24 janeiro 2006

João Peste: suA Palavra é um vírus (2)

Após as reacções + ou - acesas sobre a publicação no blogue de extractos da acta da conferência de João Peste Guerreiro ao ISCTE que estivera para sair na 'Palavra é um vírus', revista de — posso dizer? —, 5 violinos: Rui Lopes, Kin Zé Ribeiro, Jota, Pedro Cordeiro, além de mim próprio, ao Espaço Exterior, com raízes ou afinidades a Carrazeda... E que só pela publicação se ficar pelo 3º número, não obteve seguimento... Há que prestar o seguinte esclarecimento:

1. O João iria adorar esta polémica — pelo lado provocador da sua actuação... Lembro que na entrevista prévia ao mestrado em Sociologia, quando lhe foi pedida apresentação, disse: Bond, James Bond...
Embora eu pense que o texto da conferência é muito mais simples do que as referências implícitas nas suas canções. Aliás, o conceito de gosto e des_
gosto, que é _ falta dele, todo se estrutura em torno do conceito de 'habitus', proposto pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu. E que consiste em dizer que o meu gosto surge motivado por todo-processo de construção da minha personalidade. O meu amigo, dr. João Lopes de Matos, centraria no cromossoma tal & tal, e eu acrescentaria: o contexto tal e todos os outros que tais — os que falam em mim, quando digo... Eu é todos vós, _ _ que são e foram em mim.

2. Não vou tão longe como o Peste Guerreiro, com o sociólogo Paquete de Oliveira, quando avança pelas ‹‹assimetrias cada vez maiores entre as hordas selvagens cada vez mais alienadas e analfabetas, por contraposição às elites››.
Como assim, Peste não se quer fotografado na rua, por exemplo...
Mas aqui, ao caso, me parece que ‹‹a ditadura cultural›› assinalada por Paquete de Oliveira é das pessoas que querem nivelar tudo a seu mundo, pequeno ou grande, impedindo desse modo ‹‹a revolta dos escravos›› (ainda Paquete de Ol...).

3. A mim, particularmente, não me interessam as polémicas, mas sim (cito o poema 'A vida' de João Lopes de Matos, citando os Evangelhos — o amor pelo próximo), no reparar da importância dos outros para a comunidade e, como Deleuze: a diferença, que só ela é, logo há que respeitá-la. Que, para mim, se não entendo o Outro, o problema não está nEle mas em mim. Sou eu que não tenho olhos, células, nariz, ouvidos para ler, escutar (n)o que me é proposto. Sou eu que tenho de fazer _ esforço para lá chegar... E ocupar o lugar de leitor, (acompanhado por amigos, net, enciclopédias, dicionários...), sem a diagonal a que nos submete a ditadura de certos textos _ _ tipo chiclete.

4. E nem são os meus, senão parcialmente, os gostos de Peste: por exemplo, nunca fui tocado (nem sei falar) sobre o guarda-roupa de Jean Paul Gautier e Grace Jones, e sobre as actrizes destacaria outras (já sobre os actores nem nunca falaria de beleza...): Liv Ullman, Isabelle Huppert... Mas nem isso interessa, porque não estou em causa — só para afastar de vez a autoria do texto da con_
fusão estabelecida com o meu nome, pois através de mim, Ele falou. Finalmente, acho que há textos para várias camadas — como direi? —, arqueológicas, pelo que nenhuma deve calar a outra, obrigando-a a normalizar sob um só registo. Por isso, agradeço a Mota, a um Zero Amarelo e a Rita Tormenta as suas intervenções que, mais do que em minha defesa, são na defesa da diferença.

5 - Mas agradeço, sobretudo, a Zaratustra, que tudo veio desencadear... Que, pelo visto, me ‹‹adora››, embora ‹‹os jovens me não entendam››... Os do meu tempo, tão-só! Como se o Kin, o Jota, o Pedro Cordeiro, o Rui Lopes, só para citar os meus companheiros na Palavra é um vírus, não fossem (ainda) na casa dos vinte... Mas será como tudo — haverá jovens de 10, 20, 30, 50, 60, 70, até de 80, como o senhor Joãozinho Sampaio ou os saudosos (grandes senhores) Filipe Lobo e Joaquim Morais, que sempre nos vão entendendo e outros que não. E o tipo de linguagem como estratégia de comunicação não será o único obstáculo — que se podem erguer outros ruídos, todos de um 'habitus' (passado) como diria _ João Peste, pela sintonia de frequências (digo: lugares) diferentes — que nos selecciona(ra)m, desde o berço, por temas e cores — se os retratámos a preto ou a branco... Ou num blue...

6. É que, e agora dirijo-me ao original Zaratustra — faz parte da condição humana: na teoria do zoroastrismo, ou noutra qualquer monoteísta, quem adora a um Deus — está inteiro no seu amor —, ou fica ocupado por que outros não compreendam a sua ligação? Pois quando alguém diz eu gosto, mas outros... não está a pensar numa extensão de si próprio? Se não, porquê a adversativa?, o obstáculo ao seu inteiro amor?, por que se detém na divisão em espíritos: bom e mau! Assim falava Zaratustra... Mas eu, (metaforizando), claramente, prefiro o bom velho politeísmo.

7. E uma das coisas que me deixa mais feliz é quando vejo do outro lado — o assombro, mesmo que seja por eu estar em Marte. Por isso, não tenha(m) receio de assumir a vossa diferença relativamente a mim. Como diria João Peste, revelem o vosso gosto e cumplicidade ou o grau de dificuldade e distância do texto, sem nenhuma espécie de alibi — o Gosto dos Outros, a não ser que este seja o excelente filme de Agnés Jaoui. Pois só assim seremos inteiros na verdade. Um abç.

vitorino almeida ventura

1 comentário:

Administrador disse...

gosto, mas outros...(ponto 6)

w,

Não concordo contigo.
Qualquer atitude ou pensamento, é na minha consciencia uma ambiguidade. separada por um MAS. Tenho tantas dúvidas que não sei o que é o egoísmo.
Se uma atitude para o bem individual ou colectivo...Porque acredito que estou bem se os outros estão bem. Porque acredito que se eu estiver bem os outros estarão bem.

Daí eu às vezes gostar da massificação, da comunicação. Mas. Sei que se perde a riqueza da diversidade, da autenticidade e dos pequenos prazeres do luxo.