12 novembro 2005

Muro abaixo

O muro caiu por vontade própria.
Esta é a opinião da maioria dos entrevistados, pelos órgãos de comunicação que deram a notícia do acontecimento.
Por vezes a queda de um muro é motivo de grande contentamento e fundadas expectativas.
Será este o caso! Aqui reside a grande dúvida.
O facto é que ninguém antes conseguiu demover quem manda, de que o muro devia cair, para dar lugar a mais espaço e liberdade. E finalmente, cansado de tanto esperar, como quem compreende o incómodo, o muro decide-se e cai. Tudo isto, não sem que antes tenha programado a data da sua queda.
Por tal facto, este acontecimento tornou-se o acontecimento do mês, em Carrazeda de Ansiães. Aqui está um êxito que deve ser louvado e recordado.
Aparecerão agora os responsáveis a tentar adiar o inadiável. Irão responsabilizar os confinantes da sua responsabilidade legal na resolução do problema. Irão determinar que o Chefe de Departamento delegue no Chefe de Divisão que proponha ao Encarregado Geral, que diligencie junto Encarregado de Obras que, calcule junto do Pedreiro de Primeira, uma proposta para que a tarefa de reconstrução, seja iniciada pelos serventes, depois de decidida em Reunião de Câmara sob proposta do Exmo. Sr. Presidente. Na altura já terão sido feitos todos os cálculos, planos e orçamentações, faltando só depois inventariar as derrapagens e os cálculos das obras não previstas. Por essa altura terá sido dado também o parecer, entretanto pedido para o IPPAR, que garantirá tratar-se de uma o obra patrimonial importante, a carecer de um tratamento de restauro cuidado e atento, recomendando o acompanhamento por arqueólogos habilitados.
Apesar de tudo e por tudo isto, já poucos acreditam que, desta vez, seja possível escapar á tomada de decisões, malgrado o ranger de dentes dos responsáveis. Efectivamente também estes reconhecem que, não fosse a decisão prepotente e unilateral das pedras do muro caírem, nada disto teria acontecido.
Outros confiam que tal facto seja apenas o início da queda de mais muros, para que entre os escombros se comecem a vislumbrar horizontes de liberdade.

Hélder de Carvalho

2 comentários:

josé alegre mesquita disse...

Lembra-se que o terramoto de Lisboa e a consequente destruição da cidade levou a uma verdadeira revolução na urbanização da cidade.

josé alegre mesquita disse...

Abençoado muro que caiu! Hoje iniciaram-se as obras de alargamento da rua.