24 junho 2014

Encerrar escolas porque sim

Ninguém duvida que a intenção do Governo através do Ministério da Educação de encerrar mais uma vez escolas em muitos concelhos, tem uma forte repercussão nas dinâmicas sociais e educativas do interior do país e, particularmente, nas áreas rurais. Diz-nos o senhor ministro que “a reorganização [escolar] não tem custos diretos para o Estado”, querendo referir-se aos financeiros, e o que verdadeiramente o move, é “dar melhores condições de educação e sociabilização aos alunos”. Também ficamos a saber pelo organismo que dirige, que o processo está a ser alvo de uma avaliação, embora não seja impeditiva da prossecução desta “política de racionalização”. Não será então estranho e desarrazoado que se aja antes de se avaliar?
Na defesa do encerramento e da concentração de crianças, enfatiza o senhor ministro Crato, que esta crianças intervencionadas e assim reunidas adquirem “uma diversidade de experiências” que lhes permitirá melhor socialização e conhecimento, porém, esquece outros fatores propiciadores do sucesso educativo, como sejam, as horas de sono das crianças, a alimentação e o afastamento da família e do meio social e ambiental.

A concentração das crianças fruto de uma contínua baixa da população escolar resultado do despovoamento e da natalidade, tornou em muitos casos inevitável o processo. Porém este é um assunto demasiado sério que não se compadece com precipitações, com políticas de régua e esquadro, em que é visível uma uniformidade de ratio professor/aluno, não contemplando assim realidades diferentes do meio rural e o urbano.  

O plano de reorganização da rede escolar começou em 2005 e propôs-se encerrar todas as escolas do primeiro ciclo com menos de 10 alunos, tendo a primeira fase encerrado mais de 2500 escolas. A segunda fase começou em 2010 e levou ao fecho de 700 escolas com menos de 21 alunos. Este é a fase três de um processo, que começou por incluir 439 escolas, chegando-se agora às cerca de trezentas escolas do primeiro ciclo que têm de encerrar. Os avanços e recuos nalguns municípios são, até para um observador menos atento, fruto de beneplácitos e intransigências político-partidários, o que inquina todas as ditas intenções bondosas do ato. Este é um processo, que parece não ter fim, e conduzirá ao completo desmantelamento das estruturas escolares no interior do país.


A escola, a par de outros equipamentos, é uma valência fundamental na preservação do mundo rural e é primordial que restem algumas, até para que nem todas as aldeias ou vilas se extingam.

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