15 julho 2012

Feira III


(...)
 Meu pai conta-me das caminhadas às feiras de Mirandela, ao Cabeço da Senhora da Assunção, a Vila Real, a Além Douro para as feiras do gado e a compra das “burras” para o trabalho. Caminhadas de várias horas, com o coração nas mãos porque era esse um tempo de quadrilhas nos montes, que acudiam aos caminhos e encruzilhadas, de pistola ou faca em riste e que ameaçavam, “carteira ou vida”, quase sempre de perda pecuniária para o viajante. Andanças que os espíritos mais fracos encontravam, nos cruzamentos, almas do outro mundo que somente a reza certa e a fé em Deus conseguiam esconjurar. Jornadas épicas de muitos quilómetros, a pé ou a cavalo, em que se bebia o copito e se comia nas tabernas, colocadas em sítios estratégicos, a lata da sardinha, o peixe frito e a lasca do bacalhau, que sabiam pela vida; se levava o cabaz da merenda para compartilhar à sombra de um qualquer carvalho na tarde morrinhenta da despedida. Aventuras onde se faziam, se reencontravam amigos de ocasião, ou que ficavam para toda a vida, mas também onde se viam ovelhas, cabras, bois e vacas, mulas, machos e cavalos, se tomava o pulso do mercado da “cria”, e se fazia o negócio da compra. venda e troca. Sim, troca! Não raro trocava-se a “cria” velha pela nova, o burro pelo macho, etc. Viagens, aventuras, andanças, caminhadas que deixavam muito para contar à sombra do negrilho.
 (continua)

1 comentário:

mario carvalho disse...

INTERIOR À BOMBA

a realidade .. nua e crua


http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=2648612&opiniao=Daniel+Deusdado