimento foi suficiente para lhe chamuscar o rabo, e não se livra da suspeita de concluio "habilidoso" para a compra e venda (com excelentes mais-valias) de acções do BPN para ele e membros da família.
- As intrigas que o seu gabinete fomentou contra o governo anterior;
-A incapacidade para travar a corrupção (não me venham dizer que não tem competências para isso) Bastaria um aviso da sua parte ao governo ou o uso da palavra no momento certo e ter-se-ia evitado o escândalo do BPN, o roubo da EDP ao país e outros negócios pouco limpos.
Talvez não resolvesse os problemas do país, mas podia evitar que se agravassem e que continuasse a bandalheira do desgoverno.

Cordiais cumprimentos.

Anónimo disse...

ASSIM É QUE É FALAR, caro Dr.Fernando Gouveia!

O sr. Silva continua a enterrar o país, segurando e manobrando nas pontas dos dedos os fios com que prende as "marionetas", que assim vão dançando grotescamente à laia de quem (des)governa...
A minha única esperança reside no resultado das eleições da Alemanha, lá para setembro. Se a Mer(da)kel desaparecer do mapa, e conjugando os resultados previsivelmente "favoráveis" das futuras legislativas em Portugal, Espanha, Grécia, Turquia e outras (a juntar à esquerda em França e com a Itália a "endireitar-se nos carris"), pode ser que a Europa se transforme e deite o lixo neoliberal para as calendas...
A ver vamos...
Um abraço solidário para todos os descontentes!...

Helder Rodrigues

Fernando Gouveia disse...

Acabei de receber de um amigo a carta aberta aqui colocada pelo CF. Esse facto veio colocar-me esta dúvida, que, relendo o texto publicado neste blogue, não consigo aclarar e, por conseguinte, peço ao CF que esclareça: O texto foi escrito por si, como eu pensei, ou limitou-se a colocá~lo no blogue? Obrigado!

Anónimo disse...


Meu Caro FG

Na verdade o texto (integral) não foi escrito por mim.
Como o achei interessane, limitei-me a adaptá-lo.
Razão pela qual não o assinei.

Esperava a reação ao mesmo para esclarecimento final.

Daí a ser uma carta aberta ficcional.

As minhas desculpas por qualquer má interpretação mas, "o seu a seu dono".

Anónimo disse...


Carta Aberta - “O Seu a Seu Dono”

Nunca foi minha intenção fazer passar por MEU o escrito em causa.

Peço o favor de não me considerarem tão “burro”.

Alguém acredita que colocaria no blogue (como meu) um texto que corria livremente pela internet?
Por favor… nem a um louco isso passaria pela cabeça!

Ao transcrevê-lo (com ligeiras alterações, confesso) pretendia, tão só, provocar as reações que teve (e já esperadas por mim).

No final, faria um paralelo entre os que geralmente escrevem nesse blogue e o que pode escrever (e bem) um qualquer “estranho” (anónimo) para todos nós.

Mais pretendia fazer prova que um texto (supostamente) escrito por qualquer um de nós talvez não tivesse o mesmo impacto se se soubesse “recolhido” (anonimamente) da internet.

Afinal, a minha “prova” está feita… nenhum dos leitores do blogue “desconfiou”.

E era só conferir…

Ao longo de todos estes meses nenhum escrito MEU fez referência a “ficção” e muito menos deixou de ser assinado.

Não sendo uma "defesa"... é uma explicaçção.

Cumprimentos
CF

Fernando Gouveia disse...

Obrigado, CF. Leitura apressada da minha parte. Está mais que explicado.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro CF: Bem que eu achei um pouco estranho o "seu" texto. Formalmente, era seu.Substancialmente, nem por isso.
Agora, achava engraçado que fizesse as apreciações às nossas reacções, para o seu exercício ficar completo.
Avance.
JLM

Anónimo disse...

Para que o tímido, desajeitado e provinciano Sr. Silva não tivesse chegado à Presidência era preciso que tivesse aparecido um opositor que lhe pudesse fazer frente.Ora, isso não aconteceu nem da primeira nem da segunda vez.De que se queixam? Para ganhar, é preciso apresentar alternativa que possa ganhar.
Quanto a desonestidade, acho que há piores, embora muitos se tenham governado à sua sombra.
Já repararam que muitos dos desonestos têm uma origem semelhante à nossa?
Nunca tiveram nada e depois querem ter tudo.Também é certo que só com muito dinheiro uma pessoa pode frequentar certos meios como os da Quinta da Marinha e hotéis da linha de Cascais.
Cavaco Silva é um dos nossos,da província e de origem humilde.
Como ele,todos nós temos que aprender a ser diferentes.
E digo mais: foi graças a ele que se formou no Estado uma classe média(nos funcionários)com algum dinheirito: professores,conservadores,juízes e outros.
A ele devo ter levado os últimos 20 anos com um razoável desafogo.
A ele se deve, segundo Cadilhe,seu colaborador, a origem do monstro.
Agora, vamos mas é ver como tudo isto se desembrulha e como nós todos nos safamos.
Cavaco não é assim uma peça muito importante.Todos nós é que não temos sabido arranjar melhor.
JLM

mario carvalho disse...

Pela coragem e objectividade, (para não mencionar conhecimentos e inteligencia) que tem demonstrado nas suas opiniões nem me preocupei com esses pormenores....afinal apercebo-me agora que me solidarizei e apoiei um anónimo qualquer .. que representa a grande maioria dos anónimos deste "protectorado"...

Mas continuo apoiá-lo sempre e sou vountário para servir de cobaia nos seus ensaios ou trabalhos sobre o comportamento humano

cump

mario carvalho

ps . a brincar ou a sério .. eu quando cito alguém ,,.. escrevo

citação ou identifico a fonte

Anónimo disse...


Meu Caro MC

Obrigado pelo seu "voluntarismo".

A sua posição (identificar, sempre, a fonte) é a mais lógica.

No entanto, no caso vertente, a identificação da fonte cortaria o fim que pretendia atingir:
- Quantos de nós, psicologicamente, apoiariam um "anónimo"?

O resultado do meu "exercício" aí está;
- Damos mais valor ao que nos é conhecido.

Peço desculpa pela "fraude"... mas o exercicio do conhecimento da mente humana é o meu fascínio... está-me no "sangue".

Cumprimentos
CF