24 agosto 2006

“Fogo é coisa que arde sem se ver...”

Mais uma vez e relativamente aos incêndios deste Verão, a culpa afinal não foi dos responsáveis que definiram as estratégia nem da falta de meios de prevenção colocados ao dispor.
Mau era se fosse possível apurar os responsáveis. Recordo-me do caso da queda da Ponte de Entre – os – Rios em que ainda hoje não percebi porque é que perante a calamidade o Sr. Ministro A. Coelho se demitiu. Teria sido por ter assumido a responsabilidade? Então porque é que depois não foi a tribunal! A Ministra Leonor Beleza teve mais azar, no caso dela. Seria para dar o exemplo de que, mesmo não tendo uma responsabilidade directa, teria a responsabilidade moral e então, deveria ceder o lugar a alguém mais competente para resolver o caso a partir dali? Vá lá que o exemplo não foi seguido, pois qualquer dia não teríamos ministros para nos chefiarem.
Mas sobre o “ Festival dos incêndios” como alguém já lhe chamou, gostaria de colocar algumas questões concretas. Primeiro que tudo sou dos que sabendo da negligência, incúria e falta de meios que nos caracteriza e estou certo de que o martírio irá continuar.
A primeira questão que coloco é esta: - Já alguém estimou ou conseguiu prever o verdadeiro prejuízo que acarreta para todos este flagelo! Já alguém contabilizou os gastos, os desequilíbrios ecológicos e patrimoniais, os investimentos feitos na prevenção? Se este trabalho estivesse feito seria só comparar e concluir se valeria o esforço de nos preocuparmos mais na preservação da floresta. Ficava-se então a saber por quanto ficam ao país as infraestruturais, as mordomias, os equipamentos e os salários dos cerca de 50.000 bombeiros que este país possui e que sustenta todo o ano. Já agora e embora sabendo da especificidade do seu trabalho, não valeria a pena tentar dar formação aos nossos 50.000 bombeiros para aprenderem também a fazer limpeza da floresta que pertence ao Estado! Podia ser um bom entretenimento desde que devidamente pago, durante o período sem fogos.
No caso dos particulares, ficávamos também a saber se haveria condições económicas que permitissem que estes fizessem a limpeza da floresta e tivessem assim possibilidades de cumprir a lei. Provavelmente até talvez se chegasse á conclusão de que os militarias poderiam ser úteis ao país por exemplo a vigiar as nossas florestas ou a ajudarem também na sua limpeza. E que dizer daqueles desempregados a quem pagamos o subsidio de desemprego!? Já agora é curioso recordar as equipes de trabalhadores chilenos que aqui ganham o seu pão, a trabalhar como bombeiros e dos quais recentemente, alguns foram atingidos pela tragédia dos incêndios. Afinal se calhar até seria possível potenciar para o país esta matéria-prima que são as nossas florestas, mas tínhamos que ser planeados e rigorosos na execução e isso é aquilo que não sabemos ser, nem parece haver ninguém capaz de nos ensinar. No limite conseguiríamos contribuir para um país mais auto-suficiente em matérias-primas, mais rico em potencial turístico, mais equilibrado ambientalmente, mais belo em património paisagísticos e mais próximo do valor e riqueza que nos foi deixado pelos nossos avós.

Hélder Carvalho

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