06 setembro 2006

Educar ainda é possível

Um novo ano escolar começa com o bulício de milhares de alunos, a perplexidade e a desilusão de muitos professores, a preocupação e a meia indiferença de muitos pais, as interrogações de gente atenta aos problemas do país, mormente aos da educação.Alguém que de há muito me habituei a ler, porque sei que fala do que sabe, do que pensa, do que o preocupa, e é perito nestes assuntos, escrevia há pouco: “A figura do educador não existe, porque desapareceu também a figura pessoal do educando, reduzido a aprendiz de saberes positivos, de conteúdos objectiváveis e de técnicas que o preparam para uma profissão de futuro”. A ser assim, onde está a formação para que um aluno possa existir e afirmar-se como pessoa?
Não é difícil verificar que, em tais condições, ninguém perde tempo a compreender-se e a assumir-se como formador ou educador, preferindo recolher-se no seu mundo próprio e reduzir-se à condição de simples técnico de um saber. Esta desilusão, mais ou menos generalizada, dos professores pode dizer-se que é o sintoma mais grave da crise moral de um país. Uma desilusão que não tem apenas por detrás razões profissionais, por pesadas que sejam, mas, dado o papel da escola, a consciência de uma missão social fundamental que não se pode realizar de modo normal, tantos são os entraves de dentro e de fora e as mil dificuldades diárias que encontra quem deseja fazer, com competência e seriedade, algo que seja consequente e positivo na vida dos educandos.
Há nisto tudo um problema velho que se agravou, de que não se fala e que continua a criar dificuldades em ordem à educação escolar. Não é apenas problema nosso, porque outros países o sentem e já sofrem por não se ter resolvido. Em anos de democracia pacífica, em que muita gente determinante se pôs de acordo sobre coisas importantes da vida nacional, não se encontrou ainda um consenso em matéria educativa. O que é educar e quais os melhores modelos educativos? Qual o lugar dos pais e do Estado em tão importante tarefa? Quem mantém como básico o princípio da igualdade na educação e o da personalização? Quem defende uma educação centrada na pessoa e ao serviço da sua realização própria com tudo o que isto significa? Como se situa a escola nisto tudo?
Os que defendem um ensino igual para todos e consideram a sociedade o lugar fundamental para esta tarefa, não chegam a entender-se por razões antropológicas, fundamentadas em diversos conceitos de humanismo, político-partidárias, eivadas de preconceitos religiosos e sociais, razões ideológicas, mutiladoras da pessoa, da democracia e de uma sociedade de pessoas livres e, por isso mesmo, do futuro. Também chegou cá, com cheiros de actualidade, o slogan da “escola única, pública e laica”. Um retrocesso de séculos, que nega o presente e fecha as portas ao futuro.
Detrás das palavras existe uma concepção filosófica, uma visão antropológica, um projecto de sociedade, uma política e um modelo educativo, que impedem uma educação para este século. A educação não pode deixar de assentar em valores morais e éticos, os únicos que estruturam interiormente pessoas livres e responsáveis. Quem tem coragem e poder para fazer repensar aspectos essenciais da educação?
O ano escolar que começa tem muitos problemas e escolhos, uns fáceis de aplanar e de remover, outros não tanto, porque se cruzam os interesses, em vez de se somarem os esforços. As preocupações políticas cifram-se agora em arrumar a casa, não se apercebendo, ou não querendo aperceber-se, de que o alicerce desta não tem consistência e os seus muros estão a ruir. Todos podemos ver que assim é.
Educar não é o mesmo que distribuir computadores a torto e a direito ou calar os professores. Porém, o Ministério chama-se da Educação. De qual? Há que dizê-lo, para que nos comecemos a entender, a dar sentido à escola e esperança ao país.

Dartaga

1 comentário:

FEBC disse...

O problema da educação em Portugal é um problema de diálogo: ninguém se ouve!

Mas este problema estende-se também aos intervenientes do diálogo: quem fala e quem deve falar com quem, e é aqui que devemos procurar uma solução!

O diálogo sobre a educação é travado entre Pais (pouco sonoros: as escolas são o sitio onde estão os filhos durante o trabalho), Alunos (Silenciosos: comem e calam), Professores (com demasiados problemas para pensar nos alunos) e Ministério (manda e desmanda sem saber o que é a Educação).

Pois bem, a minha opinião é que faltam dois ou três intervenientes de força: Empresas, Ministério da Ciência e Ensino Superior e Sociedade em geral (grupos sem participação normal nestas discussões).

Porquê estes intervenientes? Porque a Educação não é só aprender a ler e a escrever, a Educação tem um papel no desenvolvimento pessoal e humano. A Educação tem uma função democratizadora de incentivo a participação. Estas funções são esquecidas por aqueles que decidem sobre educação, porque estes apenas se interessam pelo que se passa dentro das salas de aulas, e pouco pelos efeitos no exterior.

As empresas devem intervir e dizer que: Não interessa a nenhuma empresa do “novo mundo” um indivíduo que não saiba pensar, mesmo que ele saiba fazer alguma coisa!
As Universidades devem avisar que o conhecimento não é estanque e não garante carreiras, apenas prepara pessoas que podem (ou não) construir uma carreira.
A Sociedade tem que dizer que temos de procurar algo que gostamos acima de qualquer procura desesperada de emprego, se formos bons no que fazemos dificilmente passaremos fome!

A Educação é um bom motivo de conversa… falemos de educação…