19 dezembro 2011

“Natalis Dies”: Carlos Fiúza




NATAL é palavra suave que ao nosso coração faz afluir paz, esperança ou, ao menos, poesia...

Em todas as línguas, o nome da noite santa é delicioso, quero dizer, todas as maneiras de nomear a noite de Natal se tornam poéticas, porque a poesia, a beleza está no que se sente, e não na palavra que se disser.

A noite "sacratíssima" em todas as línguas, ao expressar-se, traz ao espírito a mesma intensidade poética: seja no semelhante vocábulo italiano “Il Natale”; seja na expressão espanhola de “Pascuas de Natale”; seja nesse termo francês tão conhecido de “Noël”; seja, até, em qualquer outro nome como o inglês “Christmas”, missa de Cristo, ou o alemão “Das Weihnachten”, noite consagrada.

Em português NATAL é uma palavra simples; sua própria categoria é emprestada, como o abrigo do pequeno Jesus foi emprestado.
O termo Natal vem de "natalis".
Natalis é propriamente um adjectivo a significar - do nascimento, relativo ao nascimento.
“Natalis dies”, dia natal, isto é, o dia em que se deu o nascimento do Salvador.

Assim, pois, a expressão completa empresta o termo adjetivo para que este depois, sozinho, já cheio de prestígio semântico, traduza por excelência o dia do nascimento do Menino de quem diz o Novo Testamento (S. Lucas, II):

"E é que na cidade de David vos nasceu hoje o Salvador, que é o Cristo Senhor”

Costuma dizer-se que uma das grandes virtudes, senão a máxima, e a fundamental do belo poético é a admiração.
Pois Natal é a palavra que envolve admiração, admiração que atinge o êxtase nesse prodigioso contraste entre a grandeza moral (e por que não dizê-lo?), a grandeza divina de Jesus e a humildade terrena do lugar onde nasceu.

Admira-se a gente do que lê e do que ouve contar: ser o Salvador um menino envolto em panos e posto em uma mangedoura!
Admira-se a gente de que seja a mangedoura o único lugar hospitaleiro para um menino que era Deus!
De tudo isso nos admiramos, e de muito mais.

No entanto, Jesus, que tudo suaviza, até suaviza palavras, quais "mangedoura" e "presépio" e outras que se associam para relato das condições de Natal, palavra cuja leveza poética a tudo se comunica.
Calcule-se que “presépio” até chegou a significar, no latim (praesepium), lugar de devassidão.

Muito pode a poesia no soerguer do que é baixo…

A poesia divina do Natal vem dos longes do Tempo.
Mas, apesar do seu caminhar de séculos, apesar da influência modificadora dos ambientes desiguais de cada povo cristão, a essência da sublimidade mantêm-se nela.

O Natal é, assim, comemoração festiva, quer no templo, onde a liturgia pela brancura dos paramentos exprime o júbilo, o reconhecimento, o amor que o nascimento do Deus menino inspira, quer nos lares, onde há como que um renovo espiritual de paz e de esperança.

Em qualquer dos momentos, o familiar e religioso, é a alegria a característica essencial, porque no Natal é festa de anos que se celebra.  

... E é assim que em toda a Cristandade renasce, todos os anos, esta saudade-esperança dos que revivem em espírito o momento em que na cidade de David, em Belém, veio ao mundo Aquele que foi chamado o "Salvador".

Feliz “Natalis Dies”...

…E que o Menino Jesus continue a alimentar (bem lá no fundo de cada um de vós) a criança que um dia sonhou brincar com “um comboio de corda sem ser automotora”.


Carlos Fiúza

7 comentários:

Anónimo disse...

então n era ateu?

Anónimo disse...

Lido e relido mais este belo bouquet textual que Carlos Fiúza tão generosamente nos oferece e que se aplaude, leva-me, no entanto, a pensar que há 2020 anos (AC), por exemplo, que tipo de "natalis dies" nos ofereceria C.F. num hipotético blogue como este. Sim, porque naquela altura já a lua, nascida do silêncio que tece bailados e harmonias, dançava entre a terra e os astros ao sabor da música sideral... e a terra (que já eramos) segui-a em êxtase e até dava vertigens ao mar... sim, porque naquele tempo, já a virtude do belo era a admiração!... Então, nesta perspetiva, que "natalis dies" para um bouquet como este, ó admirável Carlos Fiúza?
No entanto e aproveitando este lapso de tempo (DC), desejo a toda a gente um sincero Natalis Dies!

h.r.

Anónimo disse...

Como é bom viver a época festiva do Natal comemorando-se assim mais uma vêz o NASCIMENTO DO MENINO JESUS.Que pena que as pesssoas só vivam o Natal uma vêz por ano e não o vivam todos os dias do ano.Assim é que devia ser,ajudando cada um com as suas posses aqueles que são os mais necessitados,os idosos que vivem na solidão,levar-lhes palavras de alento e carinho,os sem abrigo,os desempregados e procurar a pobreza envergonhada que infelizmente existe e muita.Assim sim,é que seria um bom Natal.Que o MENINO JESUS os ajude a carregar a sua cruz com resigação como ELE carregou a DELE.É para estes que vão estas minhas palavras.
L.

Anónimo disse...

AC/DC ou… Arte Expressional?

Muitas vezes se tem levantado problema, resumível nisto: para a cultura da Língua, que será preferível - estudar a linguagem popular ou a linguagem literária?

Uns apaixonam-se pelas belezas escondidas da expressão do povo e optam por este para fito dos seus estudos; outros extasiam-se diante da beleza artística das melhores páginas e proclamam a análise destas como o processo mais recomendável para estudo da linguagem do estilo.

Grandes investigadores e estetas como Rémy de Gourmont, Vossler, Sptitzer e outros ocuparam-se de tal problema com a mestria que todos lhes reconhecemos.

Mas, se lhes reconhecemos mestria, não somos obrigados a concordar em tudo quanto opinam unilateralmente.
Por isso, reconheço-me no direito de afirmar que o estudo amplo e profundo da Língua, quer seja feito por observação da fala de um analfabeto, quer pela análise estética da escrita de homem de letras, esse estudo amplo e profundo é que interessa à cultura da Língua.

Isto é, não parece razoável qualquer dos exageros: o de ouvir o povo e fechar os olhos à Arte literária, ou o oposto de nos apaixonarmos só pela literatura, cerrando ouvidos às graças e até às deturpações da loquela do povo.

Tudo interessa: um verso de Camões ou uma carta do “Joaquim da Rita”.
Tão interessante é o estudo da expressão artística de Garrett, ao cantar a saudade “gosto amargo de infelizes”, como a expressão não menos artística da mulher do povo que em carta escreve: “A nossa filha está boa. Eu menos mal. Roídinha de soidades, é certo. Mas hei de afugentá-las, alembrando-me que foste para aí, por môr dela e de mim, trabalhar”.

De estilo! Pois então?
E aqui vai mais um exemplo:
Há tempos certa publicação desta nossa capital do mundo da Língua portuguesa inseria um conto intitulado - Sonata de Outono, a qual “sonata” começava assim:
“A chuva caía emprestando à janela uma cortina de gotas cintilantes”.
Pois quando li esta monstruosidade estilística, lembrei-me destoutra saborosa dicção de uma mulherzinha de Vermoil:
“A neve não castiga hoje, mas ontem… Deus do Céu!”

Não sei se isto que acabo de dizer ofende algum escritor dos tais que, estragando a Língua, estão muito convencidos de que a Língua tem de “evoluir”… estragando-se.
Mas sei que o nosso povo analfabeto podia dar belas lições de expressão a muito escritor “consagrado”.

A/C (antes de Cristo) ou D/C (depois de Cristo), que interessa…? Ateu, ou não, que diferença faz à Linguagem se “a lua, nascida do silêncio que tem bailados e harmonias, dançava já entre a terra e os astros ao sabor da música sideral… e a terra (que já éramos) seguia-a em êxtase e até dava vertigens ao mar"?!...

Carlos Fiúza

Anónimo disse...

MENINO JESUS ABENÇOA todas as crianças em especial as mais carenciadas e aquelas que vagueiam pelas ruas estendendo a mão à caridade,encaminha-as para uma vida melhor.
L.

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo com C.F., relativamente à linguagem e à estilística. Tenho exatamente a mesma opinião. Quanto ao aspeto simbólico/religioso, isso já é outra música... e que nos ocuparia aqui muito tempo. Um bom Natal para Carlos Fiúza.

h.r.

Anónimo disse...

bom natal a todos

por favor .. mantenham a tradição

isso faz parte da nossa identidade

e para os falidos vanguardistas .. isso não quer dizer que seja à luz das nossas lanternas.. e lamparinas

alimentadas com o nosso azeite ,.. que os outros consideram o " melhor do mundo"

pode ser com as lampinhas chinesas

e a pagar à EDP chinesa...

só espero que não tenham de ir trabalhar 24 H e deixar os filhos dependurados nas árvores... por 25 tostões

........

Pensamento positivo ... mas realista... como diria o nosso vanguardista JLM

abraço

mario carvalho