26 janeiro 2008

A RESERVA DOS TRANSMONTANOS

AVISO URGENTE PERIGO DO INTERIOR

Os habitantes de Carrazeda foram testemunhas vivas de uma luta politica que nunca foi compreendida pela maioria dos seus habitantes. Habituados a viver à sombra das casas grandes que nas suas aldeias lhe garantiam trabalho e o sustento familiar para todo o ano – os denominados “Caciques” – viviam alheios às necessidades básicas como o direito a terem na aldeia electricidade, água, esgotos e boas estradas, homens e mulheres simples sem sonhos e ambições.
Com a chegada inesperadamente do 25 de Abril em 1974, a mudança de nome das Ruas da vila, onde o nome do Dr. Oliveira Salazar, foi de imediato substituído, com o apear – apressado a meu ver – da lápide de um antigo Presidente da Câmara que desempenhou com zelo e honestamente o seu cargo, o povo reagiu e reagiu mal a tanta mudança, castigando os Revolucionários que viveram intensamente esses dias que se seguiram.
Ao poderem fazer ouvir a sua voz em eleições livres e democráticas, o povo de Carrazeda, sempre castigou os Socialistas e o socialismo e pelo contrário beneficiou o partido da direita –CDS- mais tarde também os dirigentes deste partido ao efectuarem uma coligação com o partido – PPD – por desentendimento ou outras causas, os centristas auto-excluíram-se e hoje estão como os socialistas, com vontade mas sem esperança do regresso ao poder, resta ver o tempo passar.
Carrazeda de Ansiães, na década de 1990 já era um concelho adiado. Foram muitos anos desde Abril de 1974, em que nada mudou. Infelizmente nem o nome das Praças e Ruas se manteve, assim como os políticos caseiros eram escolhidos pelo passado dos seus progenitores e também porque filhos de doutores, olhando ao ditado popular que “- Filho de peixe sabe nadar” – mas na prática e na política este aforismo não se concretizou, como deu origem à sucessão, passando os responsáveis pelos destinos do concelho a serem escolhidos por substituição e passados uns meses, legitimamente pelo voto em eleições livres e democráticas.
Não vou falar da inexistência da indústria, ou dos acessos rodoviários .Nem do IC5, que os sucessivos Governos vêm prometendo e muito menos da Barragem de Foz Tua, com as contrapartidas económicas e financeiras que daí vinham para todo o concelho.
Vou prestar sentida homenagem a um Amigo que Deus levou e referia-se na época a Carrazeda como “Mais tarde este concelho, não passa de uma reserva de índios”. Na verdade, em pleno século XXI, em Janeiro de 2008, quando confrontado com a notícia de que: - Na aldeia de Castedo do concelho de Alijó, um homem faleceu com ferimentos graves e só foi socorrido, passado 2 horas após pedir ajuda ao 112. A emergência médica INEM de Vila Real faz a versão dos factos à sua maneira, os Bombeiros de Favaios e de Alijó, também argumentam em sua defesa, e os factos aqui ficam o homem morreu – paz à sua alma- e somente 2 horas da ocorrência apareceu o socorro.
O concelho de Alijó é vizinho do concelho de Carrazeda, se fosse numa das aldeias do nosso concelho o caso era diferente? Têm os nossos Bombeiros meios de socorro para actuarem nestes casos?! Aqui há uns anos atrás uma senhora desmaiou em Carrazeda na Rua, eu e outras pessoas presentes chamamos os Bombeiros locais, dizendo estes para solicitar o médico através do 112 e lá atendeu o 112, com um rol de perguntas crónicas, do género, que idade tem a senhora, está viva, coloquem uma travesseira debaixo da cabeça, qual a Rua onde se deu a ocorrência, a identificação de quem está a pedir auxílio e mais isto e aquilo, o tempo suficiente para a paciente retomar os sentidos, após a ingestão de um pouco de água na presença de um clínico que passou pelo local, mais tarde 30 minutos apareceu o carro do INEM.
São os custo da interioridade ó senhor Alberto João Jardim? Nós transmontanos temos todo o direito de pedir auxílio para viver no interior, temos direito a seremos compensados, porque doutro modo, os heróis vão para o litoral, onde na falta do Aeroporto na Ota, dão dinheiro para outros fins e incentivos e nós?!!
Aqui para nós. Quem tem casa no Porto ou arredores, vai viver para lá. Há quem tenha seguros de vida, contratos com clínicas privadas, e outros meios para salvar a pele – mas também morrem quando chega a hora.Quem pode foge e se a desertificação das nossas aldeias já é hoje um problema, com estas ajudas externas do Governo, sem ambulâncias e outros meios, sem urgências ou médicos, vamos confiar na sorte e no ar puro que ainda vamos tendo? Isso é suficiente? Não acredito que o amor à terra, seja razão suficiente para dizer que vale a pena continuar a viver na reserva e esperar pelo Verão, quando chegam os filhos, os turistas e os curiosos que sorriem para as condições de vida nesta reserva de índios , verso cidadãos transmontanos .

4 comentários:

mario carvalho disse...

Segundo dizia Guerra Junqueiro, já fomos assim...

Mas, felizmente, hoje a malta é outra...

“ Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896

Anónimo disse...

"Quando o mal não é morte, todo o socorro chega a tempo !". O conflito deve-se à duplicação de meios: o INEM e os Bombeiros. Mas existe uma grande diferença: Os Bombeiros respondem a TODOS os pedidos de socorro... o INEM perde-se em perguntas futeis e só assegura meios se, subjectivamente, considerarem que se trata de "casos graves".
Está mal ! Eu posso estar mal disposta e transmitir que tenho sintomas de um ataque cardíaco e...sou atendida. Mas também posso estar a desenvolver um ataque cardíaco e transmitir que me sinto indisposta e ... não sou atendida. Penso que só um médico, em contacto com o doente, pode avaliar da sua saúde ou da sua doença. E tenho a certeza que, se um dia precisar não ligo 112... ligo Bombeiros, mesmo que tenha que pagar a viagem ! Isto é só a opinião de quem vive a 40 Km da VEMER mais próxima e a 2 Km dos Bombeiros.

mario carvalho disse...

http://tribuna-publica.blogspot.com/2007_05_01_archive.html


Por falar em povo ... vale a pena ver

mario carvalho disse...

o filme está em

http://www.youtube.com/watch?v=Tya2US0k9Rg&eurl=http://tribuna-publica.blogspot.com/2007_05_01_archive.html