06 dezembro 2007

Conto de Natal

Era uma vez um reizinho que vivia no seu reino, feliz e contente. Habitava num lindo palácio, rodeado de mordomias e ostentação. Tinha lindos coches, e era neles que se deslocava pelo reino, com o seu séquito de viscondes e viscondessas, marqueses e marquesas, almoxarifes e ordenanças. O povo miserável que trabalhava, vivia sonhando com o céu, já que não o tinha em terra.
Como sempre acontece havia classes diferentes neste reino. No caso, o que diferenciava as três castas que havia, era o facto de uns serem considerados bonitos – e estes eram os privilegiados, e outros serem considerados os feios.
Não se sabe porque razão, havendo quem dissesse que tinha sido praga, mas havia também muitos deficientes visuais, estes pertenciam à classe dos cegos, eram os mais desprotegidos porque não só não sabiam se eram bonitos como também não conseguiam labutar e defender-se como os restantes, porque acumulavam o "defeito" de serem invisuais.
Um dia o rei mandou fazer um outro caminho que desse para se chegar ainda mais rápido ao seu palácio. A obra progrediu com muito esforço do povo trabalhador. Sempre que se acabava uma obra, era uma festa, estouravam foguetes e havia música no ar. O povo ignorante rejubilava de contente sempre que atingia o propósito que o soberano lhes impingia.
Como de costume teriam de ser, o rei e o seu séquito, os primeiros a fazer o percurso em cerimónia inaugural. Com os muitos afazeres, nunca mais se tinha tempo para se proceder a esta cerimónia. Quebrar este protocolo era expressamente proibido.
Houve contudo um súbdito, da casta dos humildes ceguinhos, que se propôs quebrar as regras e, decidiu ele próprio experimentar antecipadamente o percurso. Teve azar.
Como lhe tinham dito que a estrada não tinha curvas ele acreditou na mentira e seguiu sempre em frente. Foi tal o desastre que ainda hoje se não sabe como não morreu. Quando conseguiram fazê-lo chegar ao hospício já nada havia a fazer. Iria ficar entrevado para o resto da vida.
O reizinho ficou muito irritado e enfurecido quando soube que lhe tinham tirado o protagonismo e não quis perdoar ao transgressor.
Perante a infelicidade daquele homem, mobilizaram-se os amigos que não compreendiam como o monarca, que tinha previsto organizar uma grande festa para a inauguração do caminho, não se propunha agora ajudar o seu triste súbdito.
Depois de muito se falar, conseguiu-se que o rei, por vergonha, mandasse um emissário dizer que ofereceria uma esmola de ajuda ao entrevado.
Ficou este mais feliz e, todos se penitenciaram das conjecturas maldosas e se convenceram da bondade soberana.
Entretanto o rei despótico, ensimesmado e irritado com a coacção psicológica que lhe tinham feito passar, tratou de ir encontrando pretextos para si próprio, com vista a jamais enviar a esmola que tinha prometido.
Chegou então o Natal, época de paz e reconciliação, sem que se cumprisse o editado. Foi a altura escolhida para uma delegação de súbditos se dirigir ao rei para pedir piedosamente o cumprimento da promessa. Este recordou mais uma vez a falta de verbas e a urgência em gastar as que existiam, na iluminação do palácio, na decoração dos jardins e no pagamento aos trovadores, arlequins, saltimbancos e bobos que acostumavam no palácio.
E a comitiva regressou com as mãos a abanar.

(Chegou a altura de encontrar um fim para este Conto de Natal.
Na tentativa de se procurar interactividade e, porque se deseja um final feliz (ainda que provisório), convidam-se os leitores a escolher uma das duas conclusões que se acrescentam.
1- Um dia já descrente na ajuda o homem entrevado decidiu jogar no totoloto. E não é que lhe saiu o primeiro prémio!
E assim, apesar da sua condição, pôde ser feliz e ajudar outros a sê-lo.

2- Uma noite, não se sabe se a dormir ou acordado, o homem entrevado teve um sonho. Sonhou que tinha aprendido a ver e a levitar. E não é que quando acordou conseguiu voar liberto em todas as direcções!

E a vida prosseguiu naquele reino onde se continua à procura de ganhar o céu.

5 comentários:

Teresa disse...

Bom dia!

Voto no 1º final, sempre é mais próximo do povo português.

Beijinho

Teresa

Anónimo disse...

Bom dia!
Prefiro o 1º final, assim sempre pode ajudar os outros a terem mais um pouco.

Anónimo disse...

Podermos voar libertos em todas as direcções é o melhor que a vida nos dá !
E mesmo com este Rei, devemos voar e conquistar a nossa liberdade...!

Anónimo disse...

Meu caro amigo "Povo ignorante", será que V. Ex.ª tem espelhos?

Deixe de uma vez por todas os Carrazedenses sossegados. Será que não dá para perceber que esta Gente não quer nada com você nem os mais chegados.

Consulte um médico especialista, quanto mais não seja para o ajudar nas suas frustações.

Um abraço Carrazedense.

António Lopes

Anónimo disse...

Este TONHO Lopes é mesmo uma lástima!
Como é que ainda há gente desta!