14 fevereiro 2008

Historietas ao sabor da noite (O dr. Tchongla)

O "artista" costuma aparecer mais no povoado pelo verão. Gosta de subir o Marão e entrar no reino em carro blindado para que não lhe assaltem a mala dos troféus que gosta de exibir: letras de ópera bufa, claves de sol fora de sítio, livrinhos ininteligíveis do próprio punho e até... uma gaitinha de plástico que dá sons estridentes em lhe soprando com a beiça. Quem quiser vê-lo contente e inchado de sabedoria de bairro tripeiro é a exibir doutorices de psiché junto dos mais adolescentes, que o vão suportando com um bocejo disfarçado e o olhar perdido no castelo da fantasia.
Numa dessas noites quentes, o nosso "artista" foi assistir a um concerto protagonizado por três ou quatro aventureiros da sonoplastia, disfarçados na penumbra triste de uma praceta sem árvores e sem gente. Um desses músicos acompanhava a "fanfarra" com aqueles grandes pratos acobreados, presos por uma tira de couro em cada uma das mãos, pratos típicos de banda de aldeia ex-villa, pelo que sobressaíam, o figurante, o instrumento e o som, dos outros acordes esforçadamente mais brandos e harmónicos. Tal concerto não estava, visivelmente, a corresponder às expectativas dos escassos mirones assistentes que, desconsolados e feridos, começaram a manifestar-se ruidosamente, cada vez mais inquietos com o traseiro sentado nas cadeiras de plástico. Só o nosso "artista", apreciador e crítico nato destas coisas, de tão embevecido estava que começou a trautear e a bater com os tacões no granítico chão, embevecido, imitando o melhor que podia, as sonoras onomatopeias dos pratos e a cantarolar: tchongla! tchongla! tchongla" tchongla! e quanto mais forte os pratos batiam mais ele berrava: tchongla! tchongla! tchongla!...
Ora, sabe-se muito bem como nos povoados pequenos, ao mínimo pretexto, batizam (o "p" foi levado pelos brasileiros) logo um cristão inofensivo, por muito "artista" que seja e então, zás!, começaram a chamar-lhe em surdina, o dr. Tchongla! Ainda hoje, na tertúlia noctívaga dos cafés do povoado, quando se lembram do tal "artista" ou o vêem no simiesco deambular, exclamam com um ar maroto de gozo: "Ah, o dr. Tchongla! Mas que músico!...".

23 comentários:

Anónimo disse...

lá está o prof. helder rodrigues a apunhalar o jlm e o mesquita, os inetletuais que batiam o pé a ouvir o jaz. ai,prof. helder rodrigues e o senhor não era um dos mirones, uma das belhas do soalheiro? você è que me saiu um bom dr. tchongla.

j.

Hélder Rodrigues disse...

O nosso povo diz, e com razão, que "não se devem dar pérolas a porcos"!

h. r.

Teresa disse...

Mais um texto que dá gosto ler pela excelência da escrita...escrevessem assim uns quantos "Josés Rodrigues dos Santos" que menos livros venderiam, certamente, mas mais longe chegaria a sua escrita!

teresa nascimento

Anónimo disse...

Um belo texto. Parabéns

Anónimo disse...

Uma bela pintura de um retrato bem perto de nós.

Anónimo disse...

O que me parece é que o tal dr. deve incomodar muita gente, a começar pela inveja do mestre rodrigues que quer dizimar todas as pessoas que lhe mostram a sua pequenez e a acbar na do senhor das selores, que inaugurou agora aqui uma rubrica do jornal o crime ou do correio da manha. todas as tricas e futricas dos cafes, num retrato bem perto de nós.

luisa

Unknown disse...

Se isto é o que dizem e parece,referente a um espectáculo de jazz, realizado no largo do centro cívico,o que mais admiro é o facto de hr estar sempre do lado da cultura popular. Se isto constitui o exercício normal da sua veia literária, então admiro mais sinceramente o virtuosismo que todos lhe reconhecemos. Dito de outro modo,estilo literário - sim;conteúdo verrinoso( se acaso ele aqui está subjacente)- nem tanto.
JLM

josé alegre mesquita disse...

HR: Que bem o sabes fazer quando utilizas a arte da tua escrita para espetar a "farpa" certeira. Pena é que a tua participação não seja mais assídua, porque eu sei, nós sabemos que o teu engenho na arte da sátira é grande e como o Eça escreveu "muitas vezes,o riso é uma salvação ". Vamos rir, pois. Não são as luisas que nos metem medo, apenas receemos "os velhacos e os tíbios" e "nós não pertencemos nem a uma nem a outra das duas espécies".

Unknown disse...

Caro professor:
Essa sua amizade(diria, amor, se não se ofendesse), inesperada, por hr, só consolida em mim a ideia de quão " todo o mundo é feito de mudança".
JLM

Anónimo disse...

Estas mudanças, caro JLM, não serão herança da queda do muro?
Ou quanto mais fraco fico, mais preciso de companhia?

Anónimo disse...

Parabéns pelo excelente nível a que este blog Chegou.

Nota-se que precisa destas coisas... para fazer rir.

Rir da suposta intelectualidade.

Continuem... Para eu me rir. É a única coisa que me trás cá.

Anónimo disse...

muito riso ... pouco siso

Unknown disse...

Sr. Zundap: - Não há mal nenhum em que se ria. - No entanto, os blogues desempenham um papel relevante na sociedade e devemos agradecer o facto de estarem abertos à nossa participação,até anónima.
A luta faz parte da vida.Embora possa parecer o contrário , acho que,apesar de tudo e para além de tudo, devemos respeitar-nos uns aos outros.
JLM

Anónimo disse...

Sim doutor JLM, mas a superioridade moral do senhor josé mesquita já não é o que era. Se o único objectivo é rir de alguém, é feio. Apaixonado, o senhor josé mesquita deve andar um bocadinho mal esquecido. Foi o doutor JlM quem lhe lembrou “quão o mundo é feito de mudança” e a quem o senhor josé mesquita sugere de ser velhaco e tíbio. É o doutor JLM ou é você, que não se lembra do que escreve sobre uma pessoa e depois o que deixa escrever sobre ela? A farpa certeira até pode ser esta, mas isso implica que o senhor errou, o que é muito difícil de encaixar sobre a sua impoluta coerência.

mariana

Anónimo disse...

Vamos esfriar a cabeça. Estive no concerto de jazz até ao fim, o melhor a que assisti na carrazeda e quem gritava Tchongla foi uma senhora reformada que era contra o concerto. Não foi ninguém a favor. Não sei se tem muita lógica as histórias em que as características dos personagens a favor são feitas de caricaturas de quem estava contra.
NELSON

Anónimo disse...

Sape gato, então eu tinha razão. A perola helder rodrigues é que me saiu um bom tchongla..
j.

Anónimo disse...

Precisamente JLM,

Acho um "piadão" ao grosso comportamento da escrita fina.

Acho cómico que por detrás da escrita fina haja tamanha pequenez.

-O JLM não acha?

Unknown disse...

Sabe o que eu aho? Acho que o assunto está esgotado.
O VAV é apenas o VAV, o JAM é apenas o JAM, o HR é apenas o HR, o JLM é apenas o JLM.
Passemos adiante que as coisas não duram sempre e há outras à espera da nossa atenção.
JLM

josé alegre mesquita disse...

Fico feliz por alguns comentadores mostrarem um profundo conhecimento do meu percurso de vida e, verdadeiramente admirado, sobre a mudança dos meus gostos no que concerne aos fazedores de sátira.
Espanta-me ainda mais que me conheçam melhor que eu a mim próprio. É obra!
Há ainda outros que não se apercebem quão ridículos se tornam quando insistem na provocação a alguém que em nada os considera ou pela infâmia reles do anonimato ou pelo abuso de confiança de não saberem separar a conversa de foro privado do que deve ser público. "Muda-se o ser, muda-se a confiança"..."Do mal ficam as mágoas na lembrança"...porém, "O tempo cobre o chão de verde manto,",diz o poeta.
Mas que seria de nós, mesmo em tempo de carnaval. sem o juízo de catarse do "pai da fartura". O burgo estava mesmo a precisar de um "velho patriarca" para pontuar a polémica estéril. Bem hajam!

Unknown disse...

Mostra que sabe ser verrinoso,q.b..
Eu faço isto algo a brincar algo a sério. O sr. parece levar tudo demasiado a sério. Confesso-lhe, no entanto, que considero que estas disputas atingem, por vezes, algum nível. Sei que o sr. é muito mais exigente. Não sei se estará no bom caminho, no entanto. Descontraia, homem.Continua a ser, moralmente, demasiado rigoroso. Escusa de me responder porque sei que se determinou a não me passar cartão. Ainda assim,gostei de me ter apelidado de "velho patriarca".
Velho sou em idade, patriarca nem por isso. Mas não está mal congeminado.
JLM

Anónimo disse...

Logo que este "patriarca" não se transforme em Leónidas Brejnev ( não sei bem se é assim que se escreve) que viveu do outro lado do muro...

Anónimo disse...

Agora parem um pouco.
Abram alas e deixem passar o (velocípede) Sr. Zundap para que não se incline demasiado na curva...

Anónimo disse...

E o dr.Tchongla não chegou a dizer nada. Este Helder é pior que o outro:faz tudo para a desmoralização de Carrazeda.