18 novembro 2006

O estado da nação

Segundo os estudos de audiência, a entrevista de 5.ª feira de Santana Lopes na RTP1 teve mais espectadores do que a de Cavaco Silva na mesma hora e no mesmo dia na SIC. As personalidades são conhecidas e têm a importância inerente: um é o actual presidente da República, o outro foi um dos piores chefes do Governo do Portugal democrático; um ganhou a sua eleição com maioria absoluta, o outro proporcionou ao seu partido a pior derrota depois de Abril; um estará morto politicamente, o outro continuará a ser uma das personalidades que mais influenciará a vida dos portugueses nos próximos anos. Os temas abordados não têm também comparação: numa falar-se-ia em ajuste de contas com os fantasmas de um anterior primeiro-ministro que se acha incompreendido por todos e por todo é atacado; na outra abordar-se-iam os grandes temas do país e aguardava-se a opinião do mais alto magistrado da nação sobre os temas mais polémicos da actualidade e despoletados pelas chamadas reformas do governo de Sócrates. Com o decorrer dos debates, as audiências mantiveram-se mais ou menos estáveis, mostrando que a maior parte dos telespectadores considerou a conversa de Santana mais importante que a de Cavaco. Aquele num discurso previsível, esgrimiu argumentos inverosímeis, porque inacreditáveis, de perseguições pessoais, incompreensões injustas, ameaçando voltar à política, qual ufano D. Quixote, liderando exércitos imaginários de indefectíveis para assim consertar de vez um país aos bocados. Cavaco Silva sancionou com o apoio mais que explícito a dita praxis reformista do executivo do PS, arrostando contra a base de apoio que o elegeu e situada na actual oposição.

O que motivou, primordialmente, a vitória de Santana no espectro televisivo foi a matriz de que é feito o nosso quotidiano, isto é, a prevalência das emoções mais primárias: a intriga, a maledicência, a novela ligeira, a futilidade que prevalecem sobre a reflexão e os temas concretos que a todos deveriam interessar. Nada me espantará um eventual regresso do “pequeno guerreiro” que numa primeira fase regressará às revistas da especialidade para depois ser protagonista de um enredo cor-de-rosa virtual e, no final, mais uma vez, acordaremos com a triste realidade feita de oportunidades perdidas. E eis um verdadeiro retrato deste país, no final ganhou a novela da TVI.

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