10 junho 2007

A Vida está para os Coveiros

No momento em que escrevo estará a decorrer em Carrazeda mais um encontro de confraternização entre carrazedenses, residentes e vindos de Lisboa e arredores.
Daqui partem os meus votos de que dessa confraternização ao menos resulte para os mais entusiastas, uma boa bebedeira que lhes dê folga e os ajude a esquecer momentaneamente, a realidade da vida e a triste miséria de se viver longe das raízes.
Para mim o que mais me envergonha é constatar que a minha terra não dá condições de vida a quem nela nasce. Um dia fui convidado a fazer uma medalha alusiva ao meu concelho. Depois de apresentada, fui muito criticado por nela incluir uma alusão, considerada excessiva, ao emigrante. Há realidades históricas que tendemos a procurar esquecer mas, que seria de nós se a nossa gente não emigrasse à procura de sustento!
E contudo sou dos que acreditam que poderia ser diferente se soubéssemos gerir e potenciar bem as nossas sinergias.
Factos recentes corroboram as minhas interrogações e cepticismos sobre a pobre realidade que vivemos e, pior ainda, perspectivam o triste fado que provirá.
Os grandes investimentos na terra têm sido obras de fachada previstas para recreio e lazer, não se sabe bem de quem, dado que se constata a continuada debandada de residentes. A quem se destinarão estas obras de fachada se não houver gente a viver por aqui! Quem será que no futuro sustentará estes investimentos e pagará os juros! Ficará alguma coisa que se aproveite que ajude a rejuvenescer o concelho?
Recordemos o modo humilhante como deixamos fechar a urgência do nosso Centro de Saúde, sem garantir contrapartidas de melhores serviços, para quem vive descentralizado. Recordemos como temos deixado que sejam preteridos a nosso favor investimentos centrais, por exemplo em infra-estruturas várias. Recordemos como têm sido desactivados organismos como a loja da EDP, a Casa do Douro, os serviços da agricultura, etc.
Recentemente tive conhecimento de que se teria já decidido superiormente retirar a Comarca ao concelho de Carrazeda de Ansiães, passando o julgado a pertencer a Vila Flor.
Este direito foi sempre considerado motivo de orgulho e elevação, prova de poder conferido e justificado, até pela história e valor dos nossos antepassados. Qualquer carrazedense, orgulhoso da sua terra, teria reagido a tal humilhação e teria pelo menos perguntado, quais os fundamentos de tal decisão e que contrapartidas melhores, dai viriam a resultar. Não me consta que nas instâncias que nos administram alguém se tenha sentido na obrigação de obter respostas para tal.
Afinal, bem vistas as coisas talvez merecemos o que nos dão. E se o que nos derem continuar a ser, vinho e circo, talvez ajude a queimar os neurónios que ainda persistem e teimam em manter a cabeça de alguns, racional.

Hélder Carvalho

1 comentário:

Hélder Rodrigues disse...

Quem fala assim, não é gago...
E agora? Quem é capaz de contraditar tamanhas evidências?...