04 abril 2006

Tudo bem ligado

1. Outro dia estava a ler uma entrevista do David Cronenberg ao jornal O Público e imaginei o que diria o próprio cineasta a quem vem ao blog achar-se intocável, levando-se totalmente a sério numa auréola de santo. Quem não é capaz de rir de sua fragilidade. Da condição humana... David Cronenberg — Se pensarmos que somos os maiores, estamos condenados. É preciso ter uma boa medida de auto-dúvida e auto-escrutínio, ao mesmo tempo.

2. Depois, outros há que pensam que pensam... Que os que estão fora, racham lenha! Que nada sabem... David Cronenberg — Quem sabe mais sobre a água? O peixe que está nela ou o pescador que está de fora? Precisamos de ter um ponto de vista exterior a nós mesmos para realmente sabermos o que somos.

3. Desde os tempos em que li na mocidade a colecção cowboy do meu tio Mário Almeida, nas férias ao Pombal, que penso como Wim Wenders: que a minha consciência nessa aldeia (global) tinha sido colonizada pela América... Nem preciso falar dos filmes de John Ford, na televisão... no rock’ n roll... A América teve uma maneira de exportar a sua mitologia e isso é que nos devia preocupar — a exportação da nossa identidade e não perdermo-nos com guerrilhas que nos trazem apenas... a implosão!

4. O que no blog 'pensar ansiães' há de melhor é uma frase de Bob Dylan: ‹‹para mim, não existe branco ou negro ou esquerda ou direita. Só existe altos e baixos e baixo é muito perto do chão››.

5. Quando um crítico disse a Neil Young: ‹‹você perdeu-se no álbum "Greendale"››, Young respondeu — ‹‹foi precisamente ao contrário, você é que se perdeu, porque eu sabia onde estava››. Às vezes, quando me perguntam: — _ que aconteceu?, onde é que estavas?, eu penso em Neil Young, digo: nas pessoas que no blog (e fora dele) vieram ao meu encontro.

6. Para finalizar, recomendo: o Teatro Plástico. Até ao parque de estacionamento _ _ "Na Solidão dos Campos de Algodão" de Koltès... Aconteceu teatro na sala dos arquivos da alfândega, no antigo escritório da companhia, num palacete devoluto, num barco, num jardim... Aconteceu.

vitorino almeida ventura

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