(opus sebastinista, 05)
com toda a cama,
com toda a trama,
com toda a lama,
a gente vai levar nossa chama.
Chico Buarque
[A informação de base é simples: tudo se passa como uma X-wife, após um divórcio litigioso, com aquela ideia de poder (ou melhor: de propriedade usurpada pela nova companheira) sobre o ex-marido, se em sua cabeça ecoa(va) a eternidade; aplicável a muitos X de pequenas e grandes empresas, como agremiações e autarquias, quando afastados, porque em sua cabeça ecoa(va) um Rei... Não se adaptando à nova situação, desapossados, têm apenas como ideia fixa — a crença de sua reencarnação no Desejado.
Para muitas como muitos X, a culpa é do Fado: Tudo isto é triste/Tudo isto existe... Como uma Rosa Enjeitada. Coitadinha... Tal vitimização constante transforma-se às x em mania de perseguição, mesmo quando alguém vem por sua defesa, integrando já um comportamento patológico de ficção científica... Invasion of the Body Snatchers de Don Siegel... Que paranóia! Além da justa combinação de Sade com Masoch... Que muitos e muitas X permanecem em contacto, e se amor não é já possível, ligam (a)o ódio — como se a única forma de manter o/a X fosse partir para a guerra. Línguas que dão e levam... Do anterior consorte à gente que ocupa agora o seu (possessivo adjunto do) Lugar. Dão e levam. Segundo _ princípio do divino Marquês: — Só a quem bato, e me bate... por Masoch, eu dou amor.]
Há um mal — não direi de siécle —, mas que vem grassando-grassando. Como em Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles, _ _ _ o empenho em sair do círculo de rejeitados: aquele de que Dante se esqueceu no seu inferno.
Quando um Ex- se vê ao espelho… E o presente é de nada — num passado em que ali se pensou ver tudo. Então,
quando tudo, quase-tudo se formou pela mão de Outros, a quem numa subtil estratégia da aranha foi, por acto e omissão, enredando na teia do Esquecimento... E quanto nos semeava, como poderia deixar um dia de colher-se? De_
pois a culpa é da Crítica: de não exibir o seu filme a preto e branco — de jogos florais e silêncios, redoma em que sempre _ _ entronizou. Mais: A culpa é dos cronistas: De
cedo trocarem um fadinho de cordeiro em sacrifício por um retrato de lobo (amigo!) na pele do cordeiro, que se ri... ou chora de rir, pelo ventre e pelo dorso, como se lê demorada_
mente: sem uma única ideia, senão de especular-se, _ _ negativo cuja raiz está etimologicamente ao espelho da Rainha...:
— Espelho meu, será alguém melhor do que Eu?
Mais ainda: é do Presente, a culpa de inventarem uma-qualquer Branca de Neve, essa outra ficção para o Lugar (seu!) de rei de copas sem espessura — do outro lado do Espelho:
Sem poder enviar um-outro-qualquer caçador matar quem ocupou _ seu Lugar deste lado do espelho... Corre. Vai _ Rainha Má, ela-própria dar-Lhe a maçã... pelas zonas de sombra que criou. Como _ pecado original lhe é devolvido... no Tempo em que, sobre um Tempo quando.
Post Scriptum: Não esqueçam — o ogre Shrek, por recuperar o seu adorado pântano! Enfrenta uma caça às bruxas... E a todas as personagens animadas. Já sei que o Ex- (aqui, no papel de Lorde Farquaad) não concebe mais do que dois (ou três) iluminados... Mas eles existem, como vê o amoroso burro. Falando-barato:
— Ou o problema será mais que o Ex- não exista para eles? para eles-Crítica, -cronistas, -Presente... de Luz! Que ‹‹o louco de verdade come merda mas no teatro pode ficar sublime›› (in As Horas Nuas de Lígia Fagundes Telles, Prémio Camões, 2005).
Vitorino Almeida Ventura
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