03 junho 2007

Quem nos (des)protege o ambiente?

gravura retirada do site do ICN do Parque Natural de Montesinho que se aconselha a visitar

Protecção da Natureza

A recente polémica entre a administração central e as autarquias locais sob o controlo das áreas protegidas merece uma reflexão. A questão do afastamento total das autarquias das decisões a tomar nas áreas protegidas levou os autarcas dos municípios com território classificado a ameaçar recorrer aos tribunais. Esta medida insere-se mais uma vez na filosofia de centralização de serviços que este governo advoga, cujo único objectivo será o economicista, isto é poupar com medidas que penalizam particularmente as regiões limítrofes. Porém, se à primeira vista, a medida poderá parecer aceitável, depressa se pode também concluir que nada terá validade na área do ambiente sem a colaboração das populações locais.

Nesta problemática do controlo ou da influência da administração central no ordenamento da natureza no interior, para além de outros, que haverá, permitam-me ângulos de análise.

Primeira: a relação do homem com a Natureza foi sendo pautada por um certo equilíbrio e este foi desfeito sempre que factores externos se intrometeram. Deu brado a introdução do pinheiro bravo nas regiões transmontanas e beirãs no início do século passado, face a uma posição hostil das populações autóctones que viam na medida a diminuição dos pastos, essenciais a uma agricultura de subsistência. Os incêndios florestais e o desaparecimento de árvores autóctones foram as duas maiores consequências nos tempos de hoje, Mais tarde a mudança do paradigma de agricultura familiar para a dita empresarial introduziu novas formas de cultura, como sejam as frutícolas que tiveram de recorrer a herbicidas e pesticidas que subverteram todo o equilíbrio ecológico, cujo impacto ainda hoje está por avaliar de uma forma exaustiva.

Segunda: A política dos sucessivos governos tem levado ao despovoamento do interior. Por parte da administração central e regional ainda não houve respostas capazes para a partir desta realidade se fazer um reordenamento florestal e ambiental sério do território.

Por último a transformação como se pretende do interior numa grande reserva terá de ter compensações para os que ficam. Quem por cá "resiste" terá de ser “compensado” pelo conjunto de “impossibilidades” que lhe são impostas face à necessidade de preservação do espaço em que vivem. A protecção dos ecossistemas é vital ao futuro da humanidade, contudo os que não os preservaram (regiões mais humanizadas e povoadas) terão de contribuir a quem exigem uma atenção ecológica.

Nesta questão ambiental começa a crescer a minha susceptibilidade, até mesmo irritabilidade ao radicalismo ecológico, pois o meio ambiente só terá sentido se o homem tiver possibilidade de o fruir. Não faz sentido criar espaços onde ninguém possa entrar para além de meia dúzia de privilegiados.

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