09 abril 2005

Um grande coração

HOUVE papas que se notabilizaram pela astúcia diplomática. Outros pela força doutrinária. Outros pela capacidade organizativa. Outros pela habilidade na gestão de conflitos. Outros pela elegância do discurso. Outros ainda pelo espírito reformista.
João Paulo II não teve como principal característica ser um grande diplomata, nem um grande doutrinador, nem um grande organizador, nem um grande gestor de conflitos, nem um grande tribuno, nem um grande reformador: aquilo que verdadeiramente o distinguiu foi ter um grande coração.
ESSE grande coração deu-lhe uma inesgotável capacidade de amar.
Karol Wojtyla amava Deus ardentemente.
Mas também amava ardentemente os homens.
E a vida.
E a liberdade.
E a Paz.
Foi essa capacidade de amar, que se lhe lia no olhar e na expressão do rosto, que fez dele um Papa tão popular.
As multidões que acorriam a recebê-lo podiam não perceber por vezes o que dizia - mas sentiam a força enorme do amor que ele tinha pela Humanidade.
Pressentiam a grandeza do seu coração.
Havia, entre ele e a multidão, uma corrente afectiva que passava.
FOI este coração grande, enorme, que levou o Papa a viajar por todo o planeta ao encontro dos católicos e dos fiéis de outras religiões.
A condenar os atentados à vida humana, no início, no meio ou no fim.
A defender, em todas as circunstâncias, a paz.
A lutar pela liberdade.
Numa época marcada pela voracidade na disputa dos bens materiais, pela competição desenfreada, pela luta pelo poder, pelo primado do dinheiro, pela ausência de valores, João Paulo II difundiu uma mensagem simples: para ser feliz basta ter um coração grande.
Porque essa é a fonte de um bem que não se compra com dinheiro nem se alcança com poder - e que, no entanto, é essencial à vida: o amor.
Sem ele, definha-se e morre-se.

Editorial - Expresso
9 Abril 2005

Sem comentários: