14 fevereiro 2005

Dia dos Namorados

A par de Camões, João de Deus é um dos grandes poetas portugueses do amor.

AMOR
Não vês como eu sigo
Teus passos, não vês?
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono, talvez!

Ao pé de uma fonte
No fundo de um vale,
No alto de um monte
De vasto horizonte,
Sem ti, estou mal!

Sem ti, olho e canso
De olhar, e que vi?
Os olhos que lanço,
Acharem descanso,
Só acham em ti!

Os ventos que empolam
A face do mar,
E as ondas que rolam
Na praia, consolam
Tamanho pesar?

As formas estranhas
Das nuvens que vão
Roçando as montanhas,
Em ondas tamanhas,
Distraem-me? Não!

A pomba que abraça
No ar o seu par,
E a nuvem que passa,
Não tem essa graça
Que tens a andar!

Parece o pezinho
De lindo que é,
Ligeiro e levinho,
O de um passarinho
Voando de pé!

O rosto há em torno
Da pálida oval,
Daquele contorno
Tão puro, o adorno
Da auréola imortal!

Não sei que luz vaga,
Mas íntima luz
Que nunca se apaga,
Me inunda, me alaga,
Se os olhos lhe pus!

Eu amo-te, e sigo
Teus passos, bem vês!
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono, talvez!
João de Deus

Sem comentários: