22 setembro 2012

Vindimas

Setembro vindimar.
Nos fins deste mês, início do Outono, inicia-se a colheita das uvas e a sua vinificação. É o culminar de todo um ano de trabalho e sacrifícios, de canseiras, de amor, pois como dizem “a vinha gosta de ver o dono muitas vezes”. Primeiro a tesoura, as vides, depois a lavra, a descava, os enxertos, a enxofra, a espompa, a erguida, a redra, o sulfato, a desfolha e a vindima. Nove meses de canseiras e preocupações com as geadas, o bicho “cabrito”, as trovoadas, o míldio e oídio, a seca.

Quando o sol começa a  pintar tudo de tons dourados, a azáfama das pessoas aumenta à medida que os dias arrefecem. Primeiro a ribeira e “Ala!” que é de aproveitar as muitas jeiras que as quintas oferecem. Muitos para lá emigram uma ou duas semanas e até um mês. Nas meroças do Douro grupos de vindimadeiras ajoelham-se junto às videiras para colherem os gatchos com que há de fazer-se o nobre vinho, batizado de Porto. Os carregadores de cesto às costas saracoteiam pelos socalcos numa azáfama de formigas incansáveis. No vale ecoam canções populares. Pelo ar o odor das uvas e lá em baixo o rio calmo e taciturno segue o curso alheio a tudo.

Na aldeia é a altura de esquecer partidas de mau tempo. Todas as mãos são precisas e toda a família participa – "trabalho de menino é pouco, mas quem o desperdiça é louco" - e são frequentes as combinações de calendário para que todos possam participar na vindima de todos. Feita a colheita, transportavam-se as uvas em canastras nas burras, nos carros de bois.

O vinho é pisado nos lagares por homens de calças arregaçadas até aos joelhos, corpos unidos, abraçados pelos ombros, erguem e baixam as pernas como estranhos guerreiros. À voz do mandante: - “Todos à uma: esquerdo...direito…; esquerdo…direito; esquerdo…direito….”. Por fim, ouve-se o grito de liberdade, recebe-se a posta de bacalhau, o naco de pão e a garrafa do vinho e começa-se a deambular pelo lagar, sempre a pisar, levantando bem as pernas e percorrendo todo o espaço. Sobra o tempo para as brincadeiras e as cantigas mais ou menos afinadas. Lagares há poucos, mas são mais que suficientes. Paga-se a renda respetiva ao proprietário - um, dois, três almudes…

Os mostos ainda a "ferver, carregam-se nas vasilhas para as pipas e os toneis em almudes à cabeça das mulheres e aos ombro dos homens.

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