Fogo e paixão, a desmesura corre nas veias de Medeia. Que não permite transigir com a traição de Jasão... Daí, os extremos inaceitáveis de congeminar o filicídio! O mesmo quando re_
vejo no blog todos-quantos gostariam de acabar com os filhos de Ansiães, só porque pensam de forma diferente... Ou com um em especial: Hélder de Carvalho. E o ódio é tanto que confundem a pessoa e a obra. Para esses, tudo dele não pode ser senão mau. Mesmo o amor à Terra, porque diferente do seu, o vêem como desamor. Mas, caros amigos, todos temos qualidades que, para uns, vão defeitos e defeitos que, para outros, fazem suas qualidades. Se vamos por esse caminho transformamos em pobres alcoviteiras vicentinas. E a mim apenas me interessa a exaltação do mínimo, pois se odeio a Guerra é porque amo uma outra coisa, Woody Allen, Nem Guerra Nem Paz, no relâmpago em que... Cai na vida breve, ao poema de Herberto Helder, "No sorriso louco das mães":
No sorriso louco das mães batem as leves gotas de chuva. Nas amadas caras loucas batem e batem os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões e órgãos mergulhados.
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado, vendo tudo, e queimando as imagens, alimentando as imagens, enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares da chuva, em volta das candeia. No contínuo escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos, e atiram-se, através deles, como jactos para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior de muitas águas, e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa, e através dele a mãe mexe aqui e ali, nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo, e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
Ansiães. Mãe de todos _ _ seus filhos. É o meu sonho — que hei-de fazer?
Aliás,
falei apenas sobre o que me sugerem as suas esculturas — ou melhor, uma em particular, "Os acrobatas", que vi com José Mesquita e Paulo Moura, no Porto. Entrar por outro lado, não seria pensar... Vem nos livros: se não há argumentos, ataca-se a forma ou entra-se na péssima questão de ordem pessoal. Mais: contra isso,
recuso entrar em polémicas políticas, que só servem para dividir e não aprender com o Outro... do Outro. Na vez de pensar,
_ _ tocar as cordas sensíveis de Ansiães, como Medeia — ao mais puro acto de terrorismo. Pois ao matar os filhos, se mata o Futuro. Sim,
eu sei que muita gente adora cantar "Sangue no Asfalto" dos bens da Mão Morta, por Adolfo Luxúria Canibal. Eu sei. Mas não sou como o cineasta João Nicolau: um ornitólogo amador, a quem sempre fascinaram as aves de rapina, os Rapaces...
Embora muito-muito goste da letra que se ouve, em hip-hop, na sua curta-metragem seleccionada para a Quinzena dos Realizadores de Cannes:
O meu bairro começa por T
A menina do café chama-se Tata
Toda a gente tá-tá muito bem sentadinha no cafééé
No meu bairro o papá tem papel
E vota PS
E nada acontece
E vota BE
Sei lá eu porquê
É uma moda pós-PCêêê
No meu bairro a mamã é profe
De História e tartes
E confunde as partes de um jogo de futebol
vitorino almeida ventura
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