AMOR
Não vês como eu sigo
Teus passos, não vês?
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono, talvez!
Ao pé de uma fonte
Ao pé de uma fonte
No fundo de um vale,
No alto de um monte
De vasto horizonte,
Sem ti, estou mal!
Sem ti, olho e canso
Sem ti, olho e canso
De olhar, e que vi?
Os olhos que lanço,
Acharem descanso,
Só acham em ti!
Os ventos que empolam
Os ventos que empolam
A face do mar,
E as ondas que rolam
Na praia, consolam
Tamanho pesar?
As formas estranhas
As formas estranhas
Das nuvens que vão
Roçando as montanhas,
Em ondas tamanhas,
Distraem-me? Não!
A pomba que abraça
A pomba que abraça
No ar o seu par,
E a nuvem que passa,
Não tem essa graça
Que tens a andar!
Parece o pezinho
Parece o pezinho
De lindo que é,
Ligeiro e levinho,
O de um passarinho
Voando de pé!
O rosto há em torno
O rosto há em torno
Da pálida oval,
Daquele contorno
Tão puro, o adorno
Da auréola imortal!
Não sei que luz vaga,
Não sei que luz vaga,
Mas íntima luz
Que nunca se apaga,
Me inunda, me alaga,
Se os olhos lhe pus!
Eu amo-te, e sigo
Eu amo-te, e sigo
Teus passos, bem vês!
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono, talvez!
João de Deus
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