08 março 2013
A mulher no mundo rural
Um dos mitos que mais tempo perdurou na sociedade rural foi o de que situa a mulher como inferior e submissa. Todos conhecem na Bíblia a alegoria da criação: Eva originária de uma costela de Adão, Eva criada para que o homem não ficasse sozinho e pudesse procriar. A mulher simboliza a tentação, o pecado da carne, o desejo de sexo e é responsabilizada pela perda do paraíso terrestre. Também na mitologia grega, o Mito de Pandora apresentava uma identidade negativa para a mulher. Pandora, a primeira mulher, instrumento de vingança de Zeus, era portadora de uma caixa onde se concentram todos os males que assolam a humanidade.
Ao longo dos séculos, este mito de subalternidade da mulher cresce, o seu papel social identifica-a com a maternidade o que a remete para o domínio do lar e do privado por oposição ao homem que se situa na esfera pública. Esta fraqueza e inferioridade são atenuadas pela propriedade de ouro, adquirido em herança ou ofertada pelos companheiros em formas voltas para o pescoço, pulseiras e arrecadas.
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Na grande maioria dos lares, as mulheres governavam a casa, que pressupunha o “tratar do tacho”, fazer o queijo, as compotas, acarretar a água no caneco, “arranjar” a casa, cuidar dos filhos e até vigiar os maridos nas tabernas: incluía levar alguns, à altura do fecho, para casa, já convenientemente alcoolizados. Lavavam, cardavam, fiavam e tricotavam lã para fazer camisolas e meiotes para o frio do inverno; faziam o sabão com as borras do azeite que “lavava melhor que a comprada no soto”, diziam.
Trabalhavam no campo. As mulheres ganhavam menos que os homens e tinham os seus trabalhos específicos: a monda, a apanha das vides, a plantação das batatas, a enxofra, o enrolar e o apertar dos pompos das videiras, acarretar o sulfato para a vinha, ceifar, malhar, vindimar… Ainda em casa desgrenhavam o feijão, descaroçavam o milho, faziam os vencelhos…
As habitações varriam-se uma vez por semana, com exceção do lar, todos os dias. As grandes limpezas realizavam-se nas alturas do Natal e da Páscoa.
No Verão, uma das principais ocupações era o carrego da água. Cada uma tomava a sua vez junto do fontenário. Sempre que o caneco, feito de madeira, está cheio, colocam em cima da cabeça uma rodilha, onde equilibram as vasilhas que transportam num perfeito equilíbrio para as habitações e para as hortas.
A lã e o linho ocupavam boa parte do tempo que sobrava às mulheres no campo. Eram a matéria-prima do enxoval dos camponeses ricos ou pobres.
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extratos do livro "Selores ...e uma casa"
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