21 julho 2012

– Uma viagem à Casa da Moura ii –

Quem vem de Carrazeda a Zedes pode seguir o itinerário mais belo e mágico que conhecemos – o caminho da Casa da Moura, intercetado pela força do progresso que toma expressão nas modernas rodovias em que motor de explosão é rei e senhor em desfavor da ferrovia lenta, incómoda e ultrapassada e agora imolada à necessidade de mais energia, que é o mesmo que dizer, mealheiro de interesses que não são, com certeza, nossos e pouco ou nada nos dão em troca.

 Mas, este é o fado que sempre carregamos: levam-nos os recursos naturais sem contrapartida visível. Quando puderem, levar-nos-ão também este ar sereno, saudável e puro, nem que seja engarrafado.
Saídos da terra das carraças, Pires Cabral o escreveu, mais uma tentativa para explicar vocábulo tão esquisito a estranhos. Pois não era preciso esse incómodo. Daqui partidos, sem cara azeda, e com tempo de sobra porque nestas viagens de descoberta, há que ter hora para partir e não para regressar. 

Vamos de encontro às modernas rotundas, símbolos maiores da nossa modernidade, porque os dez conjuntos escultóricos da Miecal, afiança a grande maioria, não são mais que um conjunto de calhaus, um desperdício de dinheiros públicos, copiosamente adjetivados de impropérios que o decoro nos obriga a não proferir. 
 Ao lado da saída poente de Carrazeda, a mais pujante obra do esforço privado dos carrazedenses, a zona oficinal e artesanal, que não chega para estancar o contínuo despovoamento do concelho.
Mais adiante, o resultado da guerra da indiferença e da marginalização, o bairro do Iraque. Aí poderemos perder a vontade de prosseguir se refletirmos um pouco como os poderes públicos, têm votado um grupo de cidadãos ao abandono e à marginalidade. 

Não vai compensar apressarmos o passo, pedalar com mais vigor ou acelerar para queimar os pneus porque o fim do alcatrão está muito perto. Não vamos seguir pela terra batida pois esta é uma via sem saída e não daremos grandes voltas à cabeça para compreender que decorridos cerca de uma vintena de anos ainda não foi possível concluir esta malfadada variante. 

(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Será que Carrazeda não virá um dia a ser conhecida pela "Vila dos Calhaus"? Foi, de certeza, essa a ideia que presidiu à erecção das pedras.Os turistas afluirão em breve aos milhares a mirar os calhaus.