(...)
Meu
pai conta-me das caminhadas às feiras de Mirandela, ao Cabeço da Senhora da
Assunção, a Vila Real, a Além Douro para as feiras do gado e a compra das “burras”
para o trabalho. Caminhadas de várias horas, com o coração nas mãos porque era
esse um tempo de quadrilhas nos montes, que acudiam aos caminhos e
encruzilhadas, de pistola ou faca em riste e que ameaçavam, “carteira ou vida”,
quase sempre de perda pecuniária para o viajante. Andanças que os espíritos
mais fracos encontravam, nos cruzamentos, almas do outro mundo que somente a
reza certa e a fé em Deus conseguiam esconjurar. Jornadas épicas de muitos
quilómetros, a pé ou a cavalo, em que se bebia o copito e se comia nas tabernas,
colocadas em sítios estratégicos, a lata da sardinha, o peixe frito e a lasca
do bacalhau, que sabiam pela vida; se levava o cabaz da merenda para
compartilhar à sombra de um qualquer carvalho na tarde morrinhenta da
despedida. Aventuras onde se faziam, se reencontravam amigos de ocasião, ou que
ficavam para toda a vida, mas também onde se viam ovelhas, cabras, bois e
vacas, mulas, machos e cavalos, se tomava o pulso do mercado da “cria”, e se fazia
o negócio da compra. venda e troca. Sim, troca! Não raro trocava-se a “cria”
velha pela nova, o burro pelo macho, etc. Viagens, aventuras, andanças,
caminhadas que deixavam muito para contar à sombra do negrilho.
(continua)
1 comentário:
INTERIOR À BOMBA
a realidade .. nua e crua
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=2648612&opiniao=Daniel+Deusdado
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